Zoonoses em Goiânia: como funciona o serviço e em quais casos a população pode acioná-lo

23 setembro 2025 às 12h39

COMPARTILHAR
A população de Goiânia ainda enfrenta dúvidas sobre qual pasta da Prefeitura deve acionar em diferentes situações envolvendo animais ou vetores, o que gera confusão e até atrasos no atendimento. O contexto ficou mais evidente após o recente ataque de abelhas no Setor Oeste, que resultou na morte de um homem e trouxe questionamentos relacionados à Diretoria de Zoonoses do município.
Muitas vezes, moradores acreditam que a unidade é responsável por demandas que não estão sob sua alçada, o que reforça a necessidade de esclarecer quais são, de fato, as atribuições do serviço e em quais casos ele deve ser procurado. Para esclarecer essas funções e mostrar como o órgão contribui para a saúde pública, o Jornal Opção visitou o Centro de Zoonoses e conversou com o superintendente de Vigilância em Saúde de Goiânia, Flávio Toledo.
O que é zoonose
O termo zoonose se refere às doenças transmissíveis entre animais vertebrados e seres humanos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define essas enfermidades como “doenças ou infecções naturalmente transmissíveis entre animais vertebrados e seres humanos”. Entre elas estão casos como raiva, leishmaniose, esporotricose e arboviroses transmitidas por mosquitos, como dengue, zika e chikungunya.
Atribuições reais da Zoonoses em Goiânia
Durante a entrevista, Flávio destacou que muitas funções atribuídas à Zoonoses não correspondem à realidade. “É importante salientar o seguinte, existem algumas coisas que a zoonose não faz que é de conhecimento da população, como se a zoonose fizesse, por exemplo, a zoonose não pega animais saudáveis. Aqueles animais que estão na rua, aqueles animais que ficam soltos nas praças, nas igrejas, aquilo não é função da zoonose”, afirmou Toledo ao Jornal Opção.
Segundo ele, ações como castração de cães e gatos, fiscalização de maus-tratos, recolhimento de entulhos e captura de animais de rua não estão entre as atribuições da diretoria. Essas responsabilidades ficam a cargo da Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema) e da UPA Vet.
A Zoonoses, explica Flávio, atua em casos de relevância direta para a saúde pública. Entre as funções, estão a investigação de animais suspeitos de raiva, a vacinação antirrábica e os estudos da entomofauna, que analisam mosquitos transmissores de doenças como dengue, zika, chikungunya, malária e leishmaniose.
No Centro de Zoonoses, são mantidos animais em observação quando existe suspeita de doenças transmissíveis. Isso ocorre, por exemplo, em casos de agressão a pessoas, quando cães ou gatos são encaminhados ao local para avaliação veterinária. “Se ele é um animal suspeito de raiva, ele fica com a gente para a observação dos nossos veterinários”, explicou Flávio Toledo. Após o período de avaliação, se não houver risco, o animal é devolvido ao dono.
O superintendente reforçou que há mais de 10 anos não são registrados casos de raiva humana ou canina em Goiás, resultado direto da vacinação. Mesmo assim, a população continua sendo orientada a buscar o serviço em situações suspeitas.
Uma parte das ações da Zoonoses envolve denúncias contra acumuladores de animais e lixo. Essas situações são monitoradas a partir de queixas feitas por vizinhos, Ministério Público ou Ouvidoria do município. Em uma das ações recentes, cerca de 60 cães foram retirados de uma residência com grande acúmulo de animais e resíduos.
Nesses casos, os animais ficam temporariamente no canil do Centro de Zoonoses até que o processo judicial seja concluído. Já em outras ações, apenas quando acionados pelo MPGO, a equipe da zoonose busca os animais e depois os encaminham para adoção por meio de parcerias com ONGs e com a própria Amma. “A gente monta parceria para essa divulgação, para a gente poder colocar para adoção esses animais”, explicou Flávio.
Diferentemente de outros centros do país, o de Goiânia não mantém animais para adoção espontânea. Apenas os animais resgatados por determinação do Ministério Público podem ser disponibilizados ao público. “As pessoas podem adotar animais no zoonose caso eles estejam disponíveis após o resgate que fizemos por ordem do MP, nesses casos as pessoas podem sim adotar os animais lá”, reforçou Flávio Toleto.
Outro ponto destacado pelo superintendente é a campanha anual de vacinação contra a raiva, que, neste ano, será realizada em dois dias: 4 e 11 de outubro. Contudo, a vacinação é oferecida durante todo o ano no Centro de Zoonoses e na UPA Vet. “Durante todo o ano temos a vacina antirrábica. Então, se a pessoa quiser levar o animal lá no centro da Zoonose para vacinar, ele pode”, afirmou o superintendente.
Quando ocorre a eutanásia
O superintendente também ressaltou que a eutanásia só é realizada em situações previstas em lei, como em casos de esporotricose ou leishmaniose em animais sem tutor ou quando o dono não consegue custear o longo e oneroso tratamento. Fora dessas exceções, a prática não é realizada.
Abelhas e outros animais sinantrópicos
Sobre as abelhas, se a população identificar um enxame ou uma colmeia, a Zoonose informou que atua em parceria com a Amma, o Corpo de Bombeiros e até a concessionária de energia, quando os insetos se instalam em postes.
Segundo o superintendente de Vigilância em Saúde, o primeiro contato, nesses casos, deve ser feito com os Bombeiros, que isolam a área antes da avaliação dos biólogos e técnicos.
Além das abelhas, a Zoonose também recebe denúncias sobre outros animais sinantrópicos, como morcegos, pombos, ratos e escorpiões, que podem representar riscos à saúde da população.
Como acionar a Zoonoses
Durante a reportagem do Jornal Opção, foi possível confirmar uma das reclamações mais recorrentes da população: a inexistência de um telefone fixo disponível para contato direto com o setor de Zoonoses da Prefeitura de Goiânia. Entretanto, essa dificuldade em estabelecer comunicação não se restringe apenas à área, mas sim um problema já observado em diferentes setores da administração municipal, onde números divulgados permanecem indisponíveis.
Atualmente, a Zoonose orienta que o contato para a gerência de população de animais, como cachorros e gatos com suspeitas de raiva, leishmaniose, esporotricose e animais agressores sejam feitas pela Ouvidoria da Prefeitura, pelo e-mail [email protected] ou pelo WhatsApp (62) 9 9287-5258.
Além disso, existem canais específicos para diferentes tipos de situações:
- Gerência de vetores (dengue, zika e chikungunya): aplicativo Goiânia 24h ou e-mail [email protected].
- Gerência de animais sinantrópicos (escorpiões, pombos, morcegos, ratos e abelhas): WhatsApp (62) 9 9152-2545 e e-mail [email protected].
- Coordenação de fiscalização em zoonoses (casos de acumuladores e casas abandonadas): WhatsApp (62) 9 9287-5258 e e-mail [email protected].