De açougue familiar a império bilionário: a jornada da J&F, dona da JBS, PicPay e Âmbar Energia
02 novembro 2025 às 09h14

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Fundada em 1953, em Anápolis, por José Batista Sobrinho, o “Zé Mineiro”, a J&F começou como um pequeno açougue e se transformou, sob o comando dos filhos Joesley, Wesley e Júnior Batista, no maior conglomerado privado do país, com faturamento superior a R$ 434 bilhões e 300 mil funcionários. O grupo controla empresas como JBS, Eldorado Brasil, Banco Original, PicPay, Âmbar Energia, Canal Rural, Flora, Lhg Mining e Fluxus, e atua em 23 países.
A expansão do grupo seguiu uma lógica simples e agressiva: decisões rápidas, controle de custos e busca por margens altas. O modelo dispensa longos processos de auditoria e prioriza o aprendizado prático. O lema é “aprender fazendo”. Essa estratégia permitiu à J&F crescer rapidamente, da carne à energia nuclear, sem perder a gestão familiar.
O caso da Âmbar Energia é emblemático: o grupo comprou uma termelétrica deficitária em Cuiabá (MT) e, em poucos anos, construiu um portfólio com quase 50 usinas. Hoje, é sócio do governo na Eletronuclear, responsável pelas usinas de Angra 1 e 2, em um investimento de R$ 535 milhões, que marcou a entrada da holding no setor nuclear.
A J&F construiu um império diversificado para escapar das flutuações do mercado de proteína animal. A Flora, criada a partir do sebo bovino, se tornou referência em higiene e cosméticos. A Eldorado Brasil, voltada à celulose, e o Banco Original e o PicPay, voltados ao crédito e pagamentos digitais, consolidaram o grupo em diferentes setores.
Essa diversificação protegeu a holding da volatilidade da carne, ampliando margens e garantindo estabilidade ao portfólio.
A delação premiada dos irmãos Batista, em 2017, no âmbito da Lava Jato, provocou a maior crise da história da J&F. O grupo vendeu ativos importantes, como Alpargatas, Vigor e parte da Eldorado, para se reestruturar. A partir de 2020, iniciou uma retomada focada em infraestrutura, com aquisições nos setores de energia, petróleo e mineração.
Entre os movimentos mais simbólicos estão a compra da Fluxus, empresa de petróleo e gás, e da Lhg Mining, que assumiu minas de ferro da Vale em Corumbá (MS). O grupo também recomprou 49% da Eldorado, encerrando disputa bilionária com a Paper Excellence e retomando o controle da operação.
A estrutura de comando segue centralizada. Joesley atua como estrategista político e articulador de negócios, enquanto Wesley é o executor técnico, com foco na gestão operacional. A nova geração já se prepara para suceder os fundadores: Wesley Filho, José Antônio Batista Costa, Aguinaldo Ramos Filho e Murilo Moita Batista ocupam cargos-chave em diferentes empresas do grupo.
O que começou como um açougue em Goiás se tornou um império que dita rumos do agronegócio, finanças, energia e mineração. Hoje, a J&F fala em ESG, digitalização e energia limpa, mas mantém a essência pragmática da origem familiar, a de quem aprendeu que crescer exige disciplina, ousadia e capacidade de adaptação.
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