Com carne e açúcar mais afetados, tarifaço dos EUA ameaça PIB de Goiás em R$ 1,4 bilhão

01 agosto 2025 às 18h12

COMPARTILHAR
Os Estados Unidos anunciaram a implementação de um pacote de medidas tarifárias que impõe uma taxa de 50% sobre diversos produtos brasileiros, com vigência a partir de 6 de agosto. Para Goiás, que se destaca como o segundo maior exportador de carnes e açúcar para o mercado norte-americano, a decisão representa um risco significativo para a economia.
Estudos elaborados pela Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG) e pelo Instituto Mauro Borges (IMB) dimensionam os impactos, apontando para uma redução estimada de R$ 1,36 bilhão no Produto Interno Bruto (PIB) de Goiás, o que equivale a aproximadamente 0,36% do PIB estadual.
Em 2024, Goiás exportou US$ 408,5 milhões para os Estados Unidos, que se consolidaram como o terceiro destino das vendas externas do estado, representando 3,3% das exportações goianas. A pauta exportadora para os EUA é fortemente industrial, com 94,5% dos produtos provenientes da indústria de transformação.
Os principais produtos exportados incluíram carne bovina desossada congelada (US$ 150,4 milhões), ferroníquel (US$ 87,3 milhões) e outros açúcares (US$ 73,8 milhões). Preocupa o fato de que carne bovina e açúcar, que juntos representam mais de 70% da pauta goiana para os EUA, serão integralmente taxados em 50%.
Embora minérios como o ferroníquel estejam isentos da tarifa, a concentração das exportações em poucos produtos deixa o estado vulnerável. Goiás exportou cerca de US$ 12,3 bilhões em 2024, com uma forte concentração em soja, carnes, minérios, derivados de soja e açúcar.
A China absorveu 44% das exportações goianas, o que posiciona os EUA como o segundo parceiro comercial de Goiás. Os estudos do IMB revelam que o tarifaço terá efeitos diretos e indiretos consideráveis.
Efeitos diretos
A estimativa é de uma redução de R$ 553,8 milhões nas exportações goianas em 2025. O setor de abate e produtos de carne será o mais afetado, com uma perda de R$ 301,7 milhões, seguido pela fabricação e refino de açúcar (R$ 142,7 milhões).
A tarifa de 50% tornará a carne bovina goiana economicamente inviável no mercado dos EUA, levando o setor produtivo a considerar a suspensão dos embarques. Inclusive, as exportações de carne bovina para os EUA já recuaram cerca de 67% desde abril de 2025, antecipando os efeitos da medida.
Efeitos indiretos
O choque tarifário se propagará por toda a cadeia produtiva, afetando insumos e serviços. O IMB estima impactos indiretos de R$ 802,75 milhões. Setores como pecuária de apoio (R$ 116,8 milhões), agricultura e pós-colheita (R$ 103,6 milhões), comércio atacadista e varejista (R$ 76,1 milhões) e transporte terrestre (R$ 54,1 milhões) serão significativamente atingidos.
A perda de mercado e a suspensão das vendas para o exterior podem aumentar a oferta interna de carne e açúcar, derrubando os preços pagos a pecuaristas e usineiros, gerando desarranjo financeiro e ameaça a empregos.
Somando os efeitos diretos e indiretos, o impacto total no PIB de Goiás pode chegar a R$ 1,36 bilhão. A indústria concentrará R$ 860,9 milhões desse impacto, seguida pela agropecuária (R$ 250,1 milhões) e serviços (R$ 245,6 milhões).
Mesmo com a isenção de 694 produtos anunciada por Donald Trump, a manutenção da tarifa sobre carnes e açúcar orgânico impede que Goiás se beneficie amplamente, pois esses produtos respondem por mais de 90% do impacto total.
A indústria de carnes, sozinha, é responsável por mais da metade do impacto, com R$ 340,1 milhões. Diante da gravidade da situação, o Governo de Goiás e o Governo Federal, em articulação com entidades setoriais, têm tomado medidas.
Medidas
O Governo de Goiás lançou duas linhas de crédito em julho de 2025, uma delas com juros de 10% ao ano, para auxiliar as empresas exportadoras a se reorganizarem. O governo estadual e o setor produtivo também participam de negociações com o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) para buscar novos mercados, especialmente na Ásia (Japão e China), e reverter as tarifas.
O Governo Federal, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Ministério da Agricultura e o Itamaraty intensificam negociações com Washington e parceiros na Organização Mundial do Comércio (OMC).
A CNI e as federações da indústria defendem fóruns de diálogo e avaliam eventuais medidas de reciprocidade caso não haja revisão da tarifa. Há também um trabalho para acelerar acordos comerciais com a União Europeia (Acordo Mercosul-UE) e países asiáticos.
Leia também: