Acervo de Marília Mendonça tem mais de 100 músicas inéditas que podem ser lançadas nos próximos 20 anos; material está em disputa

19 agosto 2025 às 15h17

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Mesmo após quase quatro anos de sua morte, Marília Mendonça segue acumulando recordes e mantendo presença marcante no cenário musical brasileiro. O empresário Wander Oliveira, dono da Workshow e responsável pela gestão da carreira da artista, revelou que o acervo deixado pela cantora é tão vasto que pode sustentar lançamentos inéditos pelas próximas duas décadas.
Segundo ele, a estratégia é trabalhar com cerca de dez músicas inéditas por ano, número suficiente para manter viva a memória de Marília e alimentar a conexão com os fãs. “A ideia é trabalhar 10 músicas por ano. Existem coisas para 20 anos, com folga”, disse ao g1. O repertório inclui registros de shows, gravações de estúdio, materiais caseiros e composições guardadas por parceiros musicais.
Herança musical em disputa
O vasto catálogo de Marília Mendonça está dividido entre três frentes: a família da artista — formada pela mãe, Ruth Dias, e o cantor Murilo Huff, pai do pequeno Léo, único herdeiro da cantora; a gravadora Som Livre, que detém os direitos comerciais de toda a obra produzida em vida por contrato assinado em 2019; e a Workshow, empresa responsável pelo gerenciamento da carreira da artista.
Essa administração conjunta nem sempre é pacífica. No início de 2024, a família lançou um dueto póstumo entre Marília e Cristiano Araújo, unindo digitalmente as vozes dos dois artistas, ambos falecidos em acidentes aéreos. A música escolhida foi “De Quem É a Culpa?”. Wander Oliveira afirmou que não concordava com a iniciativa, mas optou por não vetar o lançamento em respeito à vontade dos familiares: “Se tivessem me perguntado, eu não gostaria que tivesse sido feito”.
Um dos pontos mais delicados da preservação do legado da cantora gira em torno de um pen drive compilado por Juliano Soares, o Tchula, amigo e principal parceiro de composição de Marília. O dispositivo reúne entre 100 e 110 arquivos, com registros que vão de gravações caseiras em voz e violão até ideias inacabadas e versões inéditas de composições.
Para Wander, o conteúdo deveria ser preservado como uma herança afetiva. “Eu não achava que deveria ser meu ou de qualquer pessoa que não fosse o Léo, o que tem nesse pen drive. Para mim, pertence ao Léo, e gostaria que, no momento em que tivesse entendimento, fosse entregue a ele, para fazer o que quiser. Isso é a história da mãe dele”, disse.
Apesar da posição do empresário, houve movimentação da família junto à Som Livre para incluir o material em futuras negociações comerciais. O advogado da família, Robson Cunha, disse desconhecer qualquer acordo que destinasse o pen drive exclusivamente como herança ao filho da cantora. Segundo ele, o dispositivo já integra o acervo pertencente à gravadora e pode ser explorado em lançamentos.
Negociações e futuro do catálogo
As tratativas em andamento envolvem o tipo de contrato que deve reger a exploração da obra de Marília Mendonça. O acordo original com a Som Livre é de cessão, que transfere a posse definitiva das músicas para a gravadora. Wander Oliveira tenta, agora, converter parte desse contrato em licenciamento, que permite à gravadora usar as obras por tempo determinado, mas devolve o controle aos titulares ao final do prazo.
Essa alteração, segundo o empresário, garantiria maior autonomia para a família e para a Workshow no futuro. “Acho que isso deve ser licenciado, não vendido, porque, mais adiante, o próprio Léo poderá decidir se vende ou não a parte dele”, explicou.
Entre as obras já lançadas após a morte da cantora, o destaque é o projeto Decretos Reais, construído a partir de lives transmitidas durante a pandemia de Covid-19. Dali saiu “Leão”, lançada em dezembro de 2022 e que se tornou a faixa mais ouvida da história das plataformas digitais no Brasil. O sucesso reforça a força do repertório póstumo e alimenta a expectativa para futuros lançamentos.
Marília Mendonça, que morreu em novembro de 2021, aos 26 anos, em um acidente aéreo em Minas Gerais, deixou uma obra que extrapola o universo sertanejo e se consolidou como uma das mais influentes da música popular brasileira contemporânea. O desafio, agora, é equilibrar interesses comerciais e familiares, ao mesmo tempo em que se preserva a imagem de uma das maiores artistas da história recente do país.
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