De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), no mundo, aproximadamente 1,4 milhão de crianças têm cegueira, sendo que a maioria vive em países em desenvolvimento ou muito pobres. A cada ano, cerca de 500 mil novas crianças ficam cegas. No entanto, cerca de 80% dos casos de cegueira podem ser prevenidos ou tratados com diagnóstico e cuidados adequados.

O impacto da cegueira infantil vai muito além da perda da visão. Ela compromete o desenvolvimento integral da criança, dificultando a aquisição de habilidades essenciais para a vida. Por isso, a prevenção e o diagnóstico rápido são fundamentais para garantir um futuro mais inclusivo e saudável.

“Em muitos países, especialmente, nos de baixa e média renda, doenças como catarata congênita, glaucoma congênito, retinopatia da prematuridade, infecções, deficiências nutricionais (como a falta de vitamina A) e erros refracionais não corrigidos continuam levando à perda visual evitável”, é o que explica ao Jornal Opção a oftalmologista do Hospital Totum Saúde, Cejanna Câmara.

Cejanna Câmara é oftalmologista do CEROF-UFG | Foto: Arquivo Pessoal

A oftalmologista diz ainda que a prevenção começa na maternidade. “O teste do reflexo vermelho, conhecido como ‘teste do olhinho’ é essencial logo após o nascimento, pois identifica alterações importantes no início da vida. Quanto mais cedo o diagnóstico é feito, maiores são as chances de preservar a visão da criança”, orienta.

A especialista afirma que o teste do olhinho está bem difundida no Brasil. Porém, as consultas regulares em bebês que apresentaram testes dentro da normalidade ainda são pouco priorizadas.

“Campanhas educativas ao longo do ano e encaminhamento rápido ao especialista também são fundamentais para prevenir perdas visuais evitáveis”.

Miopia

Estudos mostram que a miopia está aumentando em todo o mundo, com projeções preocupantes para as próximas décadas. Especialistas indicam que cerca de 40% da população mundial seja míope até 2050. Algumas análises apontam que esse número pode chegar a quase 50% em cenários de crescente exposição a fatores de risco.

O uso inadequado de telas prejudica o desenvolvimento visual | Foto: Reprodução

“A sensibilidade excessiva à luz de telas tem sido cada vez mais observada em crianças, especialmente, associada ao uso excessivo de celulares e outros dispositivos digitais. A exposição prolongada pode levar a fadiga visual, olhos secos, cefaleia, fotofobia e dificuldade de foco, além de contribuir para o aumento da miopia”, é o que alerta oftalmologista do Hospital Totum Saúde.

Ainda de acordo com Cejanna Câmara, embora as telas não causem por si só doenças estruturais, o uso inadequado, sem pausas e com pouca exposição à luz natural, impacta negativamente o desenvolvimento visual.

“Por isso, o controle do tempo de tela, pausas regulares e estímulo a atividades ao ar livre são medidas importantes de prevenção”.

Ações importantes

Segundo a oftalmologista, para preservar a visão de crianças, é preciso um conjunto de ações. Dentre elas, fortalecer a atenção primária à saúde, implementar programas de triagem oftalmológica desde o nascimento, garantir acesso rápido ao tratamento especializado e investir na capacitação de profissionais de saúde, além de educação em saúde para famílias e comunidades.

Teste do olhinho | Foto: Reprodução

“Alguns sinais do dia a dia também merecem atenção dos pais e responsáveis. Falta de contato visual, sensibilidade excessiva à luz, desvio dos olhos, dificuldade de acompanhar objetos em movimento ou aproximação exagerada do rosto de telas e brinquedos podem indicar alterações que precisam de avaliação oftalmológica”, é o que alerta Cejanna Câmara.

A especialista destaca ainda que algumas doenças não apresentam sintomas evidentes, o que reforça a importância do acompanhamento contínuo.

“Alterações como ambliopia ou erros refrativos podem não causar dor ou incômodo e, por isso, passam despercebidas pelos pais. A avaliação oftalmológica é a única forma de detectar esses problemas no tempo certo”, afirma a oftalmologista.

Sinais de alerta

O desvio ocular (estrabismo), dificuldade para enxergar de longe ou de perto, aproximação excessiva a objetos ou telas, cerrar os olhos, inclinar a cabeça, lacrimejamento frequente, sensibilidade à luz, olhos vermelhos persistentes e dores de cabeça recorrentes são os principais sinais de alerta.

Olhos vermelhos e dores de cabeça recorrentes são sinais de alerta | Foto: Reprodução

“Em ambiente escolar, quedas no rendimento, desatenção, dificuldade para copiar do quadro e desinteresse por atividades visuais também podem indicar alterações visuais e merecem avaliação oftalmológica”, explica Cejanna Câmara.

A especialista explica que o bebê também dá sinais possíveis de serem observados. A ausência de contato visual, o não acompanhamento de objetos e o reflexo pupilar alterado (mancha branca no olho) indicam problemas de visão.

Leia também:

Goiás tem o 3º maior índice de queimaduras em crianças de 1 a 4 anos no Brasil

Reabilitação por robôs no Cora já beneficia 30 crianças e adolescentes em tratamento oncológico