A escritora e editora Paula Taitelbaum afirmou na quinta-feira, 18, ter sido vítima de censura após ter sua participação cancelada na programação da 40ª Feira do Livro de Canoas, no Rio Grande do Sul. A autora, reconhecida por sua atuação na literatura infantil e à frente da editora Piu, disse que havia sido confirmada para atividades com crianças nos dias 6 e 9 de outubro, mas recebeu uma mensagem informando sobre sua exclusão sem, segundo ela, uma justificativa clara.

Segundo Paula, a primeira justificativa apresentada foi a falta de patrocínio para custear sua presença. No entanto, quando se dispôs a participar gratuitamente, a resposta foi o silêncio. Para a escritora, o caso está diretamente relacionado às recentes polêmicas envolvendo seu marido, o historiador Eduardo Bueno, conhecido como Peninha. “Foram covardes comigo ao não ter coragem de dizer o que houve. Eu sei que é uma perseguição política pelo que aconteceu com o Eduardo”, declarou.

Peninha esteve no centro de controvérsias após comentar a morte de Charlie Kirk, influenciador trumpista norte-americano assassinado a tiros em 10 de setembro durante um evento em uma universidade. No vídeo publicado em suas redes sociais, Bueno declarou que era “terrível um ativista ser morto por ideias, exceto quando é Charlie Kirk”.

A publicação foi deletada pelo Instagram, mas o historiador afirmou ter se tornado alvo de perseguição política e censura. “Onde está a liberdade de expressão tão defendida pela extrema direita? Estou sendo censurado!”, escreveu em seguida.

Para Paula, sua exclusão da feira é reflexo direto dessa repercussão negativa. Ela afirmou que, ao questionar outros autores convidados, descobriu ser a única a ter sido retirada da programação. “Eu já participei de tantos eventos com as crianças. Por que não me aceitam agora?”, questionou.

Em suas declarações, Paula Taitelbaum isentou a responsável pela organização do evento, ressaltando que a decisão seria de ordem superior. “Eu não aponto o nome de X ou de Y, porque estão apenas cumprindo ordens. Ordem política, é claro, porque o prefeito [Airton Souza] é do PL. Eu não sei qual o conhecimento de literatura que ele tem, mas alguém deve ter dito: olha, é a mulher do Peninha. Ela não pode participar”, afirmou.

O cancelamento trouxe à tona um debate mais amplo sobre a influência política em eventos culturais. Para Paula, a decisão não apenas a prejudica, mas também atinge a própria feira, que deveria ser um espaço plural e de incentivo à leitura. “Isso é censura”, reforçou.

A escritora relembrou o recente caso envolvendo a jornalista Milly Lacombe, que também teve participação cancelada em um evento literário em São José dos Campos (SP), após críticas à noção de “família tradicional” durante uma participação em podcast. À época, diversos artistas, como Marisa Orth e Xico Sá, desistiram do evento em solidariedade à jornalista.

“É muito triste o que aconteceu com a Milly Lacombe, só para ficarmos em um exemplo”, afirmou Paula. “Chegamos a um ponto em que a censura está tomando forma na cultura. Um evento literário deveria ser isento, mas não é. Quem perde é a cultura. E o Brasil.”

A 40ª edição da Feira do Livro de Canoas está marcada para ocorrer entre os dias 1º e 10 de outubro. A prefeitura anunciou a destinação de R$ 3.340 em bônus-livro para alunos da rede municipal, no valor de R$ 60 por estudante. A Secretaria de Comunicação informou que a programação ainda está em fase de montagem.

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