A paralisação parcial do governo dos Estados Unidos, após o Congresso não chegar a um acordo sobre o orçamento federal, deve gerar efeitos em todo o mercado financeiro global, e o Brasil não deve ficar de fora. O impasse entre democratas e republicanos, que vai além do fechamento de museus e serviços públicos, pode atrasar a divulgação de indicadores econômicos cruciais e aumentar a incerteza sobre os rumos da política de juros do Federal Reserve (Fed), o banco central americano.

Esse cenário tende a ampliar a aversão ao risco entre investidores, provocar oscilações no valor do dólar frente a outras moedas, influenciar a bolsa de valores brasileira e impactar setores ligados a exportações e turismo. Ao mesmo tempo, especialistas avaliam que pode haver oportunidades para emergentes como o Brasil, caso o dólar siga enfraquecido.

Dólar, real e ouro

O dólar iniciou esta quarta-feira, 1º, em queda de 0,35%, cotado a R$ 5,30, refletindo parte desse movimento global. No acumulado do ano, já recua quase 14%. Enquanto isso, o ouro renovou recordes e alcançou US$ 3.895,38 a onça, em meio à busca de países e bancos centrais por ativos mais seguros.

Segundo Renato Nobile, da Buena Vista Capital, a situação atual é distinta da última paralisação ocorrida em 2018, no primeiro mandato de Trump. “Naquele momento, a expectativa era de valorização do dólar, mas hoje vemos uma política deliberada de desvalorização da moeda pelo governo americano, o que abre espaço para fortalecimento do real e maior atratividade do Brasil”, afirmou ao G1.

Já Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos, alertou, também ao G1, para riscos contrários. “Em momentos de incerteza global, investidores buscam ativos mais seguros, fortalecendo o dólar e pressionando moedas emergentes como o real. Isso pode aumentar a inflação via importados e elevar juros”.

Bolsa de valores

No Ibovespa, a volatilidade também se intensifica. Setores ligados a commodities e exportação podem sofrer com oscilações internacionais, enquanto empresas com caixa robusto tendem a ser vistas como alternativas defensivas.

Para Gabriel Mollo, da Daycoval Corretora, a queda recente do dólar já era esperada, mas um prolongamento da crise em Washington poderia provocar fuga de capital estrangeiro e mais instabilidade na bolsa.

Impacto no Fed e nos indicadores

Com a paralisação, dados essenciais, como o payroll (relatório de empregos), podem deixar de ser divulgados. Isso dificulta a leitura do cenário pelo Fed e pelos investidores, elevando a incerteza e os prêmios de risco.

“Sem informações confiáveis, cresce o risco de decisões equivocadas, seja na manutenção ou no aumento dos juros americanos”, explicou Milene Dellatore, da MIDE Mesa Proprietária ao G1. Para ela, apesar da instabilidade, o Brasil pode sair fortalecido: “O país se apresenta como alternativa diante de emergentes mais frágeis, com commodities essenciais e instituições sólidas”, completou.

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