O Comitê de Supervisão da Câmara dos Estados Unidos divulgou, no último dia 12, um novo lote de 20 mil páginas de documentos ligados ao caso Jeffrey Epstein.

Entre os conteúdos revelados, estão e-mails nos quais o empresário, condenado por crimes sexuais, afirma que o presidente Donald Trump “sabia sobre as garotas” e que já havia passado “horas” com uma das vítimas em sua casa.

As mensagens integram trocas entre Epstein, aliados políticos, jornalistas, ex-integrantes do governo Obama e figuras públicas próximas ao magnata. As correspondências reforçam dúvidas sobre a relação entre Trump e Epstein, cuja proximidade nos anos 1990 é registrada.

A Casa Branca reagiu rapidamente às publicações. A secretária de imprensa, Karoline Leavitt, classificou os e-mails como “irrelevantes” e sem valor probatório. Trump, por sua vez, acusou democratas de “ressuscitarem Epstein” para desviar o foco de temas sensíveis ao país, como a paralisação do governo.

Uma análise feita pela CNN revelou mensagens que chamaram atenção do Congresso. Em um e-mail de 2 de abril de 2011, enviado a Ghislaine Maxwell, Epstein escreveu: “Quero que você perceba que o cachorro que não latiu é o Trump… [trecho redigido] passou horas na minha casa com ele, ele nunca foi mencionado uma vez sequer. chefe de polícia. etc. estou 75% lá.”

Republicanos do Comitê sugeriram que a pessoa citada poderia ser Virginia Giuffre, uma das sobreviventes mais conhecidas do esquema de exploração sexual, e que nunca acusou Trump diretamente.

Em outras mensagens, Epstein diz que Trump teria sido “quase insano” em 2018, descreve comportamentos imprevisíveis e se refere ao então presidente como alguém “com poder perigoso” e “à beira da insanidade”.

Também aparecem diálogos nos quais Epstein comenta sobre a venda de um avião particular de Trump e troca impressões com figuras como Larry Summers, Kathryn Ruemmler (ex-conselheira da Casa Branca de Obama), Steve Bannon e autores como Michael Wolff.

Entre os materiais divulgados, há e-mails que contradizem a versão de Trump sobre o afastamento de Epstein de seu clube Mar-a-Lago. O presidente afirmou publicamente que expulsou Epstein por “comportamento inapropriado” com jovens funcionárias. Epstein, em e-mail a Michael Wolff, disse: “Nunca fui membro.”

As trocas sugerem que Epstein monitorava notícias relacionadas ao presidente e buscava interpretar sua conduta política, especialmente entre 2016 e 2018.

Os documentos também mostram contatos com Soon-Yi Previn, esposa de Woody Allen, e comentários sobre o príncipe Andrew, cuja ligação com o caso Epstein voltou a repercutir após processos movidos por Virginia Giuffre.

Em junho de 2019, Epstein enviou a Steve Bannon uma foto de Andrew cumprimentando Trump e ironizou: “Muito engraçado… lembre-se que a acusadora do príncipe Andrew veio de Mar-a-Lago”. Bannon respondeu: “Não acredito que ninguém está fazendo você ser a conexão”.

A divulgação desses 20 mil documentos reabriu um debate intenso nos EUA. Parte da população e da base republicana exige a liberação integral de todos os registros ligados a Epstein, promessa feita pelo próprio Trump durante a campanha de 2024, mas nunca concretizada.

Para os democratas, as mensagens reforçam a necessidade de investigação independente sobre possível conivência, silêncio ou proximidade entre figuras de alto escalão e o esquema de exploração sexual operado por Epstein por décadas.

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