A Prefeitura de Goiânia reforçou a política de combate a imóveis abandonados que se transformaram em pontos de uso de drogas e violência. A gestão municipal iniciou a derrubada de estruturas conhecidas como “mocós”, utilizadas como abrigos precários, focos de tráfico e locais de risco para moradores em situação de vulnerabilidade. A medida integra uma força-tarefa realizada em parceria com a Polícia Militar e a Defesa Civil.

O secretário municipal de Eficiência, Fernando Peternella, em entrevista ao Jornal Opção, detalhou o funcionamento da ação e os riscos identificados. “Para identificar esses locais de risco, esses mocós, é só ligar na PM. São os locais que mais tem homicídio, que mais tem saqueamento, briga, tráfico de drogas. Eles usam essa nomenclatura Mocó, né? É onde tem as ocorrências da polícia militar hoje em Goiânia. Principalmente agora que com a legislação, que as distribuidoras de bebidas estão fechando à meia-noite, então assim, já diminuiu muito a quantidade de assassinatos, de brigas”, explicou.

Segundo Peternella, o quadro de insalubridade encontrado em alguns desses espaços impressiona até mesmo os auditores fiscais. Ele relatou a experiência da vistoria feito no banheiro da Praça do Trabalhador. “Eu até cheguei perto para entrar ali no banheiro e de longe você não suporta o cheiro. Eu fiquei com dó do Auditor Fiscal, o Gilmar, que teve que entrar, porque você tem que entrar para ver se não tem ninguém lá dentro. No segundo que ele saiu ele vomitou, ele não deu conta, e ele é forte”, contou.

Ainda de acordo com o secretário, os imóveis demolidos não são residências regulares, mas espaços utilizados apenas para prostituição e consumo de drogas. “Nesses mocós não tem moradores, não. Eles usam isso aí só para usar droga, porque não tem condição de você morar dentro de um local desse, o mau cheiro, nossa, é terrível. Então, assim, ninguém mora nesses locais”, completou.

O secretário também relatou que, em algumas operações, encontram pessoas dormindo do lado de fora dos imóveis. “Na hora que nós chegamos lá na casa para demolir, tinha uma mulher dormindo lá na varanda, até estava lá fora da casa, que lá dentro é impossível, mau cheiro muito grande, eles usam como se fosse um banheiro mesmo também. Então ela estava dormindo, mas ela não era moradora, ela só consumiu droga e amanheceu lá, depois que amanhece eles vão para outro canto, eles não ficam lá”, disse.

Estruturas demolidas

O primeiro alvo foi um banheiro público desativado, localizado na Rua 68, em frente à Praça do Trabalhador, que por anos atendeu feirantes da Feira Hippie, mas estava degradado e servia como ponto de prostituição, consumo de drogas e armazenamento de materiais ilícitos.

Banheiro público na Avenida Independência com a Rua 68 foi demolido pela Prefeitura de Goiânia | Foto: Alex Malheiros

Durante a ação, o prefeito Sandro Mabel destacou a prioridade de extinguir ambientes sem utilidade social e com alto índice de criminalidade. “Nós vamos começar a derrubar os mocós que tem em Goiânia. Nós temos várias áreas como essa, um banheiro abandonado, uma construção que está totalmente perdida e condenada. Aqui só serve para morar traficante”, afirmou em vídeo publicado nas redes sociais.

Além da estrutura na Praça do Trabalhador, outro imóvel que já havia entrado na lista foi um sobrado antigo na Rua 233, no Setor Universitário, demolido na quarta-feira, 1º. O prédio estava condenado pela Defesa Civil, representava risco de desabamento e era utilizado por pessoas em situação de rua e traficantes.

Estrutura derrubada no Setor Universitário | Foto: Divulgação

As operações, entretanto, seguem um trâmite legal antes da derrubada das estruturas. A prefeitura notifica previamente os proprietários, exigindo providências de limpeza e fechamento do lote. Apenas quando não há resposta é que o poder público assume a demolição, com base em laudos técnicos que comprovam o risco de desabamento.

“Quando a prefeitura chega a demolir é depois de um processo administrativo onde o proprietário não tomou nenhuma atitude. Para evitar uma morte, que vai ser uma casa desabando, a prefeitura toma essas atitudes”, detalhou Peternella.

Nos casos de imóveis públicos, como o banheiro da Praça do Trabalhador, a responsabilidade é integral da prefeitura, que não precisa acionar proprietários. Já nos privados, cabe ao dono do terreno fechar e limpar o espaço após a demolição. A Comurg é responsável por recolher os entulhos e encaminhá-los ao aterro sanitário. 

A parceria com a Polícia Militar tem sido considerada fundamental no processo, já que os relatórios da corporação indicam onde estão concentradas as ocorrências criminais. “Hoje, praticamente, nós somos guiados mais pela polícia militar, porque eles têm os relatórios de onde tem maior boletim de ocorrência, maior problemas. Semana passada nós fizemos uma operação junto com a PM, ali na região do Terminal do Dergo, que ali também o tráfico de drogas é muito grande”, pontuou o secretário.

Segundo Peternella, muitos telhados e paredes estão em colapso. “Essa casa que foi demolida, o telhado dela já estava encurvado. Hoje a hora que o trator encostou, já caiu metade. Então, é um risco que essas pessoas usem drogas lá dentro. Uma casa dessa desaba, se lá dormia 15, 20 pessoas lá por noite, isso é uma fatalidade”, alertou.

Futuras demolições

Outros pontos já estão no radar da prefeitura para futuras ações. Entre eles estão um pit dog abandonado na Avenida Perimetral, no Setor Coimbra; outro na Praça da Feira; e uma construção no Setor Aeroporto. Além disso, o diretor de Fiscalização da Sefic, João Peres, adiantou ao Jornal Opção que nesta sexta-feira, 3, será demolido um pit dog no Bairro Feliz. “Tem vários processos de bens abandonados, mas a gente só vê por semana”, afirmou.

Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

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