Doadora de campanha de Tarcísio é investigada pela PF por suspeita de lavar dinheiro do PCC

29 julho 2025 às 16h42

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A Polícia Federal (PF) investiga a pecuarista Maribel Schmittz Golin, de 59 anos, por suspeita de envolvimento em um esquema de lavagem de dinheiro ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Maribel foi uma das maiores doadoras da campanha de Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao governo de São Paulo em 2022. Ela repassou R$ 500 mil, divididos em duas transferências, tornando-se a sexta maior financiadora do então candidato.
Segundo a PF, Maribel aparece em ao menos quatro transferências financeiras com Willian Barile Agati, considerado um dos principais operadores da facção criminosa paulista e alvo da Operação Mafiusi, deflagrada em dezembro de 2023. A investigação identificou movimentações suspeitas entre a empresária e Barile, como a venda de imóveis em valores muito superiores ao declarado oficialmente. Em uma das transações, um apartamento avaliado em R$ 881 mil foi vendido por R$ 3 milhões. As informações foram publicadas pelo jornal Folha de São Paulo.
O relatório da PF destaca que Maribel “mantém uma relação próxima” com Barile e que as movimentações sugerem “lavagem de dinheiro clássica, relacionada a imóveis”. Além disso, quatro empresas em nome da pecuarista, todas sem funcionários registrados, movimentaram mais de R$ 1,4 bilhão entre 2020 e 2022, o que chamou a atenção dos investigadores.
Apesar da relação financeira com um integrante do PCC, a PF não menciona Tarcísio ou sua campanha no relatório. Também não há suspeita de que os recursos doados tenham origem ilícita. Em nota, a assessoria do governador afirmou que a campanha teve mais de 600 doadores e que “não possui qualquer vínculo com a doadora citada, bem como conhecimento prévio sobre possíveis condutas que não dizem respeito à campanha”. A prestação de contas, segundo a assessoria, foi aprovada pela Justiça Eleitoral.
Em mensagens à imprensa, Maribel negou envolvimento com crimes e afirmou: “Não tenho nenhum tipo de envolvimento com isso”.
A investigação da PF teve início após a apreensão de dois contêineres com 554 kg de cocaína no porto de Paranaguá (PR), em 2020. A carga teria como destino Valência, na Espanha, e estava ligada a um esquema entre o PCC e a máfia italiana ’Ndrangheta. A partir do rastreamento financeiro do grupo, os investigadores chegaram até Maribel.
O marido da pecuarista, Joselito Golin, também é citado na investigação. Um colaborador da PF relatou que ele atuava com Barile na lavagem de dinheiro por meio da Igreja Mundial do Poder de Deus, liderada pelo pastor Valdemiro Santiago. Segundo o depoimento, Joselito “esquentava dinheiro dentro da igreja”.
Maribel e Joselito integram o Grupo Golin, conglomerado do setor pecuário com presença no Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. O grupo ficou nacionalmente conhecido no início dos anos 2000 após comprar as Fazendas Reunidas Boi Gordo pouco antes da falência da empresa, envolvida em um esquema de pirâmide financeira que prejudicou milhares de investidores.
As investigações seguem em curso na Superintendência da PF no Paraná. A Justiça Federal analisa denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) contra Barile e outros 13 acusados, por crimes de tráfico internacional de drogas, associação para o tráfico, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
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