“Estou sendo acusado de algo que sabem que não fiz”, diz vereador indiciado por imitar som de macaco para colega negro

15 janeiro 2024 às 17h15

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O vereador de Planaltina Professor Lincon Albuquerque (Cidadania) foi indiciado pela Polícia Civil de Goiás (PCGO) por injúria racial após imitar sons semelhantes ao de um macaco durante um discussão plenária, em novembro do ano passado. Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, o parlamentar disse que embora pareça [sons de macaco], fica muito claro, para ele, que o objetivo “era fazer o enfrentamento” no debate, e que não houve intenção de ser “racista e nem agredir” o outro vereador.
O delegado de Planaltina de Goiás, responsável pelo caso, afirmou, em relatório, que “resta comprovada a materialidade do delito, bem como há indícios suficientes de autoria”.
A onomatopeia escolhida pelo parlamentar se assemelha ao grito de primatas. “AaaauUuuuhh”, repetiu o parlamentar enquanto tentava debater com um colega de Câmara.
Lincon disse estar tranquilo em relação ao indiciamento, mas que passou por momentos difíceis desde o ocorrido. “É o procedimento correto, o delegado entendeu assim e todo o trâmite deve ser levado para frente. Vamos fazer a nossa defesa, mas foi um momento difícil as pessoas te acusar de algo que você não fez. É uma acusação grave. Grave e séria”, disse.
Semelhança
Servidor do Estado, Lincon é professor de língua portuguesa e espanhol. Questionado se o som utilizado no momento da discussão poderia ser associada a onomatopeia do macaco, ele argumenta que foi uma discussão dentro as muitas que já tiveram no plenário da Casa de Leis. “Se eu falar que não parece, seria contra todo o fato. Estão dizendo até que o gesto que eu fiz de abrir e fechar a mão seria para ofendê-lo. Ele agiu normalmente depois da discussão”, relata.
Perguntado se havia se arrependido do gesto, Lincon conta que é uma pergunta difícil de ser respondida. “Estou sendo acusado de algo que sabem que eu não fiz. Se ele tivesse convicção que eu tivesse feito, eu estaria preso”, conta.
Ele reflete que toda discussão que sai do trâmite correto do Legislativo—como interromper o momento de fala de outro parlamentar— deve “servir para refletir”. “Eu não deveria ter me manifestado naquele momento, mas não foi para desrespeitar”, diz.
O vereador ofendido se manifestou por meio do seu advogado e disse que o indiciamento representa “um avanço significativo para que situações envolvendo o racismo e a injúria racial não se repitam”. “Este desdobramento não apenas reflete a infelicidade pessoal que vivenciei em 13 de novembro de 2023, mas também evidencia a sensibilidade institucional diante do ocorrido.”
Relembre o caso
Durante a sessão plenária para votação de matérias, o vereador Professor Lincon (Cidadania) teria imitado sons de macaco para um colega parlamentar negro. O comportamento aconteceu na Câmara Municipal de Planaltina de Goiás, direcionado ao parlamentar Carlim Imperador (Pros).
Enquanto uma das propostas era debatida pelos vereadores, Lincon faz gestos com a mão para sinalizar que o colega estaria conversando demais. O clima de discussões aumenta mesmo com o presidente da sessão tentando acalmar os ânimos dos parlamentares.
É nesse momento que Lincon passa a imitar um macaco e todos os colegas se calam diante dos sons.
Veja o vídeo
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