Espanha enfrenta onda de calor mais intensa da história, com mais de mil mortes atribuídas ao fenômeno

25 agosto 2025 às 11h14

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A Espanha atravessou, neste mês de agosto, a onda de calor mais intensa de sua história, segundo dados provisórios divulgados pela Agência Estatal de Meteorologia (Aemet). O episódio extremo, que se estendeu por 16 dias consecutivos, entre 3 e 18 de agosto, registrou uma anomalia de 4,6 °C acima do limite mínimo para ser caracterizado como onda de calor.
O nível supera o recorde anterior, estabelecido em julho de 2022, quando o desvio chegou a 4,5 °C. A intensidade das temperaturas já traz diversas consequências, além de alimentar incêndios florestais de grande proporção, o fenômeno está relacionado a mais de 1.100 mortes em todo o país, de acordo com estimativas oficiais.
De acordo com a Aemet, a sequência de dias sufocantes representou o período de dez dias consecutivos mais quente já registrado na Espanha desde, pelo menos, 1950. As temperaturas médias máximas oscilaram entre 37 °C e 39 °C em boa parte do interior da Península Ibérica, mas em regiões específicas, como os vales dos rios Tejo, Guadiana e Guadalquivir, os termômetros chegaram a ultrapassar 43 °C. Já no País Basco e nas Ilhas Canárias, os registros se mantiveram entre 38 °C e 40 °C, pressionando ainda mais os serviços de saúde e a população local.
Os dados evidenciam um agravamento notável: das 77 ondas de calor registradas desde 1975, apenas seis apresentaram anomalias de 4 °C ou mais, sendo que cinco ocorreram a partir de 2019. Essa frequência crescente de eventos extremos, reforça a agência, é um claro sinal do impacto das mudanças climáticas na Península Ibérica e nas Ilhas Baleares.
As medições também mostram que a temperatura média na Espanha aumentou 1,69 °C entre 1961 e 2024, consolidando uma tendência de verões mais longos, quentes e intensos. Para a Aemet, trata-se de uma “evidência irrefutável” de que o país está mais vulnerável a extremos climáticos.
Mortes e queimadas atribuídas ao calor extremo
As consequências humanas dessa nova onda de calor foram imediatas. O Instituto de Saúde Carlos III (ISCIII), por meio do sistema de monitoramento “MoMo”, estimou em 1.149 as mortes relacionadas ao excesso de temperatura durante o mês de agosto. Embora o mecanismo não estabeleça uma relação de causalidade absoluta, ele cruza séries históricas de mortalidade com fatores externos, como dados climáticos da Aemet, oferecendo o retrato mais próximo do impacto real.
O número supera o de julho, quando cerca de 1.060 óbitos já haviam sido atribuídos ao calor, um aumento de mais de 50% em relação ao mesmo período de 2024. Segundo a Aemet, a persistência do calor extremo “intensifica sua adversidade”, com efeitos diretos sobre a saúde da população mais vulnerável, como idosos, crianças e pessoas com doenças crônicas.
Além das mortes, a onda de calor alimentou incêndios florestais de grandes proporções. As chamas, que atingiram tanto a Espanha quanto Portugal, devastaram mais de 400 mil hectares, o equivalente a aproximadamente 490 mil campos de futebol. Somente em território espanhol, mais de 350 mil hectares foram destruídos nas últimas semanas, resultando em quatro mortes confirmadas.
No país vizinho, a situação também foi crítica, com outras quatro vítimas fatais contabilizadas.
O relatório da Aemet destaca que a análise da intensidade das ondas de calor é feita com base na “anomalia da onda”, parâmetro que quantifica o quanto as temperaturas máximas se desviam do limite mínimo necessário para a configuração do fenômeno.
Para a Aemet, não há dúvida de que “os verões atuais são mais quentes, longos e intensos que nas décadas anteriores”. A agência enfatiza ainda que “quatro das cinco ondas de calor mais intensas tenham ocorrido desde 2019 não é coincidência”.
Embora nem todos os verões quebrem recordes sucessivos, a tendência de elevação progressiva das temperaturas é evidente. “O essencial: adaptação e mitigação das mudanças climáticas”, concluiu.
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