Uma equipe composta por cinco alunas do ensino médio, com idade entre 15 e 16 anos, de um colégio estadual de Itumbiara, em Goiás, conquistou o segundo lugar em um programa global da Samsung que incentiva e seleciona iniciativas de inovação para a sociedade. O resultado da 12ª edição do Solve for Tomorrow Brasil, voltado exclusivamente para estudantes de escolas públicas, foi divulgado na manhã desta terça-feira, 2, no Teatro B32, em São Paulo, com cobertura exclusiva do Jornal Opção.

As estudantes do Centro de Educação em Período Integral (Cepi) Dom Veloso, lideradas por uma professora doutora da unidade, criaram um larvicida natural, baseado em uma planta encontrada em abundância no Brasil, que faz com que a fêmea do Aedes aegypti, o mosquito da dengue, se transforme em um “agente de combate” à sua própria espécie.

Denominado Efeito de Extratos Vegetais em Aedes aegypti visando uso em estações disseminadoras de larvicidas, o projeto foi conduzido ao longo de quase um ano pela professora Ayanda Ferreira e as estudantes do 1º ano Íris Cecília, Anna Flávia Oliveira, Maria Gabriela Pereira, Núbia Carvalho e
Anna Clara Souza, e conseguiu o feito de desbancar outros 3,6 mil projetos de escolas públicas do Brasil inteiro inscritos no programa da Samsung.

Em entrevista à reportagem, Ayanda, que já trabalha com larvicidas naturais há alguns anos, contou ter identificado um aumento preocupante de casos de dengue em Goiás, até mesmo em períodos de seca — para se ter uma ideia, dados do Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO) indicam que, até outubro de 2025, o estado registrou 91.301 casos da doença.

Diante disso, a professora decidiu propor às alunas a criação de um novo larvicida, dentro da mentoria do Solve for Tomorrow, que fosse capaz de conter a proliferação do mosquito causador da doença. O projeto consiste, basicamente, na substituição de produtos tóxicos utilizados em estações disseminadoras de larvicidas, também conhecidas como EDLs, por larvicidas naturais. Com isso, o larvicida natural gruda nas “patas” da fêmea do mosquito, que leva a substância aos criadouros de difícil acesso e, assim, mata todos os outros mosquitos ainda em desenvolvimento.

O resultado obtido nas testagens, segundo Ayanda, surpreendeu pela eficácia. “Sugeri que laborássemos um projeto de pesquisa para testar alguns larvicidas naturais no controle do Aedes aegypti. No ano anterior, eu havia feito um teste com a saboneteira, que é a Sapindussaponaria. O resultado havia sido surpreendente. A metodologia consistia em colocar o extrato da planta em contato com as larvas e observar o efeito após 24, 48 e 72 horas. Quando fomos fazer a primeira observação, com 24 horas, todas as larvas já estavam mortas”, detalhou a professora, que destacou que o cravo-da-índia foi incluído nos testes, o que potencializou a eficácia do larvicida.

Foram instaladas 18 EDLs em campo e, a partir delas, coletados e monitorados o estado dos ovos e das larvas do mosquito. O objetivo: saber se essa ideia pode diminuir a quantidade de focos, em parceria com o Departamento de Endemias do município de Itumbiara.

O “quinteto fantástico”

Núbia Carvalho, uma das integrantes do projeto que conquistou o 2º lugar no pódio nacional, revelou ao Jornal Opção que a matéria-base para o larvicida foram as saboneteiras coletadas no próprio Cepi Dom Veloso. “Tiramos a semente e deixamos de molho por sete dias. Então, coamos e obtivemos o extrato. Quanto ao cravo-da-índia, fervemos e coamos para obter o extrato. Mas, para a aplicação nos EDLs, era necessária a gelificação. Então usamos amido de milho pré-gelatinizado”, resume.

Para Maria Gabriela, outra integrante do projeto, uma das maiores vantagens do larvicida é o seu caráter inofensivo para o meio ambiente, ao mesmo tempo em que combate o transmissor de uma das doenças que mais matam em Goiás. “Trouxe a possibilidade de ser uma solução mais sustentável”, disse. A afirmação é corroborada pela colega Anna Clara, que disse ter começado o experimento sem grandes expectativas e conhecimento, mas que, ao final, percebeu tratar-se de um grande passo rumo ao combate ao Aedes aegypti. “Tive esperança de que aquilo poderia resolver. E resolve.”

Já Anna Flávia, que, ao lado das colegas do Cepi Dom Veloso, também participou do projeto, disse ao Jornal Opção ter ficado honrada pela classificação e pela conquista da premiação. “Nunca duvidei da nossa capacidade, sempre soube que íamos chegar como finalistas. É uma alegria para mim”, comentou.

Para Íris Cecília, aluna que completa o “quinteto fantástico” do projeto contra o Aedes, uma das lições mais importantes da experiência foi a valorização do ensino e da pesquisa. “Muitas pessoas ainda não reconhecem o valor da educação e da escola que têm. A escola e a gestão fazem tudo do bom e do melhor para oferecer uma educação de qualidade aos alunos. Isso é essencial para que eles percebam que o estudo os leva a lugares distantes, abre portas”, concluiu.

Equipe goiana foi reconhecida em evento promovido pela Samsung | Foto: Ton Paulo/Jornal Opção

O poder da mulher na ciência

Gestora do Cepi Dom Veloso há 11 anos, Lauricea Aquino, que acompanhou a equipe de Ayanda em São Paulo, não escondeu a emoção ao destacar a conquista de uma equipe oriunda de sua unidade, além disso, integralmente feminina. “Estamos muito satisfeitos porque tudo isso é resultado do trabalho de uma equipe comprometida. E fico ainda mais feliz ao perceber que, cada vez mais, temos mulheres na ciência, dedicadas à pesquisa e empenhadas em contribuir para a população. Na verdade, a mulher é aquilo que ela quiser ser, onde quer que esteja”, apontou.

A educadora também evidenciou o poder que a escola tem na sociedade à qual ela consegue se integrar, situação que, segundo ela, depende diretamente do preparo de seus profissionais. “A gente precisa da ciência. A gente precisa da tecnologia. E precisamos também de mulheres doutoras. E a prova disso está aqui: nossa professora é doutora em Educação. Ela nunca deixou de estudar. Sempre segue em frente, busca, se aperfeiçoa. Assim como a gestora e os coordenadores, que também estão constantemente em busca do melhor”, arrematou.

O Solve for Tomorrow

Solve for tomorrow é uma iniciativa global de Cidadania Corporativa da Samsung e o principal programa da empresa na América Latina. No Brasil, é realizado anualmente desde 2014 e tem abrangência nacional, com coordenação geral do Cenpec.

A iniciativa é conhecida por estimular a criação de protótipos inovadores com base na metodologia STEM (sigla em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) para solucionar problemas e atender demandas reais da sociedade, e é exclusiva para escolas públicas.