Em documentário, britânico percorre cultos de bruxaria pedindo para ser amaldiçoado

25 junho 2025 às 16h23

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“Você tem muito amor e muitas oportunidades na vida. Se prosseguir com seu objetivo, tudo isso será afetado. Tem certeza?”.
A pergunta sinistra acima, que mais parece ter saído de um filme de terror, foi feita, na verdade, por um sacerdote de vodu a um documentarista britânico que decidiu fazer um dos experimentos sociais mais bizarros de que se tem notícia: percorrendo países como Índia, México e EUA, Liam Le Guillou coloca como objetivo principal do documentário A Cursed Man (“Um Homem Amaldiçoado”, numa tradução literal) provar para si mesmo a existência, ou falta dela, da “magia maligna”.
Ao visitar e se envolver em diversos cultos, Liam faz um pedido inacreditável: “Me amaldiçoem com o que de mais forte vocês tiverem”. Em nome de seu filme de não-ficção, o britânico chega ao ponto de fazer um pacto com o próprio Diabo – tal qual descrito pelo cristianismo.
A obra, lançada neste ano, é escrita, dirigida e produzida pelo britânico e tem um tom respeitoso, deixando claro que a intenção não é desafiar a existência de nada ou provar a possível farsa que pode ser alguns dos cultos procurados, mas sim cruzar os limites entre a fé e o ceticismo e evidenciar, mais para si mesmo do que para outras pessoas, se o mundo espiritual e sobrenatural existe de fato.
O documentarista leva ao menos duas negativas dos primeiros praticantes de bruxaria procurados. Nos Estados Unidos, em Nova Orleans, um reconhecido praticante de vodu da região fica incrédulo ao ouvir o pedido de Liam para que o amaldiçoe. “O que me preocupa é que o simples fato de você estar querendo isso já faz com que ‘rodas’ comecem a se mover”, diz, em uma casa repleta de artefatos místicos como bonecos de barro, carrancas de madeira, garrafas com líquidos exóticos e símbolos estranhos.

“Não quero saber de ninguém me ligando às 2 da manhã pra me contar que esse homem está morto”, alerta o bruxo à produção do documentário, pouco antes de deixar o aposento com a negativa ao pedido de Liam.
Quando finalmente encontra um sacerdote que aceita a proposta de lançar uma maldição sobre ele, Liam ainda é alertado sobre todos os riscos que poderia correr. Mas ele prossegue. “Sei que é um pedido atípico, mas quero viver essa experiência”, afirma o documentarista. O primeiro dos rituais é feito, envolvendo até mechas de cabelo de Liam.
Mas não satisfeito, o britânico decide continuar. É em Catemaco, cidade no México, que Liam vai ao extremo do que prega a fé no sobrenatural. Após insistência, o cineasta consegue fazer com que um bruxo local faça a intermediação de um pacto com o próprio Diabo.

Ao longo do documentário, após a primeira das maldições on demand, Liam Le Guillou começa a relatar pesadelos constantes, que fazem com que seu sono passe a ser cada vez mais agitado e raro. Um acidente de bicicleta, causando um ferimento no exato lugar em que o primeiro sacerdote de vodu profetizou que aconteceria, o faz afirmar: “No começo disso, talvez eu estivesse um pouco cético. Com o passar dos dias, já não sei o que pensar”.
Em meio à contínua busca por maldições ao redor do mundo, o britânico mantém contato com psicólogos que o ajudam a entender, do ponto de vista científico, os eventos que sucedem. Um especialista em consciência humana destaca, inclusive, o poder da mente em fabricar ameaças que podem se concretizar pela simples consciência de estar sendo atacada de alguma forma, o que inclui uma maldição.
O documentário A Cursed Man até que tenta, mas derrapa um pouco ao dar pouca ênfase às diferentes óticas quanto a uma maldição, optando, às vezes, ao sensacionalismo sobrenatural. No entanto, a obra convida a refletir que muito mais que temer, ter fé em algo pode fazer toda a diferença. Afinal, até que ponto “acreditar” pode causar bem ou mal?
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