Condenado por tráfico internacional de drogas movimentou mais de R$ 1 bilhão em postos de combustíveis

31 agosto 2025 às 17h31

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Daniel Dias Lopes, de 45 anos, condenado a 9 anos, 8 meses e 12 dias de prisão por tráfico internacional de drogas e incluído na lista de procurados da Interpol, teria movimentado R$ 982 milhões por meio de três empresas de combustíveis ligadas ao PCC (Primeiro Comando da Capital), de acordo com a Polícia Federal. Ele é o ponto de partida do inquérito e esteve envolvido no abastecimento de postos de combustíveis em São Paulo e no Paraná.
Segundo as investigações, em 21 de janeiro de 2019, quatro meses depois de concluir a pena em regime semiaberto, Lopes assumiu como procurador da Duvale Distribuidora de Petróleo e Álcool, em São Paulo. Em 13 de maio de 2020, passou a ocupar o mesmo cargo na filial da empresa no Paraná. Em agosto de 2020, a Duvale não registrava faturamento e operava como uma empresa falida, sem funcionários. No entanto, em 2021, já com Lopes à frente, atingiu receita de R$ 2,79 bilhões.
Após essa distribuidora, o investigado passou a comprar dezenas de postos de combustíveis na cidade. Com a quebra de sigilos, a PF constatou que os 50 postos da rede recebiam dinheiro em espécie de forma fracionada, até 2 mil depósitos por dia em espécie. O inquérito apontou que o crime organizado contratava empresas de transporte de valores que iam até os postos com caminhões e pegavam os malotes de dinheiro em espécie, e levava para as “contas inteligentes”.
As apurações indicam ainda que a Duvale foi adquirida de forma informal de Celso Leite Soares por Mohamed Hussein Mourad, conhecido como Primo, e por Roberto Augusto Leme da Silva, o Beto Louco — todos também com prisão preventiva decretada e atualmente foragidos. Beto Louco e Mourad são apontados como líderes de um esquema de lavagem de dinheiro bilionário ligado ao PCC, que teria movimentado ao menos R$ 52 bilhões no setor de combustíveis.
Lopes é considerado pela PF como o principal articulador financeiro do grupo. Segundo o inquérito, a composição societária da Duvale era dividida em 65% para Beto Louco, 15% para Mourad, 10% para Celso Soares e 10% para Lopes.
Investigadores da PF afirmam que Beto Louco é “o maior adulterador de combustíveis do Brasil”. Ele também tem vínculos diretos com o PCC e, para dificultar o rastreio das conversas, os envolvidos usavam apelidos: Beto Louco era chamado de “Bolsonaro”, Mourad de “Lula”, Celso de “Ciro” e Lopes de “Obama”.
Lopes já havia sido preso em 19 de novembro de 2014, acusado de ser o proprietário de uma tonelada de cafeína apreendida com dois traficantes ligados ao PCC na Rodovia dos Bandeirantes, em Vinhedo (SP). Na época, ele admitiu em depoimento que usaria a substância para misturar com cocaína. Daniel permaneceu no CDP de Hortolândia até fevereiro de 2016, quando foi transferido para a Penitenciária de Piraquara (PR), e deixou a prisão em setembro de 2018 após cumprir a pena.
Lopes foi alvo da Operação Tank e da Carbono Oculto, deflagradas na última semana. A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Daniel Dias Lopes, Mohamed Hussein Mourad, Roberto Augusto Leme da Silva e Celso Leite Soares. O espaço continua aberto para manifestações.
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