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As direitas têm muitos candidatos a presidente da República? À primeira vista, sim. Há vários políticos no jogo: Michelle Bolsonaro, do PL, Ratinho Júnior, do PSD, Romeu Zema, do Novo, Ronaldo Caiado, do União Brasil, e Tarcísio de Freitas, do Republicanos. Cinco nomes e todos consistentes política e eleitoralmente.

Entretanto, na política quando se tem muito, às vezes não se tem um — aquele candidato capaz de derrotar um profissional do quilate de Lula da Silva, do PT.

Lula da Silva sabe que Ronaldo Caiado é um profissional como ele | Foto: Ricardo Stukckert

Quando se enfrenta um Lula da Silva, presidente eleito três vezes e que contribuiu para eleger Dilma Rousseff, do PT, duas vezes, precisa-se de um candidato — ou candidatos — tão consistente quanto convicto e que sabe explorar, até pelo exemplo, as fragilidades específicas do gestor federal.

Não se pode ter, na disputa, um candidato relutante — do tipo Tarcísio de Freitas. De manhã, se tiver conversado com o ex-presidente Jair Bolsonaro, o governador de São Paulo se torna pré-candidato a presidente. À tarde, ao voltar para o Palácio Bandeirantes e ao se encontrar com Gilberto Kassab — seu eminência parda —, volta a falar na disputa da reeleição.

Tarcísio-Freitas
Tarcísio de Freitas: candidato a presidente não pode ser relutante | Foto: Divulgação

Então, o melhor quadro para Tarcísio de Freitas é a disputa do governo de São Paulo — com Gilberto Kassab, o José de Paris da hora, na vice (se o jovem engenheiro disputar a Presidência da República, então Kassab será candidato a governador).

O fato é que Tarcísio de Freitas, com sua eterna indecisão, não é páreo para um peso-pesado tão decidido quanto Lula da Silva.

O governador do Paraná, Ratinho Júnior, começou meio decidido e agora está meio indeciso. Porque tem uma eleição praticamente garantida para o Senado. Como é jovem, pode esperar a disputa de 2030 — quando não se terá Lula da Silva no páreo. É menos indeciso do que Tarcísio de Freitas, mas consta que seu pai, Ratinho Sênior — o homem que decide na família (o dono dos negócios milionários) —, teria batido o martelo: seu “menino” deverá ser candidato a senador.

Ratinho Júnior Foto Divulgação
Ratinho Júnior: uma forte aposta para o Senado | Foto: Divulgação

A pedra no caminho de Michelle Bolsonaro é seu marido, Jair Bolsonaro. Ele estaria dizendo que a ex-primeira-dama deve ser candidata a senadora pelo Distrito Federal. Na casa dos Bolsonaro funciona o patriarcado. Mas há um componente político, para além do machismo.

Jair Bolsonaro acredita que, se o bolsonarismo tiver uma maioria absoluta no Senado, poderá enfrentar o Supremo Tribunal Federal e conquistar a anistia para si.

Há outro problema: perto de Lula da Silva, Michelle Bolsonaro é uma amadora política. Dificilmente venceria o petista num debate. Sua derrota poderia começar a ser talhada já no primeiro debate.

Michelle Bolsonaro: derrota pode começar no primeiro debate | Foto: Reprodução

Romeu Zema já desistiu, ou melhor, o país desistiu do governador de Minas Gerais. Ninguém, do Novo ao velho, acredita na sua candidatura a presidente da República. Porque não tem o perfil de um político nacional. Não tem, por assim dizer, presença no país. Por isso deverá ser candidato a senador e, ainda assim, terá de trabalhar muito para não ser derrotado. Porque vai ser candidato estando fora do poder e não tem muita simpatia nas bases políticas do interior e da capital.

Já Ronaldo Caiado, que o sociólogo alemão Max Weber diria que tem a ética da convicção (e da responsabilidade), é um páreo político à altura de Lula da Silva. Tem classe, mas também sabe abaixo da linha de cintura — jogando o jogo do real.

Sobretudo, Ronaldo Caiado tem um requisito importante: é forte numa área em que Lula da Silva e seu governo são fracos: segurança pública.

Romeu Zema, governador de Minas Gerais: falta presença nacional | Foto: Divulgação

Como governador, Ronaldo Caiado tornou Goiás um Estado mais seguro do que os demais Estados. Há pessoas, inclusive cariocas, mudando-se para o Estado devido ao melhor sistema de combate à criminalidade. O combate é duro e sistemático, com o uso de inteligência (tecnologia) policial refinada.

Há integrantes do crime organizado atuando em Goiás? Há, é claro. Mas em menor escala. Mas quem acredita que há dezenas de refinarias de cocaína em Goiás também crê em Curupira e Saci Pererê. O uso político de informações mal apuradas, mas muito bem articuladas, faz parte do jogo da sucessão presidencial. A esquerda está tentando atingir Ronaldo Caiado naquilo que é mais forte e o PT é mais fraco — a segurança.

Mas o combate mostra que o PT já percebeu que Ronaldo Caiado, tendo resolvido o problema da segurança, da melhor maneira possível, é o candidato mais consistente e é forte num campo no qual Lula da Silva é altamente vulnerável.

Ao contrário de Tarcísio de Freitas, de Ratinho Júnior e Romeu Zema, o goiano Ronaldo Caiado mostra-se decidido a ser “o” candidato da direita para enfrentar Lula da Silva. Por seu turno, a esquerda parece já ter percebido de onde vem o “perigo” e, por isso, já começa a colocar sua artilharia, inclusive a intelectual (com seus fogos cruzados), para atacar o gestor goiano. (E.F.B.)