Dia do orgulho autista: saiba dos riscos e possibilidades de um diagnóstico tardio

18 junho 2024 às 18h51

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No dia de 18 de junho se comemora o dia mundial do orgulho autista. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) estimam que existam mais de 70 milhões de pessoas no mundo com diferentes níveis do transtorno. A condição pode afetar o desenvolvimento, a forma de se comunicar e de interagir dos indivíduos autistas. Dessa forma, especialistas reforçam a importância de se ter um diagnóstico conclusivo o mais cedo possível, a fim de garantir melhor qualidade de vida para essas pessoas.
Em entrevista ao Jornal Opção, a Neuropsicóloga Raquel Magalhães conta que, apesar dos sinais precoces do Transtorno do Espectro Autista (TEA) surgirem ainda no primeiro ano de vida, “ os sinais de irregularidades no desenvolvimento identificados em alguns estudos não são suficientes para atender aos critérios diagnósticos, o que impossibilita de fechar o diagnóstico de TEA de forma precisa”.
Raquel reforça a importância de consultas com profissionais especializados a fim de definir um diagnóstico o mais cedo possível. “O diagnóstico tardio de TEA é um passo determinante na qualidade de vida dessa pessoa, que até então provavelmente utilizou por várias estratégias compensatórias”, explicou. A especialista conta o caso de uma paciente de 21 anos que ao descrever como se sentia com o diagnóstico disse: “Aliviada, parece que agora tudo faz sentindo”.
A especialista destaca que o autismo é um espectro, ou seja, existem diferentes formas e intensidades de se manifestar a condição, e o tratamento adequado varia de pessoa para pessoa. “Não existe um exame específico para detectar o autismo”, explicou ao reforçar a importância de atendimento especializado para iniciar os tratamentos e terapias indicados para cada caso.
Por fim, deixando uma mensagem pensando no dia do orgulho autista, Raquel conclui: “quanto mais falamos sobre autismo e vemos representatividade e inclusão de pessoas no espectro, mais pessoas provavelmente conseguirão buscar o diagnóstico tardio de autismo e receber apoio adequado, independente da idade”.
Quem vive na pele
Ao Jornal Opção, a cabeleireira Priscila Andrade, de 33 anos, conta como foi sua experiência com o diagnóstico tardio do autismo. Ela explica que foi preciso quatro anos de acompanhamento psicológico e testes de rastreio para definir um diagnóstico certeiro. Até esse ponto, os sinais do autismo foram tratados, inclusive de maneira medicamentosa, de formas diversas como ansiedade e depressão.
Antes do diagnóstico conclusivo, Priscila percebia uma hipersensibilidade nos sentidos (auditiva, no tato, paladar e olfato), dificuldade em manter algumas interações sociais e certo nível de irritabilidade. Imaginando um diagnóstico ainda na infância, por exemplo, ela afirma que “haveria mais entendimento por parte dos meus responsáveis e seria menos exposta, mais acolhida emocionalmente”.
Atualmente, a cabeleireira faz acompanhamento psiquiátrico e psicológico de terapia comportamental cognitiva. Após o diagnóstico do espectro autista, Priscila conta que as situações que a deixam desconfortável se tornaram mais claras e fáceis de evitar, como locais com multidões, barulhos intensos e iluminação muito intensa. Por fim, ela lembra que diferentes pessoas vão apresentar diferentes sintomas e que “a necessidade de suporte pode variar de acordo com a experiência de cada um”.
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