Conheça o país que está sendo evacuado e vai desaparecer sob o mar com as mudanças climáticas

02 agosto 2025 às 16h30

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Tuvalu, um dos menores e mais remotos países do mundo, está sendo engolido pelo oceano. Formado por nove ilhas e atóis no coração do Pacífico, entre a Austrália e o Havaí, este arquipélago da Polinésia tem apenas 26 km² e enfrenta uma ameaça existencial por causa do aumento do nível do mar.
Com voos apenas saindo de Fiji e uma pista de pouso que vira campo de futebol quando não há aviões, Tuvalu é isolado até mesmo para padrões oceânicos. O país tem uma economia peculiar, onde uma das principais fontes de renda vem da venda do domínio de internet “.tv” para emissoras de todo o mundo.
O dólar australiano em espécie é o principal meio de pagamento, e as motos substituem os raros carros pelas ruas. Tuvalu está em risco extremo por causa da elevação do nível do mar.
A média de altitude das ilhas é de apenas três metros acima do nível do oceano, e a erosão costeira causada por tempestades e ressacas está devorando as margens da principal ilha, Fongafale, localizada no atol de Funafuti.
Desde os anos 1980, os moradores relatam aumento nos ciclones e eventos climáticos extremos. Em 2004, uma antiga posição militar americana da Segunda Guerra já estava seis metros dentro do mar.
O avanço do oceano é visível e acelerado. Em 2021, o então primeiro-ministro Simon Kofe chamou atenção global ao fazer um discurso na COP26 com as pernas submersas na água. “Estamos afundando”, declarou.
Migração climática
De acordo com um relatório da NASA, o nível do mar em Tuvalu subiu 15 cm nas últimas três décadas e deve continuar subindo pelo menos 5 mm por ano. Até 2050, a maior parte da área habitável poderá ficar submersa, tornando impossível a vida nas ilhas.
Em resposta, Tuvalu e Austrália assinaram, em 2025, um acordo inédito de imigração climática. A Austrália aceitou receber 280 cidadãos tuvaluanos por ano, de forma permanente. A procura surpreendeu.
Mais de 5.100 pessoas se inscreveram, quase metade da população total do país, estimada em 11 mil habitantes. O governo australiano classificou o tratado como “o primeiro do mundo a oferecer mobilidade climática com dignidade”.
Apesar de propostas anteriores, como as feitas pelo governo de Fiji, os tuvaluanos resistiam à ideia de deixar sua terra. Em 2019, uma reportagem do The Guardian registrou a firme decisão dos moradores de permanecer “aconteça o que acontecer”.
No entanto, o aumento das secas, a contaminação da água doce pela água salgada e a destruição da infraestrutura estão tornando a permanência cada vez mais inviável. A mudança de mentalidade é evidente em 2025.
Carlos Nobre, um dos cientistas climáticos mais renomados do mundo, alerta: “O que está acontecendo não é só aumento do nível do mar. São também os ventos, correntes e ressacas cada vez mais intensas. Várias ilhas do Pacífico seguirão o mesmo destino. Até 2050, essas populações terão que ser realocadas.”
Mesmo com cortes drásticos nas emissões de gases de efeito estufa, Nobre afirma que as mudanças climáticas continuarão por muitas décadas, afetando milhões ao redor do mundo.
Ilhas em risco
Tuvalu não está sozinha. Outras nações como Kiribati, Ilhas Marshall e Maldivas também enfrentam ameaças existenciais por causa do aquecimento global. A migração forçada já é uma realidade em diversas regiões do planeta, incluindo o norte da África, onde longas secas têm forçado populações rurais a fugir para a Europa.
As mudanças climáticas também escancaram desequilíbrios geopolíticos. Em 2019, a Austrália sugeriu conceder residência a 75 mil moradores de ilhas do Pacífico em troca de acesso exclusivo às Zonas Econômicas Exclusivas (ZEEs) e áreas de pesca dessas nações.
A proposta foi duramente criticada como uma nova forma de colonialismo. Em 2025, o ex-ministro de Tuvalu Enele Sopoaga voltou à cena política para criticar o novo acordo com a Austrália, chamando-o de “neo-colonialismo” e alegando falta de transparência no processo.
O controverso Artigo 4 do tratado dá poder de veto à Austrália em questões de segurança nacional de Tuvalu. Casos semelhantes vêm sendo denunciados em outras regiões do mundo, como no Quênia e em Uganda, onde projetos de compensação de carbono e conservação ambiental têm resultado em despejos forçados de comunidades indígenas.
Apesar da migração crescente, muitos tuvaluanos querem ficar. Para isso, o país tem investido em projetos ambiciosos de adaptação. Entre 2017 e 2024, o Projeto de Adaptação Costeira de Tuvalu (TCAP) elevou áreas do território e construiu barreiras contra inundações.
A segunda fase do TCAP, com apoio da Austrália, Nova Zelândia e EUA, pretende proteger 800 metros de costa e criar mais 8 hectares de terra elevada até 2026.
Além disso, o plano de longo prazo chamado “Te Lafiga o Tuvalu” (O Refúgio de Tuvalu) prevê realocar toda a população para uma nova área segura, com abastecimento sustentável de água, alimentos, energia, além de escolas, hospitais e repartições públicas.