Disputa por ilha no rio Amazonas eleva tensão e mobiliza tropas de Peru e Colômbia na tríplice fronteira

09 agosto 2025 às 10h05

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A disputa pela posse da ilha de Santa Rosa levou o Peru e a Colômbia a reforçarem a presença militar na região. O local fica na tríplice fronteira entre os países e o Brasil. Em julho, o governo peruano instituiu o distrito de Santa Rosa de Loreto, que inclui a ilha no rio Amazonas, medida que provocou reação imediata. Na última terça-feira, 5, a Colômbia acusou o Peru de se apropriar do território, alegando que a formação geográfica é nova e, portanto, não está contemplada no tratado de fronteira firmado há quase cem anos.
Segundo o presidente colombiano, Gustavo Petro, é necessário convocar uma nova convenção para definir a soberania sobre a área. “A ideia do tratado era justamente que todos os países fossem contemplados com margens para o rio Amazonas”, disse, em entrevista ao jornal espanhol El País. Em resposta às declarações de Petro, militares peruanos foram deslocados para a ilha e hastearam dezenas de bandeiras do país.
As Forças Armadas colombianas também aumentaram o efetivo em Letícia, cidade que fica em frente à ilha. Na quinta-feira, 7, Petro esteve em Letícia para participar de uma celebração nacional da vitória colombiana em uma batalha contra a Espanha que, tradicionalmente, ocorre a mais de mil quilômetros dali, mas foi transferida para o local. No mesmo dia, o primeiro-ministro do Peru, Eduardo Arana, e parte de seu gabinete visitaram a região. A imprensa peruana ainda relatou um suposto sobrevoo de aviões militares colombianos em espaço aéreo do Peru.
Durante a comemoração, Petro que vai denunciar o Peru em tribunais internacionais se os países não chegarem a um acordo acerca da disputa pela ilha. “A Colômbia não reconhece a soberania do Peru sobre a Ilha de Santa Rosa, no Rio Amazonas, e não reconhece as autoridades impostas nesta zona”, disse ele na ocasião.
Origem do conflito
A ilha surgiu a partir de uma sedimentação do rio Amazonas dentro da área peruana do rio, seguindo a divisão da área feita há quase cem anos. A crise ganhou força após a criação do distrito peruano que engloba Santa Rosa, onde vivem cerca de três mil pessoas, principalmente no povoado de Santa Rosa de Yavarí. Em julho deste ano, o Peru publicou uma lei que criou o distrito. Segundo Petro, a decisão peruana viola o tratado de fronteira.
“Surgiram ilhas ao norte da atual linha mais profunda, e o governo do Peru acaba de se apropriar delas por meio de uma lei, além de instalar a capital de um município em um terreno que, de acordo com o tratado, pertence à Colômbia”, escreveu no X (antigo Twitter).
Em nota, a Chancelaria da Colômbia argumentou que a ilha surgiu naturalmente após a assinatura do acordo de 1929, e que sua destinação deve ser debatida entre os países. Já o Ministério das Relações Exteriores do Peru rebateu as acusações, afirmando que exerce soberania “de forma legítima e legal, pública e contínua há mais de um século” sobre o território.
O governo peruano sustenta que Santa Rosa está situada na Ilha de Chinería, atribuída ao país em 1929 pela Comissão Mista Demarcadora. Fundada na década de 1970, a região é administrada por Lima e recebe serviços públicos do Estado, apesar de enfrentar, segundo o jornal peruano La República, carência de infraestrutura básica e abandono, mesmo com potencial turístico.
A disputa também envolve riscos estratégicos para a Colômbia. Estudos de institutos dos dois países indicam que, até 2030, o curso do rio Amazonas pode se desviar exclusivamente para o lado peruano, deixando Letícia sem acesso direto ao rio. “Tudo aqui é e sempre foi peruano: a comida, as pessoas, as escolas, a bandeira”, afirmou o morador Arnold Pérez, à rádio colombiana Caracol.
As relações entre Peru e Colômbia já estavam abaladas desde 2022, quando o então presidente peruano, Pedro Castillo, foi destituído. Petro classificou a ação como “golpe de Estado” e retirou o embaixador colombiano de Lima. O Peru respondeu na mesma medida, e desde então a diplomacia entre os dois países é conduzida apenas por encarregados de negócios.
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