O curta-metragem brasileiro “Na altura do Coração – O Nanismo na Vida Real” conquistou reconhecimento internacional ao vencer a categoria Melhor Filme em Realidade Virtual na 22ª edição do Dorico International Film Fest, realizado em Ancona, na Itália. A produção, desenvolvida pelo Instituto Nacional de Nanismo (INN), destacou-se entre obras de diferentes países ao propor uma experiência imersiva que coloca o público diante da realidade cotidiana de pessoas com nanismo, utilizando a tecnologia de cinema 360º.

Criado por Juliana Yamin, presidente do INN, e dirigido por Flavio Mayerhofer e Leonardo Pinheiro, o curta apresenta um olhar sensível sobre as barreiras físicas e sociais enfrentadas por pessoas com displasias ósseas. A narrativa acompanha Fernando Vigui, que tem acondroplasia, Gigante Léo, com displasia diastrófica, e Monalisa Ned, diagnosticada com displasia espondiloepifisária. 

Ao apostar na realidade virtual em 360 graus, o projeto amplia o impacto da mensagem. A câmera, posicionada na altura dos protagonistas, permite que o espectador experimente o espaço urbano a partir da perspectiva deles, percebendo obstáculos arquitetônicos e atitudes capacitistas que, muitas vezes, passam despercebidos por pessoas de estatura média.

Segundo Juliana Yamin, “o objetivo é mostrar a realidade da falta de acessibilidade, desconstruir o capacitismo e promover a empatia mudando, assim, o olhar sobre o nanismo no Brasil”.

O reconhecimento no Dorico International Film Fest reforça o caráter social da obra. O festival italiano é conhecido por valorizar o cinema independente e projetos comprometidos com temas humanos e transformadores. Emocionada com a premiação, Juliana Yamin destacou o significado do prêmio para a causa.

“Tão orgulhosa. Tão honrada. Tão grata. Tão feliz. É difícil colocar em palavras a alegria de ver meu projeto, ‘As Tall As The Heart – Na Altura do Coração: o Nanismo na Vida Real’ ganhar o mundo e receber um reconhecimento tão significativo. Sonhei esse curta-metragem como uma forma de mostrar que o nanismo ainda é dolorosamente visível para o preconceito, mas profundamente invisível para a sociedade”, afirmou.

Ela também ressaltou a importância do diálogo e da ampliação de espaços de escuta. “Precisamos falar mais. Ampliar espaços. Abrir portas para o diálogo. Promover conversas verdadeiramente significativas. Só assim poderemos começar a transformar a realidade dura que nossa comunidade enfrenta todos os dias, em tantos aspectos da vida”, completou.

Para os participantes, o prêmio internacional representa um avanço na luta por respeito e inclusão. Gigante Léo, um dos protagonistas, afirmou que integrar o projeto foi motivo de orgulho. “É um filme que traz tantas mensagens através simplesmente da posição do olhar. Saber que ele foi premiado internacionalmente só aumenta a alegria e a honra de ter feito parte dessa história. E certamente vai ganhar outros festivais e mais que isso, vai levar uma mensagem importante para muita gente”, declarou.

Na mesma linha, Fernando Vigui destacou o impacto transformador da experiência. “Participar do projeto Na Altura do Coração foi uma experiência profunda e transformadora. Ela permitiu que pessoas de estatura média vivenciassem, literalmente, o mundo a partir da nossa perspectiva, sensibilizando-os para o quanto suas atitudes capacitistas são invasivas, intimidadoras e injustas”, disse.

Para ele, o sucesso internacional confirma que a mensagem alcançou seu objetivo: promover empatia sem vitimização e reforçar o direito ao respeito e à igualdade.

Já Monalisa Ned relembrou a surpresa ao receber a notícia do prêmio. “Quando recebi a notícia de que ganhamos o melhor curta nesse festival na Itália, eu fiquei tão, mas tão feliz!!! Eu fiz com muito amor e dei o meu melhor em todas as cenas”, contou. Ela também ressaltou o caráter real das situações retratadas, como o uso de transporte público em horários de pico, e agradeceu pela oportunidade de representar sua comunidade.

Ao final, Juliana Yamin fez questão de agradecer à equipe envolvida no projeto. “Meus profundos agradecimentos aos meus amigos queridos e atores brilhantes Gigante Léo, Fernando Vigui e Monalisa Ned, que toparam o desafio de produzirmos algo impactante e disruptivo. (…) Que a gente aprenda a enxergar com o coração”, concluiu.

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