Experimento feito há 100 anos na cidade do interior cearense comprovou a Teoria da Relatividade Geral

Na manhã do dia 29 de maio de 1919, há exatamente 100 anos, os cientistas Andrew Crommelin e Charles Davidson esperavam com expectativa o eclipse solar previsto para aquele dia. Os dois ingleses enfrentavam o claro do sertão nordestino em Sobral, interior do Ceará. A população os acompanhava curiosa.

A missão de Andrew e Charles era ambiciosa. Pretendiam colocar à prova a Teoria da Relatividade Geral, elaborada pelo físico alemão Albert Einstein. A outra parte da equipe estava, no mesmo dia, em Príncipe, na costa africana. Por lá, o dia nublado não ajudava muito.

Separada por milhares de quilômetros, as duas equipes fotografaram o eclipse solar. As imagens feitas no Brasil estavam em melhores condições. Na minúscula Sobral de um século atrás, isolada por 140 quilômetros que a separava de Fortaleza, ninguém havia ouvido falar de um fenômeno assim – tanto que, segundo os registros do Museu do Eclipse, muita gente achou que era o fim do mundo.

Andrew e Charles passaram mais algumas semanas no Ceará. Registraram os mesmos grupos estelares observados durante o eclipse, mas dessa vez à noite. Sem interferência do sol. As chapas foram levadas de volta à Europa, onde foram comparadas com as feitas pela equipe de Príncipe.

As imagens foram levadas para Londres. Após cálculos e debates, os cientistas bateram o martelo: Einstein estava certo. Mas como o experimento em Sobral e Príncipe ajudaram a comprovar a teoria mais famosa (e nem por isso fácil de ser entendida) do físico mais pop da história?

Primeiro, vamos tentar compreender o que diz a teoria – uma tarefa difícil para leigos, como o jornalista autor desse texto. Para Einstein, espaço e tempo estão entrelaçados, o que se chama de espaço-tempo. E objetos de massa muito grande (como as estrelas) são capazes de distorcer esse espaço-tempo. A imagem mais pedagógica é a de uma bola de aço sobre uma cama elástica (a bola representando o corpo massivo e o elástico, o espaço-tempo).

Ao comparar as fotos feitas em Sobral durante o eclipse e durante a noite, os cientistas notaram que havia uma pequena diferença visual na posição das estrelas. Concluíram, portanto, que a massa do sol havia “entortado” a luz das estrelas para um observador da Terra. Eureca! Einstein estava certo.

Apesar de bastante complexa e de parecer assunto para mentes brilhantes, a Teoria da Relatividade Geral está presente no dia a dia das pessoas. É graças a ela que as imagens das antigas televisões de tubo não se distorciam. Também o GPS, como o que muita gente usa no carro, só manda o motorista para o lugar certo por causa da aplicação da teoria. Até mesmo a manipulação da energia nuclear depende de seu conhecimento.