Aumento da abstenção e desinteresse político: desafios para as eleições no Brasil

26 fevereiro 2025 às 14h00

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O aumento da abstenção nas eleições tem se tornado um fenômeno cada vez mais evidente no Brasil. Entre 2018 e 2022, o número absoluto de eleitores que deixaram de comparecer às urnas cresceu, embora a taxa percentual de abstenção tenha apresentado uma leve queda. Para o professor e consultor de marketing político Marcos Marinho, vários fatores podem estar contribuindo para esse cenário.
“A crescente dos extremismos e essa polarização exacerbada cansaram bastante o eleitor. Ficou uma briga tão polarizada de um contra um, que o cidadão comum não tem interesse nisso e acha que isso não vai resolver o problema dele”, avalia Marinho.
Além disso, ele aponta o descrédito na classe política como um fator determinante. “O cidadão está cada vez mais apartado do processo político, das figuras políticas e das casas de leis. Os próprios políticos não têm mais a preocupação de se aproximar do eleitorado”, destaca.
Outro ponto levantado pelo especialista é a concorrência de atenção com outros tipos de conteúdo. “Hoje, as pessoas têm uma grande variedade de conteúdo para consumir e acabam se afastando do debate político. Como elas não se informam, não enxergam a importância do voto e preferem nem perder tempo indo às urnas”, explica.

Como reverter esse cenário?
Dados indicam que, somando os votos brancos, nulos e as abstenções, cerca de 30,5% do eleitorado deixou de participar do processo eleitoral em 2022. Esse número representa uma queda em relação a 2018, quando 36,64% dos eleitores não votaram em nenhum dos candidatos.
Para Marinho, os políticos precisam investir mais em mobilização e engajamento.
“Uma coisa que sempre orientamos nossos clientes é que não se mobiliza e engaja apenas com conteúdo nas redes sociais. É necessário um trabalho de proximidade, de criar canais de interação, de entender as dores do eleitor e manter um relacionamento constante”, afirma.
Ele alerta que, sem esse tipo de estratégia, é difícil converter a população desmotivada em eleitores ativos. “Se um grupo social não está próximo ao político, ele pode simplesmente migrar para outro candidato ou cair na vala da abstenção”, completa.
Jovens e solteiros entre os mais ausentes
Os jovens entre 25 e 29 anos são o grupo que menos tem comparecido às urnas. Para Marinho, isso ocorre porque essa faixa etária está especialmente decepcionada.
“É um grupo que saiu da juventude cheio de aspirações, mas encontra poucas perspectivas. Eles não enxergam políticas públicas que os beneficiem e acabam se desmotivando”, analisa.
Outro fator importante é o aumento do número de eleitores solteiros. “O mercado já entendeu essa nova dinâmica social e se adapta oferecendo produtos e serviços. Mas a política ainda não aprendeu a dialogar com esse público. Se o eleitor não se sente representado, ele se afasta do processo”, afirma.
Abstenção maior entre os menos escolarizados
Dados mostram que os eleitores com ensino fundamental incompleto são os que mais deixam de votar. Esse grupo pertence às camadas mais pobres da população, e Marinho aponta vários possíveis motivos para isso.
“Essas pessoas podem não estar sendo alcançadas pela comunicação política. Além disso, muitos enfrentam dificuldades financeiras que tornam o acesso às urnas mais complicado. Por exemplo, pode ser que um eleitor em situação de vulnerabilidade não queira gastar dinheiro com passagem para votar”, exemplifica.
Para ele, é essencial que haja uma reestruturação da percepção política da sociedade. “Se as pessoas não perceberem que o único caminho para melhorar a sociedade é através da política, elas vão continuar se afastando dela. E a tendência é que a abstenção continue crescendo nas próximas eleições”, conclui Marinho.
Dados do TSE
Os números do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que a taxa de abstenção foi 21,30% em 2018 e 20,58% em 2022, indicando uma leve redução percentual. No entanto, o número absoluto de eleitores ausentes aumentou, passando de 31.371.704 para 32.200.558.
Os votos brancos e nulos também diminuíram de uma eleição para outra. Em 2018, 2,14% dos eleitores votaram em branco, enquanto 7,43% anularam o voto. Já em 2022, os brancos representaram 1,43% e os nulos 3,16%.
Fatores como estado civil e gênero também influenciam a participação eleitoral. Eleitores solteiros são os que mais se abstêm, seguidos pelos casados. Em relação ao gênero, os homens lideram a taxa de abstenção. Já entre as faixas etárias, jovens de 25 a 29 anos são os que mais deixam de votar, demonstrando um padrão de participação desigual entre diferentes perfis do eleitorado.
A comparação entre as eleições de 2018 e 2022 mostra que, apesar do aumento no número absoluto de eleitores, a participação percentual manteve-se estável, com pequenas variações. O desafio para as próximas eleições será reverter esse cenário e trazer mais eleitores para as urnas.
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