Secretaria tenta mascarar falta de profissionais na Educação da capital em nova diretriz
24 novembro 2017 às 16h59

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Ofício recebido pelas unidades escolares proíbe uso da palavra “déficit” no preenchimento de documentos

No último dia 14 de novembro um ofício, chamado de Circular 29, chegou às unidades de ensino do município e tem causado polêmica entre os servidores que consideraram alguns pontos do documento como anti-democráticos. O ofício, segundo servidores, teria o mesmo caráter das Diretrizes da Educação Municipal de Goiânia, mesmo sem ter sido aprovado pelo Conselho Municipal de Educação (CME).
Nele, a secretaria proíbe, expressamente, o uso da palavra “déficit” nos documentos preenchidos pelas unidades escolares. A eleição de coordenadores pedagógicos também sofreu mudanças e passa a depender do crivo da Secretaria Municipal de Educação e Esportes (SME). Além disso, a reorganização da carga horária para professores de inglês e de educação física também tem causado polêmica e críticas à gestão.
“Déficit”

No ofício emitido pela secretaria a todas as unidades de ensino, a frase “Não escrever a palavra déficit no módulo” chamou a atenção dos servidores. Para o coordenador geral do Sindicato Municipal dos Servidores da Educação de Goiânia (Simsed), Antônio Gonçalves, essa seria uma forma de mascarar a falta de profissionais que a categoria enfrenta.
“Isso gerou um estranhamento muito grande para nós. Na nossa interpretação, estão tentando encobrir para o Ministério Público e para o Tribunal de Contas do Município um déficit que existe. Estão tentando falsificar uma realidade”, afirma.
À reportagem, a SME alegou que a orientação “define que a nomenclatura déficit deve ser utilizada para indicar os casos em que há a ausência real de um profissional para ocupar uma função, o que difere de uma ausência por tempo determinado, devido a afastamentos por licenças ou substituições”.
Coordenadores Pedagógicos
Antes, a escolha do professor que seria o coordenador pedagógico se dava por meio de eleição entre os próprios colegas. Agora, de acordo com a Circular 29, uma votação escolherá dois nomes que deverão passar pelo crivo da direção da unidade e da própria secretaria.
O ofício prevê que os dois professores escolhidos em votação passem por uma entrevista com o diretor e um funcionário da secretaria. Eles que selecionarão o coordenador pedagógico.
No entanto, o documento determina que em caso de nenhum dos dois escolhidos em eleição for aprovado, a própria secretaria indicará uma pessoa para ocupar o cargo e que não necessariamente será um profissional da instituição.

A mudança tem causado polêmica e os servidores estão questionando os critérios adotados pela secretaria para tal escolha.
“Duas pessoas pleitearam a vaga numa escola. Uma delas está em estágio probatório e outra já mais antiga na rede. A que está em estágio probatório foi escolhida no lugar da outra que foi a mais votada pelo grupo. O critério é puramente político, não é técnico”, denuncia Antônio.
Em resposta ao Jornal Opção, a assessoria de comunicação do SME argumentou que a intenção da medida é fazer com que o coordenador tenha conhecimento pedagógico, além de capacidade de liderança, formação, trato com pais e equipe.
“O coletivo de professores e auxiliares de atividades educativas das unidades educacionais escolhe duas opções de coordenador. Em seguida, a direção juntamente a Coordenadoria Regional de Educação faz uma entrevista para avaliação de critérios técnicos e indica o melhor profissional para ocupar o cargo de coordenador formador. A intenção é que o coordenador tenha conhecimento pedagógico, além de capacidade de liderança, formação, trato com pais e equipe”, escreveu a pasta em resposta à reportagem.
Professores de inglês e educação física
Outro ponto polêmico da Circular 29 é a reorganização da carga horária para professores de inglês e de educação física. Os professores das duas disciplinas poderão ser modulados em duas instituições no mesmo período. A mudança seria uma manobra para não convocar novos professores aprovados em concurso público.
“O professor precisará se deslocar de uma escola para outra para cumprir a carga horário, prejudicando o tempo e o trabalho. É claramente uma manobra para reduzir o número de vagas oferecidas para esses profissionais”, destaca o coordenador geral do Simsed.
Sobre o tema, a secretaria informou que a reorganização não causará prejuízo de carga horária e momento de estudo para o professor. “A SME indica escolas da mesma região e o trabalho não é dividido por turno, e sim, por dias da semana”, acrescenta.