Doença de Parkinson: por que pacientes apresentam melhora dos sintomas no Natal e quais são os tratamentos mais modernos
17 dezembro 2025 às 08h30

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A doença de Parkinson é uma condição neurológica progressiva causada pela degeneração de células cerebrais responsáveis pela produção de dopamina. Esse neurotransmissor atua como um “mensageiro químico” essencial para a coordenação dos movimentos. Quando essas células são danificadas ou morrem, surgem os sintomas característicos da doença, como tremores em repouso, rigidez muscular, lentidão dos movimentos e instabilidade postural.
Além dos sintomas motores, o Parkinson também pode provocar alterações no sono, perda do olfato, constipação intestinal, depressão e comprometimento cognitivo. Embora ainda não tenha cura, a doença conta com tratamentos eficazes capazes de controlar os sintomas e preservar a qualidade de vida dos pacientes.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença de Parkinson afeta cerca de 2% da população mundial com mais de 65 anos. No Brasil, o cenário é igualmente preocupante. Um estudo inédito publicado recentemente na revista científica The Lancet Regional Health – Americas, conduzido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em parceria com o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, estima que mais de 500 mil brasileiros com 50 anos ou mais convivem atualmente com a doença. De acordo com a pesquisa, esse número pode mais que dobrar até 2060, ultrapassando 1,2 milhão de casos, impulsionado principalmente pelo envelhecimento da população.
O “Fenômeno de Natal” e a melhora temporária dos sintomas
Pesquisas indicam que alguns pacientes com rigidez, tremores ou lentidão dos movimentos apresentam uma mobilidade surpreendente durante o período natalino. Embora não seja possível viver em um “Natal eterno”, estudos recomendam a incorporação de atividades prazerosas e emocionalmente estimulantes à rotina, pois elas ajudam a manter circuitos cerebrais ativos e promovem melhora contínua da qualidade de vida.
Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, o neurologista Marcos Alexandre Carvalho explica que esse chamado “Fenômeno de Natal” ocorre devido à intensa ativação emocional positiva.
“Durante as festividades, o cérebro libera dopamina extra por meio do sistema de recompensa, compensando temporariamente o déficit causado pela doença”, afirma.
Segundo o especialista, fatores como alegria, expectativa positiva, música, interação familiar e redução do estresse cotidiano criam um estado neurobiológico que facilita o movimento.
“Esse fenômeno se assemelha à cinesia paradoxal, porém é ativado por emoções positivas, e não por situações de emergência. O ambiente festivo também pode estimular vias noradrenérgicas, que auxiliam na função motora”, esclarece.
Como manter os benefícios ao longo do ano
Embora o efeito observado em datas festivas seja temporário, o neurologista destaca que alguns hábitos podem ajudar a prolongar os benefícios no dia a dia. A prática regular de exercícios físicos é fundamental para estimular a neuroplasticidade — capacidade do cérebro de se reorganizar. O convívio social frequente também é essencial, pois combate a depressão e mantém o cérebro ativo.
O trabalho preventivo para preservar a mobilidade e a comunicação, por meio de fisioterapia e fonoaudiologia, também é altamente recomendado.
Além disso, manter uma alimentação equilibrada e um sono de qualidade faz diferença significativa no controle da doença.
“A dieta mediterrânea, rica em antioxidantes, ajuda a proteger os neurônios. O tratamento adequado dos distúrbios do sono é essencial, assim como o controle do estresse por meio de meditação, yoga e acompanhamento psicológico”, orienta.
Rotinas que gerem prazer, como ouvir música, cultivar hobbies e manter o hábito da leitura, também contribuem para o bem-estar. O acompanhamento neurológico regular e o uso correto das medicações são indispensáveis.

Tratamentos mais modernos e terapias em desenvolvimento
Os avanços no tratamento do Parkinson têm sido expressivos nos últimos anos. Entre as terapias mais modernas estão a estimulação cerebral profunda (DBS) de última geração, com eletrodos direcionais e ajustes automáticos em tempo real, e o ultrassom focado (FUS), uma técnica não invasiva para o controle de tremores, guiada por ressonância magnética.
Também se destacam os sistemas de infusão contínua, como a bomba de Duodopa — um gel administrado diretamente no intestino — e a bomba de apomorfina, que oferece infusão subcutânea contínua, reduzindo flutuações motoras.
Além disso, diversas terapias ainda estão em fase de pesquisa, como a imunoterapia com anticorpos monoclonais, a terapia gênica para estimular a produção de dopamina, o uso de células-tronco para substituir neurônios danificados e estratégias de neuroproteção, que buscam retardar a progressão da doença, e não apenas tratar os sintomas.
Para o neurologista, o melhor caminho é o cuidado integrado.
“A atuação conjunta de neurologista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicólogo e nutricionista permite um tratamento personalizado, humanizado e mais eficaz”, conclui.

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