A dor na coluna, historicamente associada ao envelhecimento, tem atingido cada vez mais adolescentes e adultos jovens. Dados de pesquisas nacionais e internacionais indicam que mudanças no estilo de vida, sobretudo o aumento do tempo sentado e o uso prolongado de telas, estão diretamente relacionadas ao crescimento dessas queixas em faixas etárias mais baixas.

Estudos científicos apontam que permanecer sentado por longos períodos eleva significativamente o risco de dor cervical e lombar. Uma meta-análise com mais de 43 mil participantes mostrou que pessoas que passam mais de seis horas por dia sentadas têm até 88% mais chance de desenvolver dor no pescoço. Outro levantamento, com cerca de 57 mil crianças e adolescentes, indicou que cada hora adicional de uso diário de computador aumenta em aproximadamente 8% o risco de dor lombar.

No Brasil, o problema também aparece em números oficiais. A Pesquisa Nacional de Saúde revela que cerca de 8,7% dos brasileiros entre 18 e 29 anos convivem com dor crônica nas costas, demonstrando que o problema já não se restringe a idosos ou trabalhadores submetidos a esforço físico intenso.

Mudança no perfil dos pacientes

De acordo com o neurocirurgião e cirurgião de coluna Breno Barbosa, do Hospital Mater Dei Goiânia, o perfil dos pacientes mudou nos últimos anos. “Temos observado jovens com queixas que antes eram mais comuns em pessoas mais velhas, principalmente dor cervical associada ao uso excessivo de celular, notebook e ao trabalho remoto”, afirma.

Entre as causas mais frequentes estão alterações posturais, sedentarismo, sobrecarga muscular, hérnia de disco e doenças degenerativas da coluna. Segundo o médico, a dor lombar em jovens está cada vez mais relacionada ao baixo condicionamento físico, e não apenas ao esforço pesado.

Diagnóstico e exames

O diagnóstico começa pela avaliação clínica e exame neurológico. Exames de imagem são indicados em situações específicas, como dor persistente por mais de quatro a seis semanas ou presença de sinais neurológicos.

Entre os principais exames estão:

  • Radiografia, para avaliar alinhamento e sinais degenerativos;
  • Tomografia computadorizada, útil para alterações ósseas;
  • Ressonância magnética, considerada padrão-ouro para análise de discos, nervos e medula;
  • Eletroneuromiografia, em casos selecionados.

“O exame de imagem auxilia, mas não substitui a avaliação clínica, que continua sendo essencial”, ressalta Barbosa.

Tratamento e sinais de alerta

A maioria dos casos é tratada de forma conservadora, com medicamentos, fisioterapia e reabilitação ativa. Em geral, há melhora em até dois meses quando não há agravamento neurológico.

A cirurgia é reservada para situações específicas, como déficit neurológico progressivo, dor incapacitante refratária ao tratamento clínico, síndrome da cauda equina ou mielopatia cervical. Sintomas como piora rápida da marcha, fraqueza progressiva ou alterações urinárias exigem atendimento imediato.

Prevenção

Especialistas destacam que hábitos cotidianos têm impacto direto na saúde da coluna. Atividade física regular, fortalecimento muscular, ergonomia no trabalho, pausas durante longos períodos sentado, controle de peso e evitar automedicação prolongada estão entre as principais medidas preventivas.

“A prevenção hoje passa pela reabilitação ativa e pela mudança de comportamento. O sedentarismo e o uso excessivo de telas estão no centro desse aumento de queixas entre pessoas cada vez mais jovens”, conclui o médico.

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