Com problema histórico e crônico, lixão de Piracanjuba pega fogo novamente; veja vídeo

Um incêndio foi registrado no lixão de Piracanjuba na segunda-feira, 23. Um vídeo mostra o foco de fogo, no entanto, o local parece estar em chamas a meses. Mesmo com bloqueios pelo Ministério Público no último ano, o local ainda é utilizado pela prefeitura para descartar resíduos sólidos e os incêndios seguem recorrentes. Os bombeiros monitoram o local diariamente, segundo o comandante da 25ª Companhia Independente Bombeiro Militar, Lucas Reis. 

“A gente vai lá todos os dias, mas o lixão está queimando há meses. É um problema muito sério, porque o lixão é aberto, na margem da rodovia, não tem nenhum tipo de restrição. Então, qualquer pessoa vai lá, joga lixo e põe fogo”, explicou Lucas ao Jornal Opção. O foco foi contido, por enquanto. Ainda não há informações sobre o que ou quem causou o incêndio, sendo que qualquer tipo de fogo sem notificação e documentação é crime ambiental.

A prefeita de Piracanjuba, Lenízia Canedo, disse que este é um “problema histórico”, em nota oficial. Ela afirmou que gestões anteriores não deram atenção à área e que não consegue resolver a situação imediatamente por “ausência de um plano eficaz e pela inviabilidade de contratos preexistentes”. A prefeita garantiu que vai construir uma nova área de descarte de resíduos ainda em 2025.

“Reitero nosso compromisso em encerrar este ciclo vicioso ainda este ano, com a implementação de um novo sistema de descarte com transbordo direto para um aterro sanitário próximo”, diz a nota – confira o texto na íntegra abaixo.

Problema histórico

Os bombeiros apresentaram, em ofício, ao MP-GO um documento que aponta a complexidade de combater esses focos de incêndio no lixão por conta da natureza do material, que exige um esforço maior do que ocorrências em superfície. “O fogo em lixões consome material orgânico e inorgânico acumulado em camadas, resultando em focos persistentes e de difícil acesso”, aponta o documento. 

Segundo Lucas, foram listadas ações técnicas específicas necessárias para conter os incêndios, que extrapolam a competência emergencial dos bombeiros. Ele afirma que essas ações precisam partir da Prefeitura de Piracanjuba. “Esse tipo de combate tem que ser feito com revolvimento com material orgânico. A prefeitura tem que vir com maquinário, movimentar para a gente jogar isso para cima e jogar água. E primeiramente fazer o fechamento do local, restringir o acesso”, diz Lucas. 

Por outro lado, a nota da prefeita afirma que equipes estão no local diariamente com “caminhões-pipa, pás mecânicas e tratores, abrindo acessos e controlando o fogo dentro das nossas possibilidades e limites de segurança”. Para Lucas, os bombeiros estão atendendo essa mesma ocorrência de incêndio há meses. Confira as ações que os bombeiros consideram necessárias para conter o fogo no local:

• Remoção mecânica realizada por máquinas pesadas e revolvimento do material em combustão, com posterior destinação ambientalmente adequada;
• Disponibilização de rede de água ou reservatórios próximos, com sistema de molhamento constante para resfriamento da massa em combustão;
• Monitoramento da temperatura e emissão de gases, com apoio de técnicos ambientais, a fim de avaliar a persistência da combustão subterrânea e os riscos associados;
• Cobertura total da área com solo compactado, impedindo o contato com o oxigênio atmosférico e eliminando a possibilidade de reignição;
• Restrição de acesso da população à área afetada, visando impedir o descarte irregular e preservar as medidas de controle implementadas;
• Encerramento definitivo da disposição de resíduos no local, com readequação conforme normas ambientais vigentes, prevenindo reincidência.

Segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o local foi fiscalizado em 27 de março e constatado que a área continua funcionando como lixão a céu aberto. Em nota, a Semad afirmou que município iniciou o processo de licenciamento ambiental para encerramento de lixão no Sistema Ipê em 1º de agosto de 2024, porém esse processo foi arquivado em janeiro de 2025.

Em 2014, o município foi autuado por lançamento inadequado de resíduos sólidos urbanos, com multa diária de R$ 1.000,00. A autuação foi confirmada em todas as instâncias e o débito está inscrito em Dívida Ativa.

Dificuldades para conter o incêndio

Segundo o comandante dos bombeiros, pelo espaço ser grande – estimado em quase 57 mil metros quadrados -, o incêndio queima em profundidade: “o fogo vai entrando para dentro do material orgânico, do lixo que está sendo colocado, e ele queima a até três metros de profundidade”, disse. 

Com isso, ele aponta o risco de transitar em cima desse lixo e ser “absorvido”. O fogo pode criar espaços vazios na parte interna do monte, que pode ceder com o peso da equipe. Além disso, a combustão cria o risco de inalar fumaça tóxica.

O Jornal Opção entrou em contato com o delegado de Polícia Civil do município, que não respondeu até a última atualização desta matéria. O espaço continua aberto para manifestação.

Nota na íntegra da prefeita de Piracanjuba

“É com grande preocupação que me dirijo à população de Piracanjuba para informar sobre a recorrência de incêndios em nosso antigo lixão. Este é um problema histórico, herdado de gestões anteriores que, infelizmente, não deram a devida atenção à gravidade da situação. A dificuldade se agrava pela ausência de um plano eficaz e pela inviabilidade de contratos preexistentes de transbordo, o que nos impede de solucionar a questão da noite para o dia.

No entanto, quero assegurar a todos que a Prefeitura de Piracanjuba está agindo de forma incansável desde o primeiro dia da nossa gestão. Temos em andamento um projeto robusto para a construção de uma nova área de descarte de resíduos previamente selecionados, com emendas parlamentares que garantem a viabilidade do projeto. 

Além disso, estamos trabalhando em conjunto com as Secretarias de Meio Ambiente e Obras, e contamos com o apoio fundamental do Corpo de Bombeiros, que nos auxiliam com maquinários para conter as chamas, uma vez que o acesso ao local é perigoso para nossos equipamentos.

Nossas equipes estão no local diariamente, com caminhões-pipa, pás mecânicas e tratores, abrindo acessos e controlando o fogo dentro das nossas possibilidades e limites de segurança. A conscientização da população sobre o descarte correto e a prevenção de novos incêndios é crucial. Reitero nosso compromisso em encerrar este ciclo vicioso ainda este ano, com a implementação de um novo sistema de descarte com transbordo direto para um aterro sanitário próximo, garantindo um futuro mais limpo e saudável para Piracanjuba.

Lenízia Canedo, prefeita de Piracanjuba”

Nota da Semad na íntegra

”A propósito das informações solicitadas, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) esclarece que o município de Piracanjuba iniciou o processo de licenciamento ambiental para encerramento de lixão no Sistema Ipê em 1º de agosto de 2024, conforme estabelecido pelo Programa Lixão Zero, porém esse processo foi arquivado em janeiro de 2025. Posteriormente, em 24 de abril de 2025, foi protocolada nova solicitação de licença ambiental para encerramento de lixão, que atualmente se encontra em análise.

A Semad enviou equipes de fiscalização ao local no dia 27 de março de 2025, em que foi constatado que a área continua funcionando como lixão a céu aberto, sem a adoção de medidas de mitigação de danos ou de adequações técnicas previstas na legislação ambiental.

Em 2014, o município foi autuado por lançamento inadequado de resíduos sólidos urbanos, com multa diária de R$ 1.000,00. A autuação foi confirmada em todas as instâncias e o débito está inscrito em Dívida Ativa.

Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – Governo de Goiás”

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