Como as cascas de cebola roxa deixam energia solar mais sustentável e durável

02 setembro 2025 às 20h43

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Em um laboratório na Finlândia, a solução para aumentar a durabilidade dos painéis solares pode estar em um ingrediente inesperado: a cebola roxa. Pesquisadores da Universidade de Turku descobriram que as cascas desse alimento contêm pigmentos naturais capazes de proteger as células fotovoltaicas contra a radiação ultravioleta (UV) sem comprometer a eficiência na geração de energia.
A energia solar é hoje a fonte renovável que mais cresce no mundo. Nos últimos dez anos, o custo das células solares caiu em cerca de 90%. Ainda assim, a perda de eficiência ao longo do tempo, conhecida como degradação dos painéis solares, é um desafio.
Segundo o Laboratório Nacional de Energia Renovável dos EUA, a geração de eletricidade pode cair entre 0,5% e 0,8% ao ano devido à ação da radiação UV e de condições climáticas adversas.
Para reduzir esse impacto, fabricantes aplicam películas protetoras que filtram a radiação. O problema é que a maioria desses filmes é feita de plásticos derivados do petróleo e pode também bloquear parte da luz visível, prejudicando a produção de energia limpa.
O papel da cebola roxa na proteção solar
O diferencial das cascas de cebola está nas antocianinas, pigmentos naturais que absorvem raios UV. Em estudo publicado na revista ACS Applied Optical Materials, os cientistas combinaram esse extrato com nanocelulose, criando um filme protetor que bloqueou 99,9% da radiação UV até 400 nanômetros.
O desempenho superou o de películas comerciais de PET (polietileno tereftalato), sem reduzir a passagem de luz necessária para a conversão fotovoltaica.
Nos testes equivalentes a um ano de exposição solar na Europa Central, o material à base de cebola manteve sua eficácia, enquanto alternativas como lignina ou íons de ferro perderam eficiência.
A estrutura transparente da nanocelulose permitiu a transmissão de mais de 80% da luz visível entre 650 e 1.100 nanômetros, faixa essencial para gerar eletricidade. Já opções mais escuras, como a lignina, reduziram a transparência e comprometeram a produção de energia.
Segundo o pesquisador Rustem Nizamov, “filmes de nanocelulose tratados com corante de cebola roxa são uma opção promissora em aplicações onde o material protetor deve ser de base biológica”.
Potenciais aplicações além da energia solar
A inovação pode ir além dos painéis solares. Pesquisadores sugerem usos em:
- Embalagens inteligentes de alimentos, com sensores biodegradáveis para monitorar frescor e contaminação.
- Eletrônicos portáteis, com células solares ultrafinas.
- Roupas inteligentes, capazes de gerar energia limpa em movimento.
- Proteção UV para células de perovskita e fotovoltaicas orgânicas.
Apesar do otimismo, especialistas alertam que levar a tecnologia do laboratório para a indústria exige tempo e investimento. É preciso avaliar a escalabilidade da extração do corante da cebola roxa, o desempenho do material em diferentes condições climáticas e a viabilidade econômica frente aos polímeros derivados do petróleo.
Para a professora Kati Miettunen, coautora do estudo, novos materiais capazes de aumentar a vida útil dos painéis solares interessam tanto à indústria florestal quanto à eletrônica.
A pesquisa mostra que até mesmo resíduos naturais, como cascas de cebola, podem se tornar aliados da energia solar sustentável, reduzindo o uso de plásticos e tornando essa fonte limpa ainda mais eficiente.
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