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As ações do Banco do Brasil (BBAS3) encerraram o pregão de sexta-feira, 1º, com uma forte queda de 6,85%, cotadas a R$ 18,35, após um início de sessão estável. O impacto total foi de R$ 7,7 bilhões. Por volta das 15h30, os papéis operavam sem grandes oscilações, mas em poucos minutos entraram em forte queda, chegando a recuar 6,52% às 16h.

Várias especulações surgiram entre os investidores, como temores políticos envolvendo a aplicação da Lei Magnitsky; declarações do deputado Eduardo Bolsonaro (PL), que teria solicitado o bloqueio de bens do ministro Alexandre de Moraes; e revisões para baixo nas projeções de lucro por grandes bancos de investimento.

No entanto, o principal fator de impacto veio com a divulgação de dados do Banco Central sobre o desempenho das instituições financeiras em maio. Segundo os dados, o lucro líquido do Banco do Brasil em maio foi de apenas R$ 516 milhões, o que indica um lucro trimestral projetado de R$ 3,5 bilhões (run rate) para o segundo trimestre de 2025.

Esse valor representa uma queda de 31% em relação à estimativa do Bradesco BBI, que esperava R$ 4,89 bilhões no período. O Morgan Stanley também revisou suas projeções e agora estima um lucro de R$ 3,345 bilhões, o que equivale a uma queda de 50% em relação ao 1T25 e de 63% na comparação anual.

Os analistas apontam que a deterioração do crédito agrícola foi o principal fator para esse resultado negativo. Antes mesmo da divulgação dos dados, o BTG Pactual já havia reduzido o preço-alvo das ações BBAS3 de R$ 30 para R$ 24, mantendo recomendação neutra.

A equipe de análise do banco destacou queda no lucro do 2T25 para R$ 5 bilhões (ROE de 11,1%); projeção de lucro em 2025 de R$ 23,5 bilhões (ROE de 12,5%); expectativa de revisão no guidance de lucro ajustado, para entre R$ 21–25 bilhões; e redução do payout de dividendos, possivelmente para 30%.

Quais os problemas estruturais que afetam o Banco do Brasil?

De acordo com o BTG, a deterioração no agronegócio, segmento onde o BB é líder, tem origem estrutural e não apenas cíclica. Os principais pontos de atenção são:

  1. Perda de protagonismo: o BB pode ter deixado de ser o principal banco de produtores rurais;
  2. Armazenagem terceirizada: enfraquece garantias em casos de inadimplência;
  3. Lei 14.112/20: permite recuperação judicial de produtores, dificultando execuções;
  4. Entrada de novos produtores: atraídos pelos preços altos da soja, mas menos comprometidos com a adimplência.

Além disso, a queda nos preços de commodities agrícolas, especialmente da soja entre 2023 e 2024, elevou o nível de endividamento e aumentou a inadimplência no crédito rural.