Desaparecidos: Goiás tem 900 cadáveres não identificados cadastrados no Banco Nacional de Perfis Genéticos

05 agosto 2025 às 16h00

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Somente em Goiás existem cerca de 900 cadáveres e ossadas não identificados cadastrados no Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG), segundo a polícia. Além disso, há cerca de 20 pessoas vivas cadastradas que, por algum motivo, não foram identificadas. Este sistema é principalmente utilizado para identificar pessoas desaparecidas a partir do DNA de familiares. No estado, mais de 10 pessoas desaparecem por dia.
Por meio do banco de perfis genéticos, a polícia consegue confrontar esses DNAs de familiares de pessoas desaparecidas com cadastrados sem identificação, vivos ou mortos. Já são 12 mil familiares cadastrados em Goiás neste banco, segundo o superintendente de Identificação Humana da Polícia Civil do Estado de Goiás, delegado Webert Leonardo Lopes.
No Brasil, os restos mortais não identificados chegam a mais de 10 mil. O número de pessoas vivas é baixo por que, na maioria dos casos, essa identificação é possível por meio de impressão digital, explicou a coordenadora do Laboratório de Biologia e DNA Forense da Polícia Técnico Científica, Laryssa Silva Bezerra.
“Restos mortais não identificados, nós estamos falando de cadáveres e ossadas não identificadas em IMLs de todo o país […] estão aguardando essa identificação e que pode ser um desses familiares que estão desaparecidos”, disse. Segundo ela, não há resistência dos familiares em fazer a coleta de DNA porque é preferível saber que o parente está morto do que conviver com a incerteza do desaparecimento.
Não espere 24 horas para procurar a polícia
Não é necessário esperar 24 horas para registrar um desaparecimento em uma unidade da Polícia Civil. Segundo o delegado, esse é um mito cultural que pode atrapalhar as investigações. “Essas primeiras horas podem ser cruciais na efetiva ação para o encontro desse familiar. Então, o prazo de 24 horas não existe. É bom sempre salientar isso, para que a população, tão logo que tenha um ente querido desaparecido, por algum motivo, possa procurar uma unidade mais próxima e fazer o registro do desaparecimento dessa pessoa”, disse.
Banco genético
A coleta é feita pela Polícia Científica. Não há cortes ou agulhas, já que a coleta é oral. Por cerca de 20 segundos, o coletor é passado na parte interna das bochechas, pela boca, para coletar saliva. Depois, o material genético fica retido em uma placa e é cadastrado no banco nacional, que é gerido pela Polícia Federal (PF). O ideal é que a coleta seja feita em familiares de primeiro grau, como mãe, pai, irmãos e filhos.
“É um sistema integrado com o Banco Nacional de Pessoas Desaparecidas que fortalece essa ação a médio e longo prazo. É importante que os familiares não percam as esperanças, que promovam essas ações que estão ao alcance nessa etapa”, disse o delegado.
Campanha nacional
De 5 a 15 de agosto, a polícia divulga a campanha de coleta de DNA justamente para tentar localizar mais pessoas que estão desaparecidas. A campanha é promovida pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e coordenada pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp). Essa campanha começou em 2024 e já teve outras duas etapas neste ano, no entanto, o trabalho é contínuo.
Para o delegado, o objetivo é “entregar dignidade para esses familiares que, por algum motivo, tiveram entes queridos desaparecidos e que precisam de uma resposta do poder público”. Desde o início da campanha, segundo o delegado, foram encontradas 35 pessoas desaparecidas no Brasil, que foram devolvidas às suas famílias. Destas, cinco foram localizadas em Goiás.
Mais de 10 pessoas desaparecem por dia em Goiás

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 3.789 pessoas desapareceram em Goiás em 2024, um número maior do que o registrado em 2023, quando 3.527 foram consideradas desaparecidas. Isso significa que, em média, mais de 10 pessoas desaparecem por dia no estado.
Em comparação com os dados nacionais, Goiás teve um aumento maior de desaparecidos. A taxa de registros de desaparecimentos cresceu 4,9% no Brasil em 2024, totalizando 81.873 casos notificados às Polícias Civis de todo o país. Em Goiás, a variação foi de 6,3%. Em todo o país, foram realizadas, em média, quatro notificações de desaparecimento por hora às autoridades policiais.
Em Goiás, os desaparecimentos são investigados pelo Grupo de Investigação de Desaparecidos (GID), em Goiânia, e pelas delegacias locais nas outras cidades. Desaparecer não é um crime, e somente após a aprovação da lei 13.812, de 16 de março de 2019, que se estabeleceu o conceito jurídico para o desaparecimento de uma pessoa.
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