Confronto entre Tailândia e Camboja deixa 12 mortos e agrava crise diplomática

24 julho 2025 às 11h29

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Nesta quinta-feira, 24, um novo confronto foi registrado na conturbada disputa territorial entre Tailândia e Camboja. Conflitos na fronteira entre os dois países resultaram em pelo menos 12 mortos, entre eles, 11 civis e um militar tailandês, e dezenas de feridos. O embate representa uma escalada nas tensões que vinham se acumulando há semanas em torno da área do antigo templo Prasat Ta Muen Thom, localizado entre a província tailandesa de Surin e a cambojana Oddar Meanchey.
Segundo informações divulgadas pelas autoridades da Tailândia, o conflito foi desencadeado por disparos de artilharia feitos pelas forças cambojanas, os quais atingiram áreas civis e militares. Como resposta, o Exército tailandês lançou um ataque aéreo com um jato F-16, que cruzou a fronteira e destruiu um alvo militar em território cambojano.
“Usamos o poder aéreo contra alvos militares, como planejado”, declarou Richa Suksuwanon, porta-voz adjunto do exército tailandês.
Além das 12 mortes confirmadas, o Ministério da Saúde da Tailândia informou que ao menos 24 civis e sete militares ficaram feridos durante os bombardeios, que aconteceram ao longo da madrugada e manhã. A transmissão ao vivo feita por canais locais mostrou moradores em pânico, correndo para se abrigar em bunkers de concreto reforçados com sacos de areia e pneus.
“Quantos tiros foram disparados? São incontáveis”, afirmou uma moradora, ainda sob o som de explosões, ao Serviço Público de Radiodifusão da Tailândia (TPBS).
Em nota oficial, as Forças Armadas da Tailândia condenaram o ataque e acusaram o Camboja de agir com brutalidade. “O Exército tailandês condena o Camboja por usar armas para atacar civis na Tailândia. A Tailândia está pronta para proteger a soberania e o nosso povo de ações desumanas”, comunicaram.
Do lado cambojano, as autoridades rechaçaram as acusações e responsabilizaram a Tailândia pela ofensiva. O Ministério da Defesa do Camboja denunciou o lançamento de duas bombas aéreas sobre uma estrada dentro de seu território, classificando o episódio como uma “agressão militar imprudente e brutal do Reino da Tailândia contra a soberania e a integridade territorial do Camboja”.
O Ministério das Relações Exteriores reforçou a denúncia, afirmando que os ataques foram “sem provocação” e exigiu que a Tailândia retire suas tropas e “se abstenha de quaisquer outras ações provocativas que possam agravar a situação”.
Até o momento, o Camboja não divulgou números oficiais sobre vítimas em seu território. No entanto, fontes internacionais, como a agência Associated Press, confirmaram a ocorrência de confrontos intensos e destruição na região cambojana da fronteira.
Entenda o caso
O confronto desta quinta-feira ocorre após uma série de incidentes diplomáticos e militares entre os dois países. Na noite de quarta-feira, 23, a Tailândia já havia convocado seu embaixador em Phnom Penh de volta a Bangkok e, em seguida, anunciou a expulsão do representante cambojano em território tailandês. A decisão foi motivada por um ataque anterior que feriu dois soldados tailandeses na região disputada.
A tensão entre os dois países não é novidade. Por mais de um século, Tailândia e Camboja mantêm disputas sobre trechos indefinidos da fronteira terrestre de 817 km que separa as duas nações. Em 2011, um confronto semelhante envolvendo troca de artilharia por mais de uma semana deixou dezenas de mortos. Em maio deste ano, a morte de um soldado cambojano em uma breve troca de tiros reacendeu as rivalidades e deu início à atual crise diplomática.
A situação também se agravou com fatores políticos internos. A primeira-ministra da Tailândia foi suspensa do cargo no início de julho sob investigação por possíveis violações éticas em sua condução da política externa relacionada à disputa fronteiriça.
Em meio ao aumento da tensão, organismos regionais e países vizinhos começaram a se mobilizar. O primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, atual presidente da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), da qual ambos os países fazem parte, declarou estar em contato com as lideranças de Tailândia e Camboja.
Anwar apelou por “calma” e ofereceu intermediação para buscar uma solução pacífica e diplomática. A China, potência regional com forte influência política e econômica nos dois países, também expressou preocupação com os combates e manifestou disposição para atuar como mediadora.
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