Ex-prefeitos e suplentes articulam ‘chapinhas’ para disputar a Alego em 2026 e escapar do ‘canibalismo eleitoral’

18 outubro 2025 às 21h00

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Com as eleições estaduais de 2026 se aproximando, partidos e federações em Goiás já se movimentam nos bastidores para formar as chamadas “chapinhas” — grupos de candidatos com votações médias e equilibradas entre si, sem incluir deputados com mandato. A ideia é simples: reunir lideranças regionais, suplentes e ex-prefeitos que buscam voltar à política, evitando o “canibalismo eleitoral”. A expressão é usada nos bastidores para designar a disputa interna entre candidatos fortes de uma mesma sigla — leia reportagem do Jornal Opção sobre o tema.
Deputados estaduais apontam que a montagem de chapas desse ano será “pesada e complexa”, sobretudo por causa das federações partidárias e da regra que exige desempenho mínimo individual para garantir vagas. Um dos pontos de inflexão é a regra 80/20, introduzida pela Lei nº 14.211/2021, que alterou o Código Eleitoral e o artigo 10 da Lei das Eleições (Lei nº 9.504/1997).
A expressão faz referência ao equilíbrio necessário entre o desempenho coletivo da legenda e a votação individual dos candidatos. Em termos práticos, significa que 80% dos votos que garantem uma cadeira vêm da força da chapa, isto é, da soma dos votos de todos os candidatos do partido ou federação, e 20% dependem do desempenho pessoal de cada postulante. Essa dinâmica tem levado lideranças a buscar chapas mais equilibradas, compostas por nomes capazes de somar entre 20 e 30 mil votos, evitando a presença de deputados com mandato que concentram votos e dificultam a eleição de novos aliados.
“Tem partido que consegue os 80%, mas o candidato não tem os 20% necessários, e aí ninguém é eleito”, diz o deputado estadual Coronel Adailton (SD). “A conta ficou mais difícil. Antes, com coligações, dava para montar chapinhas e puxar votos. Agora, o cálculo é mais técnico”, explica Coronel Adailton, hoje no Solidariedade, mas a caminho do do Democracia 35 para disputar o pleito que vem.
Chapão
Adailton cita o exemplo das federações, como aquela formada por União Brasil e PP, e a articulação entre Solidariedade e PRD, como um fator que aumenta a disputa interna. “Nós não vamos conseguir montar chapa sem os presidentes de partido e sem os governadores. O governador Ronaldo Caiado (UB) entra nisso, e Daniel Vilela (MDB) também — os presidentes de federação são obrigados a participar”, afirmou.
A leitura entre parlamentares é de que o retorno de ex-prefeitos e ex-deputados ao jogo eleitoral se tornará um dos fenômenos das eleições de 2026. Esses líderes, acostumados a bases locais consolidadas, tendem a buscar partidos menores ou federações com menos deputados, para não competir com figuras mais estruturadas.
“Esses ex-prefeitos vão pensar em ir para uma chapinha. É o nome que se dá. Mas o presidente do partido quer deputado federal, que é o que conta. Deputado estadual, um só, não resolve nada. Tem que ser dois, três. A intenção é salvar todo mundo desse canibalismo eleitoral”, resumiu.
Disputa mais acirrada após o fim das coligações
Desde 2020, as coligações proporcionais foram proibidas, obrigando partidos e federações a concorrerem com chapas únicas. Isso mudou completamente o jogo político. Até 2018, pequenos partidos conseguiam eleger deputados estaduais com votações de 20 mil a 30 mil votos, fenômeno conhecido como “efeito puxador”.
A partir de 2022, o cálculo ficou mais restritivo com a chamada regra dos 80/20. Para disputar as sobras eleitorais, o partido ou federação precisa alcançar pelo menos 80% do quociente eleitoral, e cada candidato precisa atingir 20% desse quociente.
Contudo, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou em 2024 que a regra dos 80/20 não pode ser aplicada para excluir candidatos na fase final de distribuição das sobras. A decisão reabre a possibilidade de partidos médios e pequenos elegerem nomes com votações menores, o que reacende o interesse de grupos que tentam formar “chapinhas”.
Previsão de menor reeleição
Além do fator peso das chapas, as mudanças nas regras eleitorais deve reduzir o fator reeleição, já baixo desde o último pleito. Dos 41 deputados que disputaram a eleição na eleição passada, 20 conseguiram manter o mandato, o que representa cerca de 50% de reeleição.
Apesar disso, um fator pode puxar a reeleição pra cima: a estrutura montada pelos deputados através das emendas parlamentares, a reestruturação das bases eleitorais e afinidade com prefeitos e a previsão de que muitos deputados que disputarão pelos “chapões” poderão ficar de fora.
