*Colaboração de Raphael Bezerra

Durante discurso no Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Goiânia, nesta quarta-feira, 17, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por suposta tentativa de interferência na política brasileira. Segundo Lula, Trump agiu de forma desrespeitosa ao se posicionar sobre a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro, com quem mantém afinidades ideológicas.

O presidente também ressaltou que o Brasil não aceitará qualquer tentativa de ingerência estrangeira sobre seu sistema democrático e as investigações em curso. “Nós vamos responder da forma mais civilizada possível e como um democrata responde. A primeira coisa é que nós não aceitamos que ninguém, de nenhum outro país, se meta nos nossos problemas internos, que são dos brasileiros”, afirmou.

Lula lembrou ainda que generais de quatro estrelas estão presos por envolvimento na tentativa de golpe de 8 de janeiro e que o caso será julgado pelo Supremo Tribunal Federal. “Eles não estão presos à toa. Estão presos porque tentaram dar um golpe, inclusive com insinuações de que era preciso matar o Lula, o Alexandre [de Moraes] e o vice. Essa gente vai ser julgada com base nos autos do processo”, concluiu.

O presidente também criticou a postura de Trump em relação às investigações que envolvem Bolsonaro. “Ele [Trump], de forma desrespeitosa, quer que a gente não mexa com o Bolsonaro. Como se o Brasil tivesse que pedir licença para alguém para fazer Justiça”, disparou Lula.

Lula afirmou que Bolsonaro também será responsabilizado judicialmente por sua conduta durante a pandemia da Covid-19, sobretudo pelas mortes que, segundo ele, ocorreram em decorrência da negligência do governo anterior. “Bolsonaro ainda vai ser processado pela Covid-19. Pelas pessoas que morreram por conta da irresponsabilidade dele”, afirmou.

Lula mencionou ainda a atuação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, nos Estados Unidos. “Agora ele manda o filho dele para os Estados Unidos e fica abraçado na bandeira americana, esse patriota falso. Nós vamos tomar a bandeira verde e amarela de volta”, ironizou.

Ao fim do discurso, Lula defendeu a soberania nacional e disse que empresas digitais americanas que operam no Brasil também terão de respeitar a legislação local e pagarem impostos. Para o presidente, liberdade de expressão não pode ser usada como escudo para crimes e violência. “O dono do Brasil é o povo brasileiro”, completou.

Tarifas

Nesta semana, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviou nova carta ao governo dos Estados Unidos manifestando “indignação” com a nova tarifa imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros. O governo brasileiro afirmou, na carta, que está disposto a negociar e cobrou resposta a uma outra mensagem enviada em maio.

O documento é assinado pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Geraldo Alckmin, e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. A carta é endereçada ao secretário de Comercio dos EUA, Howard Lutnick, e ao representante de Comércio do país, Jamieson Greer.

“O governo brasileiro manifesta sua indignação com o anúncio, feito em 9 de julho, da imposição de tarifas de importação de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, a partir de 1° de agosto”, diz trecho do documento.

“A imposição das tarifas terá impacto muito negativo em setores importantes de ambas as economias, colocando em risco uma parceria econômica historicamente forte e profunda entre nossos países”, completa.

Presidentes da Câmara e do Senado falam em soberania

Os presidentes do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) falaram em defender a soberania do Brasil em relação ao novo tarifaço de Trump.

Em reunião com Alckmin e com a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, Alcolumbre e Motta colocaram o Congresso à disposição do governo Lula e disseram que a reação deve ser liderada pelo Executivo.

O presidente do Senado afirmou que houve uma agressão ao Brasil e que o Legislativo está comprometido em defender a soberania nacional, os empregos e os empresários. Alcolumbre também elogiou Lula.

“Vejo nesse momento de agressão ao Brasil e aos brasileiros, isso não é correto. E temos que ter firmeza, resiliência, e tratar com serenidade essa reação. Buscar estreitar os laços e fazer as coisas acontecerem em defesa dos brasileiros”, disse Alcolumbre no vídeo.

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