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Será difícil afastar a imagem de que a Lava Jato integrou o governo de Bolsonaro”, reclamou um dos procuradores da força-tarefa em 1o de novembro passado

Foto: Marcos Corrêa/PR

Em nova publicação do The Intercept sobre as supostas conversas de membros da Lava Jato pelo Telegram, foi revelado que procuradores do Ministério Público Federal (MPF) questionavam acerca da ida do ex-juiz Sergio Moro para a política. No caso, aceitar o cargo de ministro da Justiça de Bolsonaro (PSL).

“Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados”, teria dito a procuradora Monique Cheker em 1º de novembro de 2018. A fala foi dita às vésperas de Sergio aceitar o ministério. A procuradora da força-tarefa, Laura Tessler, afirmou: “Também acho péssimo”.

E continuou: “Tem gente falando que isso mostraria a parcialidade dele ao julgar o PT. E o discurso vai pegar. Péssimo. E Bozo é muito mal visto… se juntar a ele vai queimar o Moro”. Outros continuaram: “E queimando o Moro queima a Lava Jato”, disse Jerusa Viecilli. “Incompatível com a de Juiz”, emendou Antônio Carlos Welter.

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Posteriormente, mas após o aceite, no mesmo 1º de novembro, no grupo ‘MPF GILMAR MENDES’, o procurador Sérgio Luiz Pinel Dias, manifestou a preocupação com o ocorrido.

“Pessoalmente acho ruim para o legado da LJ [Lava Jato], por melhor que sejam as intenções dele de tentar influir por dentro… Para mim, LJ, além de ser um símbolo, é um método de atuação das nossas instituições, que nos permitiu, até aqui, surfar juntos em uma excelente onda. Mas será difícil, muito difícil, hoje e provavelmente no futuro, com a assunção de Moro ao MJ, afastar a imagem de que a LJ integrou o governo de Bolsonaro. Vejo, por esse motivo, com muita preocupação esse passo do Moro”.

Temores de Deltan

Seis dias depois do aceite de Moro, até mesmo o coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, manifestou preocupação. “Jan [Janice Ascari], não sei qual sua posição sobre a saída do Moro pro MJ, mas temos uma preocupação sobre alegações de parcialidade que virão. Não acredito que tenham fundamento, mas tenho medo do corpo que isso possa tomar na opinião pública”, escreveu no chat privado.

Ele ainda afirmou que, “na minha perspectiva pessoal, hoje, Moro e LJ estão intimamente vinculados no imaginário social, então defender o Moro é defender a LJ e vice-versa. Ainda que eu tenha alguma ponderação pessoal sobre a saída dele, que fiz diretamente a ele, é algo que seria importante – se você concordar – defender… Quanto à delação do Palocci, tema em que podem entrar, expliquei essa questão na minha entrevista da Folha de umas semanas atrás, não sei se chegou a ver, então mando aqui…”.

Janice respondeu: “Oi querido, nosso pensamento é convergente. Também me preocupo com esse aspecto da parcialidade dele, porque põe em dúvida, também, o trabalho do MPF. Pretendo, além de, claro, defender a LJ como sempre faço (até quando não concordo com algumas coisas rsrs), mostrar que o Ministério da Justiça tem muita coisa com que se preocupar além da LJ, que continuará com Moro ou sem Moro”. Ascari é procuradora da república na 3ª região.