O aposentado Luiz Henrique Diniz, de 53 anos, trabalhava como auxiliar administrativo em Goiânia quando teve o primeiro AVC. Natural de Inhumas, ele mora na capital desde a infância. Paciente do Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer), Luiz admite que sempre foi um pouco “desleixado” com a saúde, mesmo após receber o diagnóstico de hipertensão e diabetes. Depois de passar por três episódios de Acidente Vascular Cerebral, passou a cuidar mais de si mesmo.

Luiz Henrique conta que está se recuperando a cada dia. Há quase um ano, duas vezes por semana, ele se dirige à equipe médica do Crer e segue o tratamento de fisioterapia. Hoje, faz questão de alertar principalmente hipertensos e diabéticos sobre a importância da prevenção. “Eu trabalhei 30 anos na mesma empresa e não queria ter saído assim. A saúde vem em primeiro lugar, porque trabalho não é tudo, né?”, reflete o aposentado.

O paciente Luiz Henrique Diniz em tratamento no Crer | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

A vendedora Patrícia Sayuri, de 46 anos, mora na cidade de Orizona, a 137 km de Goiânia. Ela faz tratamento de reabilitação no Crer há quase dois anos, após ter sofrido cinco AVCs. O primeiro acidente vascular ocorreu enquanto estava hospitalizada com Covid-19, durante a pandemia.

Antes do AVC, a vida de Patrícia era marcada por muita correria e estresse. Hoje, além de ser grata por estar viva, ela compreende que precisou mudar o estilo de vida para se adaptar ao tratamento.
“Hoje eu sou feliz. Tenho criação de galinhas japonesas, polonesas e caipiras. Tenho perus, tenho plantas — ou seja, sou muito mais calma”, conta.

De acordo com Patrícia, por segurança, o marido não a deixa dirigir devido às crises de ansiedade, que ainda persistem. Duas vezes por semana, ela se encontra com a equipe de fisioterapeutas do Crer para o tratamento de reabilitação, especialmente do braço esquerdo. “O conselho que eu daria para as pessoas hoje é que fiquem mais calmas, porque eu era super acelerada. Pare, pense… e vá criar galinha e cuidar de plantas”, diz, emocionada.

A paciente Patrícia Sayuri sendo acompanhada por uma das fisioterapeutas do Crer | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

AVC: principais causas de morte e incapacidade

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das principais causas de morte e incapacidade no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o AVC representa cerca de 11% dos óbitos globais. No Brasil, conforme dados do Ministério da Saúde, quase mil novos casos são diagnosticados por dia.

Em Goiás, o Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer) é referência na reabilitação de pacientes após o AVC. A unidade de saúde do Governo de Goiás oferece cuidados que aliam tecnologia, equipe multiprofissional e acolhimento humano. O foco está na recuperação das funções comprometidas, na reintegração social e na melhoria da qualidade de vida dos pacientes.

O gerente de Reabilitação Física e Visual do Crer, Eduardo Carneiro, destaca que o número de casos de AVC no Brasil e em Goiás reforça a importância de estruturas especializadas em reabilitação.
“Todos os anos, milhares de pessoas são acometidas pelo AVC, e muitas delas ficam com algum tipo de limitação funcional. Em Goiás, o Crer tem um papel fundamental nesse processo, oferecendo uma reabilitação intensiva e humanizada, que visa não apenas recuperar funções motoras e cognitivas, mas também devolver autonomia e qualidade de vida ao paciente”, enfatiza.

Reabilitação no Crer

Atualmente, o serviço de reabilitação do Crer acompanha 90 pacientes em decorrência de AVC. Desses, 54% são homens, 83% sofreram AVC isquêmico e 43% convivem com sequelas há mais de dois anos. Mais da metade (53%) apresenta paralisia ou enfraquecimento do lado esquerdo do corpo, e 52% já reconquistaram autonomia para realizar atividades cotidianas com algum tipo de auxílio ou apoio.

Crer acompanha 90 pacientes em decorrência de AVC | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Entre as diversas atividades oferecidas pela instituição, os pacientes participam de sessões de fisioterapia, terapia ocupacional, hidroterapia, academia, psicologia e serviço social, além das oficinas de atividades de vida diária (AVD). A Oficina Ortopédica da unidade também disponibiliza órteses, cadeiras de rodas e dispositivos auxiliares, como andadores, muletas e bengalas.

De acordo com o médico fisiatra Cícero Melo, ocorre um caso de AVC a cada um minuto e meio no Brasil. Por isso, ele reforça a importância da prevenção e da atenção básica para reduzir esses números alarmantes antes mesmo de chegar à fase de reabilitação.

“O risco de ter um novo evento, especialmente nos primeiros cinco anos, é muito grande. No Crer, acolhemos o paciente desde a chamada fase aguda — quando ele sai do hospital e inicia o processo de reabilitação”, explica.

Tipos de AVC

Segundo o fisiatra, existem dois tipos de Acidente Vascular Encefálico (AVE): o hemorrágico e o isquêmico. Cada um possui causas e fatores específicos que podem desencadear o evento.

“No caso do hemorrágico, conhecido popularmente como derrame, ocorre um sangramento. Muitas vezes, o paciente tem um aneurisma sem saber — uma falha na vascularização — e, diante de um pico de pressão, causado por estresse ou fator emocional, o vaso se rompe. Aí temos o AVC hemorrágico”, descreve Cícero Melo.

O fisiatra Cícero Melo | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Já o AVC isquêmico, segundo o médico, é o tipo mais comum e com maior risco de recorrência.
“Esse também tem a hipertensão como fator de risco, mas o mecanismo é diferente. O AVC isquêmico acontece quando um vaso sanguíneo entope, ou seja, uma artéria sofre oclusão, o que interrompe o fluxo de sangue para uma área do cérebro e causa o déficit motor”, explica.

Por fim, o especialista reforça que é possível prevenir o AVC. A principal medida é adotar um estilo de vida mais saudável, com menos estresse e atenção especial à saúde metabólica. “O controle da glicemia e do colesterol, aliado a uma vida equilibrada e com menos ansiedade, é essencial. A desatenção a essa soma de fatores pode culminar em um AVC, infarto ou até trombose”, conclui.

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