Atualmente, a maior bancada da Assembleia Legislativa de Goiás é do União Brasil, com 8 deputados, seguido pelo MDB, com 7, SD com 4 e PP com 3. O PT tem três representantes, mesmo número de Avante e PL. O PSD tem dois deputados, mesmo número do PSDB e Republicanos. Integram a lista de partidos comrepresentantes estaduais o PDT, PRD, Podemos, Agir e PSB.
Ex-prefeitos e blocos municipalistas voltam à cena em busca de espaço
No tabuleiro político goiano, um movimento paralelo tem chamado a atenção: o retorno de ex-prefeitos, suplentes e lideranças regionais que se articulam para montar chapas municipalistas ou “chapinhas” competitivas, com base em votações médias entre 20 e 30 mil votos. O objetivo é reocupar espaço político e garantir representatividade local, diante da concentração de votos em poucos nomes dentro das legendas maiores.
Entre os grupos em formação, ganha destaque o ressurgimento do Democratas (antigo PMB), que voltou com força ao cenário e deve lançar uma chapa com pelo menos três nomes competitivos: Veter, Gugu Nader e Cristóvão Tormin. Esses nomes se deslocaram de outras siglas após enfrentarem resistência interna nos partidos de origem, que priorizam candidaturas de maior densidade eleitoral.
Outro movimento em curso envolve lideranças como Nárcia Kelly, Joaquim Guilherme, Major Edelci (de São Luís de Montes Belos) e Gil Tavares (de Nerópolis), que articulam a formação de uma chapinha em bloco por um partido menor, ainda em definição. O cálculo é simples: evitar disputar espaço em partidos grandes, onde a presença de nomes de mandato reduz as chances dos candidatos médios.
Há também casos individuais de migração motivada por cálculo eleitoral. Gugu Nader, por exemplo, foi eleito pelo Agir, passou ao Avante com autorização da legenda e, agora, retornou ao Democratas. Já o delegado Cristiomário, atual prefeito, deve renunciar ao cargo para disputar vaga de deputado estadual e migrar para o Agir, reforçando o perfil municipalista da sigla.
Outros deputados também avaliam mudanças. Zeli Fritsche, eleita pelo extinto PRTB com cerca de 18 mil votos e atualmente no União Brasil, deve deixar a sigla, já que dificilmente conseguiria se eleger com essa votação em um partido que exige médias mais altas. André do Premium é outro nome cotado para sair do União, pelo mesmo motivo.
Casos como o do deputado Talles Barreto, que deve deixar o União Brasil por considerar o partido “pesado demais” para reeleição, e o de Álvaro Guimarães, que ficou de fora mesmo com votação superior à de 18 eleitos, reforçam o clima de rearranjo e sobrevivência política. Na prática, a montagem das chapas estaduais de 2026 tende a ser marcada por blocos regionais, municipalistas e pragmáticos, construídos sobre a lógica da regra 80/20 e do equilíbrio de votos internos.
Resta um
O cenário eleitoral goiano caminha para uma disputa intensa e de alto risco político na formação das chapas proporcionais. São apenas cerca de dez partidos efetivamente disponíveis para as articulações estaduais, considerando federações, diretórios estruturados e elgendas com potencial competitivo, avaliam os postulantes.
Com isso, a concorrência nterna se tornou um dos maiores obstáculos para quem pretende disputar uma vaga na Assembleia Legislativa em 2026. A limitação de opções faz com que deputados com mandato e lideranças regionais travem uma verdadeira corrida para garantir espaço dentro de legendas que ofereçam estrutura, tempo de televisão e viabilidade eleitoral.
As negociações têm sido conduzidas com forte influência dos grupos que controlam os partidos. Em muitas siglas, três ou quatro deputados já asseguraram protagonismo, ocupando o comando político e reduzindo a margem para novos nomes. Em casos como o do Avante, que recentemente atraiu figuras como Gugu Nader e Rubens Marques, o ingresso de parlamentares com densidade eleitoral redefine a correlação de forças internas e praticamente inviabiliza a entrada de postulantes médios. O mesmo ocorre em partidos como PSD, PL e PP, cujos espaços já estão comprometidos com blocos ligados a lideranças estaduais.
Diante desse quadro, pré-candidatos sem mandato e ex-prefeitos enfrentam dificuldade para encontrar legendas onde possam disputar com chances reais. A tendência é que, até fevereiro e março de 2026, quando as articulações se consolidam, o cenário ainda passe por rearranjos intensos, especialmente em partidos menores, que poderão servir de abrigo temporário para candidatos que buscam escapar da concentração de votos nos grandes blocos. O prazo legal de filição partidária até abril será o divisor de águas desse processo.
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