Ex-contador de Fábio Luís Lula da Silva (o Lulinha), João Muniz Leite, sua esposa, Aleksandra Silveira Andriani e as empresas ligadas ao casal movimentaram R$ 525.778.863,00 entre 2020 e 2021, de acordo com a conclusão de inquérito da Polícia Federal (PF). Fábio Luís é filho do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Muniz ficou conhecido como o contador do Lulinha por ter trabalhado para ele. O contador também prestou serviços para o presidente. Muniz chegou a ser ouvido como testemunha durante a Operação Lava Jato, no processo do caso do triplex do Guarujá, pelo então juiz Sérgio Moro.

A investigação serviu de base para o Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo pedir à Justiça as ordens de busca realizadas contra Muniz durante a Operação Fim da Linha.

Deflagrada no dia 9 de abril, a Operação Fim da Linha visava a captura de parte do sistema de transporte de São Paulo pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Ela atingiu as diretorias de duas empresas de ônibus: a UPBus e a Tranwolff, que teriam lavado dinheiro da facção obtido com o tráfico de drogas.

De 11 de novembro de 2019 até 31 de julho de 2023, segundo dados da Junta Comercial de São Paulo, Lulinha manteve uma de suas empresas, a G4 Entretenimento e Tecnologia Digital Ltda, registrada no mesmo endereço do escritório de Muniz, na zona oeste da capital. A defesa de Lulinha afirma que as investigações sobre o contador nunca atingiram o filho do presidente.

Os documentos da PF mostram que, em 12 de maio de 2022, o delegado Flávio Vieitez Reis, supervisor do Grupo de Investigações Sensíveis da Superintendência da PF em São Paulo, enviou ao juiz Guilherme Eduardo Martins Kellner, da 1.ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, os autos da investigação sobre a lavagem de dinheiro para que o caso fosse apreciado pela Força Tarefa X do Gaeco.

Na portaria que instaurou o inquérito n°. 020/2022, foram mencionados três alvos: o Contador de Lulinha, Aleksandra Andriani e Mayra Marcílio Daher. O delegado explicou que o prêmio de R$ 40.076.100,78 do concurso 2.363 da Mega Sena foi o evento que desencadeou a investigação. Isso se deve ao fato de um dos vencedores do bolão ser o traficante de drogas Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, que comprou o bilhete em uma casa lotérica em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, antes de ser assassinado em uma emboscada na zona leste da cidade em 27 de dezembro de 2021.

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou que parte dos valores recebidos pelo traficante foi movimentada por empresas geridas por Mayra, enquanto o contador Muniz ficou com as outras cotas do bolão. Muniz também era o contador de Cara Preta, que usava o nome falso de Eduardo Camargo de Oliveira, o que levantou suspeitas de que o bilhete foi adquirido para “lavar” dinheiro obtido ilegalmente por membros do PCC.

O delegado suspeitava que Muniz estivesse por trás das empresas em nome de Mayra, para onde Cara Preta transferiu parte do prêmio da loteria – o contador ficou com 2 cotas do bolão e o traficante com 3. Os agentes federais também descobriram depósitos sem justificativa feitos por empresas ligadas à família de Muniz em casas lotéricas, totalizando R$ 2 milhões, além de apostas feitas por Muniz e sua esposa no valor de R$ 2,5 milhões, a maioria em 2021, o que levanta a suspeita de lavagem de dinheiro.

Os federais descobriram que o traficante transferiu parte de seus recursos para incorporadoras e construtoras que atuam no mercado imobiliário da capital. Seis delas foram identificadas no inquérito da PF, uma das quais movimentou R$ 41 milhões. Ao mesmo tempo, analisaram os montantes de dinheiro que circularam entre as contas correntes de Cara Preta e as das empresas de Mayra, que, segundo os investigadores, tinham Muniz como contador. Uma delas, inclusive, tem as iniciais do nome do contador, a JML Assessoria.

Conclusão

A investigação concluiu que o Contador de Lulinha movimentou nos anos de 2020 e 2021 um total de R$ 137.140.640,00. Desse montante, as operações de débito e crédito somaram R$ 134.830.715,00, sendo R$ 76.468.961,00 em créditos e R$ 58.361.754,00 em débitos. Além disso, a esposa do contador teve movimentações totais de R$ 29.113.857,00, todas como pessoa física.

Segundo a Polícia Federal, a movimentação financeira realizada por meio das empresas do casal no período totalizou R$ 359.524.366,00. Assim, o total movimentado entre pessoas físicas e jurídicas chegou a R$ 525.778.863,00. É importante ressaltar que Muniz declarou um salário de R$ 26 mil e possuía um patrimônio de R$ 1,41 milhão.

*Com informações do ESTADÃO

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