Em Goiás, centro de reabilitação devolve autonomia e esperança a pacientes de AVC
14 novembro 2025 às 07h00

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O aposentado Luiz Henrique Diniz, de 53 anos, trabalhava como auxiliar administrativo em Goiânia quando teve o primeiro AVC. Natural de Inhumas, ele mora na capital desde a infância. Paciente do Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer), Luiz admite que sempre foi um pouco “desleixado” com a saúde, mesmo após receber o diagnóstico de hipertensão e diabetes. Depois de passar por três episódios de Acidente Vascular Cerebral, passou a cuidar mais de si mesmo.
Luiz Henrique conta que está se recuperando a cada dia. Há quase um ano, duas vezes por semana, ele se dirige à equipe médica do Crer e segue o tratamento de fisioterapia. Hoje, faz questão de alertar principalmente hipertensos e diabéticos sobre a importância da prevenção. “Eu trabalhei 30 anos na mesma empresa e não queria ter saído assim. A saúde vem em primeiro lugar, porque trabalho não é tudo, né?”, reflete o aposentado.

A vendedora Patrícia Sayuri, de 46 anos, mora na cidade de Orizona, a 137 km de Goiânia. Ela faz tratamento de reabilitação no Crer há quase dois anos, após ter sofrido cinco AVCs. O primeiro acidente vascular ocorreu enquanto estava hospitalizada com Covid-19, durante a pandemia.
Antes do AVC, a vida de Patrícia era marcada por muita correria e estresse. Hoje, além de ser grata por estar viva, ela compreende que precisou mudar o estilo de vida para se adaptar ao tratamento.
“Hoje eu sou feliz. Tenho criação de galinhas japonesas, polonesas e caipiras. Tenho perus, tenho plantas — ou seja, sou muito mais calma”, conta.
De acordo com Patrícia, por segurança, o marido não a deixa dirigir devido às crises de ansiedade, que ainda persistem. Duas vezes por semana, ela se encontra com a equipe de fisioterapeutas do Crer para o tratamento de reabilitação, especialmente do braço esquerdo. “O conselho que eu daria para as pessoas hoje é que fiquem mais calmas, porque eu era super acelerada. Pare, pense… e vá criar galinha e cuidar de plantas”, diz, emocionada.

AVC: principais causas de morte e incapacidade
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das principais causas de morte e incapacidade no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o AVC representa cerca de 11% dos óbitos globais. No Brasil, conforme dados do Ministério da Saúde, quase mil novos casos são diagnosticados por dia.
Em Goiás, o Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer) é referência na reabilitação de pacientes após o AVC. A unidade de saúde do Governo de Goiás oferece cuidados que aliam tecnologia, equipe multiprofissional e acolhimento humano. O foco está na recuperação das funções comprometidas, na reintegração social e na melhoria da qualidade de vida dos pacientes.
O gerente de Reabilitação Física e Visual do Crer, Eduardo Carneiro, destaca que o número de casos de AVC no Brasil e em Goiás reforça a importância de estruturas especializadas em reabilitação.
“Todos os anos, milhares de pessoas são acometidas pelo AVC, e muitas delas ficam com algum tipo de limitação funcional. Em Goiás, o Crer tem um papel fundamental nesse processo, oferecendo uma reabilitação intensiva e humanizada, que visa não apenas recuperar funções motoras e cognitivas, mas também devolver autonomia e qualidade de vida ao paciente”, enfatiza.
Reabilitação no Crer
Atualmente, o serviço de reabilitação do Crer acompanha 90 pacientes em decorrência de AVC. Desses, 54% são homens, 83% sofreram AVC isquêmico e 43% convivem com sequelas há mais de dois anos. Mais da metade (53%) apresenta paralisia ou enfraquecimento do lado esquerdo do corpo, e 52% já reconquistaram autonomia para realizar atividades cotidianas com algum tipo de auxílio ou apoio.

Entre as diversas atividades oferecidas pela instituição, os pacientes participam de sessões de fisioterapia, terapia ocupacional, hidroterapia, academia, psicologia e serviço social, além das oficinas de atividades de vida diária (AVD). A Oficina Ortopédica da unidade também disponibiliza órteses, cadeiras de rodas e dispositivos auxiliares, como andadores, muletas e bengalas.
De acordo com o médico fisiatra Cícero Melo, ocorre um caso de AVC a cada um minuto e meio no Brasil. Por isso, ele reforça a importância da prevenção e da atenção básica para reduzir esses números alarmantes antes mesmo de chegar à fase de reabilitação.
“O risco de ter um novo evento, especialmente nos primeiros cinco anos, é muito grande. No Crer, acolhemos o paciente desde a chamada fase aguda — quando ele sai do hospital e inicia o processo de reabilitação”, explica.
Tipos de AVC
Segundo o fisiatra, existem dois tipos de Acidente Vascular Encefálico (AVE): o hemorrágico e o isquêmico. Cada um possui causas e fatores específicos que podem desencadear o evento.
“No caso do hemorrágico, conhecido popularmente como derrame, ocorre um sangramento. Muitas vezes, o paciente tem um aneurisma sem saber — uma falha na vascularização — e, diante de um pico de pressão, causado por estresse ou fator emocional, o vaso se rompe. Aí temos o AVC hemorrágico”, descreve Cícero Melo.

Já o AVC isquêmico, segundo o médico, é o tipo mais comum e com maior risco de recorrência.
“Esse também tem a hipertensão como fator de risco, mas o mecanismo é diferente. O AVC isquêmico acontece quando um vaso sanguíneo entope, ou seja, uma artéria sofre oclusão, o que interrompe o fluxo de sangue para uma área do cérebro e causa o déficit motor”, explica.
Por fim, o especialista reforça que é possível prevenir o AVC. A principal medida é adotar um estilo de vida mais saudável, com menos estresse e atenção especial à saúde metabólica. “O controle da glicemia e do colesterol, aliado a uma vida equilibrada e com menos ansiedade, é essencial. A desatenção a essa soma de fatores pode culminar em um AVC, infarto ou até trombose”, conclui.
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