Enquanto senadores brasileiros articulam em Washington contra o tarifaço de 50% imposto por Donald Trump a produtos do Brasil, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) atua em sentido contrário. Filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ele tem feito ligações a congressistas dos Estados Unidos para desmobilizar encontros da comitiva com aliados do ex-presidente americano e tenta, nos bastidores, deslegitimar a missão.

Parlamentares ouvidos pelo GLOBO sob reserva relatam que Eduardo “tem trabalhado para inviabilizar as nossas agendas aqui nos Estados Unidos”, como afirmou o senador Rogério Carvalho (PT-SE). “Sabe claramente qual é o papel que está cumprindo contra os interesses do Brasil. Cumpre hoje a tarefa de transformar tarifa em chantagem contra a economia, os empregos, contra a vida do povo brasileiro”, disse o petista, integrante da comitiva.

As movimentações do deputado levaram os senadores a manter em sigilo boa parte da agenda, sobretudo reuniões com congressistas republicanos. O receio é que, ao ser informado, Eduardo possa acionar interlocutores e provocar cancelamentos. Segundo relatos, ele tem dito a aliados de Trump que os senadores são “defensores do STF e de Alexandre de Moraes” e não representariam os interesses reais do Brasil.

Em entrevista ao SBT News, o próprio Eduardo confirmou que tem atuado para esvaziar a missão. “Com certeza não (vamos estabelecer diálogo com a comitiva), e eu trabalho para que eles não encontrem diálogo”, declarou.

Na mesma linha, afirmou que a retaliação imposta por Trump ao Brasil seria uma espécie de troco ao Judiciário brasileiro. “Se ele [Moraes] acha que vai intimidar o Trump, dobrando a aposta, que é o que ele sempre faz, lamentavelmente haverá mais sofrimento por parte dessas autoridades brasileiras”, disse Eduardo.

A comitiva é composta por oito senadores de diferentes partidos, incluindo PT, PL, MDB, PSD, Podemos e PP. A missão tenta construir uma articulação suprapartidária para evitar os impactos econômicos da medida anunciada por Trump. Reuniões já ocorreram com a Câmara de Comércio dos EUA e com parlamentares democratas e republicanos. Até agora, no entanto, não houve confirmação de encontros com o governo norte-americano — o que os senadores preferem não comentar para evitar interferências.

Nos bastidores, o comportamento de Eduardo tem causado constrangimento. Segundo senadores, a tentativa de sabotar a missão coloca em risco uma agenda de interesse nacional. “Eduardo atua por fora dos canais institucionais e tenta politizar um tema comercial com graves consequências para a indústria brasileira”, disse um parlamentar da base governista.

Apesar das dificuldades, a comitiva continuará com compromissos nos Estados Unidos até o fim da semana. A avaliação interna é que, mesmo com as ações do deputado, é fundamental mostrar que o Congresso brasileiro tem posição clara sobre os prejuízos da medida — e que a defesa do setor produtivo nacional está acima de disputas ideológicas.

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