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Barbara Noleto

As eleições na Argentina se aproximam do fim, com a votação prevista para o domingo, 19. No segundo turno, concorrem dois candidatos à presidência: Javier Milei e Sergio Massa. O primeiro turno terminou com liderança de Massa, peronista e atual ministro da Economia, com 36,68% dos votos. Já Javier Gerardo Milei, o candidato ultraliberal, conquistou 29,98% dos votos. Em terceiro lugar ficou Patricia Bullrich, com 23,83% do total.

No dia 20 de outubro – dois dias antes do primeiro turno – o Jornal Opção ouviu o cientista político Guilherme Carvalho sobre o pleito argentino e o que poderia vir dele. O especialista acabou prevendo o desfecho do primeiro turno com uma votação mais expressiva do Massa em comparação com Milei no primeiro turno, levando os dois para um segundo – o que se concretizou.

Entretanto, diferentemente do que havia sido cogitado pelo cientista político, Massa não tentou emular uma coalizão nacional, como fez Lula. E ele mudou de ideia em relação aos resultados finais, devido a acontecimentos mais recentes.

“Minha visão sobre o segundo turno é bem diferente, na realidade. Eu acredito que o Milei conta com alguns fatores como por exemplo a liberação do câmbio que foi feito nesta semana [que] desestabilizou a base monetária do País ainda mais, elevando o dólar e lembrando que o Massa é ministro da economia”, analisou

O especialista também explica a posição atual de Massa, que não pode ser considerado exatamente um “kirchnerista”, apesar de representar uma continuidade do atual governo, já que o candidato é o ministro da Economia da Argentina. “Mas a relação é um pouco estremecida”, disse Carvalho, se referindo à ligação entre Massa e Cristina Kirchner.

“Eu acho que a pressão está muito grande, apesar de que o Massa se saiu um pouco melhor nos últimos debates. Eu acho que o apoio da Patricia Bullrich ao Milei é meio que definidor, ele conta aí com uma massa de insatisfeitos muito grande […].Nesse sentido, pra mim o cenário que as pesquisas vêm delineando é uma vitória bastante estreita do Javier Milei”, prevê.

Cenário brasileiro

Já sobre as relações entre Brasil e Argentina e os impactos que elas podem ter no pleito dos “hermanos”, Guilherme Carvalho diz que é algo que pode fazer a diferença, mas que, no final das contas, não será algo tão decisivo para o resultado das urnas.

“O Brasil ter sido incluído nesse debate agora no segundo turno, eu acho que é algo que faz uma diferença no sentido de que o Brasil é o principal parceiro da Argentina aqui no continente, um dos maiores parceiros comerciais que o país possui. Isso faz com que principalmente aqueles que são ligados de alguma forma ao mercado externo vejam as considerações do Milei com muita cautela, a respeito de propostas de romper relações diplomáticas com o Brasil. Mas eu acho que não é algo tão abrangente, não é algo tão massivo”.

Ainda conforme Carvalho, “a menção ao Brasil impacta muito pouco em virada de votos”. Segundo ele, a política anti-Brasil do Milei anti-Organizações-Internacionais, uma visão muito isolacionista da Argentina, muito comparável até com Donald Trump em certo sentido, “impacta muito pouco no cenário eleitoral da forma como estamos vendo”, finaliza.