Crianças de Llullaillaco: conheça as múmias incas mais bem preservadas do mundo

01 setembro 2025 às 13h59

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Ao longo da história, descobertas arqueológicas têm sido fundamentais para compreender comportamentos, crenças e práticas que moldaram sociedades antigas. Um dos exemplos mais impressionantes é a descoberta das Crianças de Llullaillaco, três múmias incas encontradas intactas no vulcão Llullaillaco, na fronteira entre Argentina e Chile.
Em 1999, arqueólogos encontraram os corpos em perfeito estado de conservação, acompanhados de objetos rituais e oferendas. Segundo estudo publicado no Journal of Glacial Archaeology, as múmias permaneceram congeladas em gelo andino por mais de 500 anos.
A descoberta revelou detalhes de um ritual de grande importância para os incas: a capacocha, cerimônia que envolvia o sacrifício de crianças e jovens mulheres para apaziguar divindades e garantir o bem-estar do imperador e das comunidades.
As Crianças de Llullaillaco
A expedição arqueológica, conduzida por Johan Reinhard e Constanza Ceruti, encontrou três corpos em pequenas câmaras escavadas no cume do vulcão, junto de mais de cem oferendas. Os corpos foram enterrados a cerca de 1,7 metro de profundidade e cobertos com aterros artificiais.
A Donzela
A mais conhecida das três múmias, chamada de Donzela, tinha cerca de 14 anos. Foi encontrada sentada, pernas cruzadas, coberta por dois mantos e roupas cerimoniais. Análises do cabelo indicam que, antes do sacrifício, ela consumiu grande quantidade de folhas de coca.
O Menino
O menino tinha aproximadamente sete anos. Sua morte pode ter sido causada pelo mal de altitude ou asfixia. Assim como a Donzela, estava vestido de forma cerimonial, demonstrando a importância do seu papel no ritual.
A Menina do Raio
A terceira criança, chamada Menina do Raio, tinha cerca de seis anos. Seu corpo apresenta marcas de queimaduras, provavelmente causadas por um raio séculos após o enterro. Apesar disso, sua preservação permite análises detalhadas de seu estado de saúde e do contexto ritualístico.
O ritual da Capacocha
O capacocha era um dos rituais mais sagrados do império inca. Segundo Constanza Ceruti, especialista em rituais de alta montanha, a cerimônia ocorria em ocasiões especiais, como a morte de um imperador, grandes catástrofes naturais ou celebrações de conquistas. Crianças e jovens fisicamente perfeitos eram oferecidos às divindades como símbolo de pureza e valor.
Escolhidos de suas comunidades, eram levados a Cuzco, onde passavam por rituais de preparação — detalhados em crônicas coloniais do século XVI, como as de Cristóbal de Molina e Bernabé Cobo — antes de iniciar a longa peregrinação até santuários nos cumes das montanhas sagradas. No destino final, eram enterrados vivos ou deixados à mercê do frio extremo e da falta de oxigênio, acompanhados de objetos que representavam a riqueza do império e a conexão com o mundo espiritual.
No caso das múmias de Llullaillaco, a descoberta vai além de uma relíquia arqueológica: é uma prova viva de como o capacocha unia religião, poder político e tradição social. As três crianças confirmam os relatos coloniais e revelam, por meio da ciência moderna, a sofisticação e a intensidade espiritual de um império que via no sacrifício um elo direto com os deuses.