Clínica de reabilitação que deixou cinco mortos após incêndio não tinha alvará e filial já havia sido interditada

01 setembro 2025 às 09h15

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Na madrugada de domingo, 31, um incêndio atingiu o Instituto Terapêutico Liberte-se, clínica de recuperação de dependentes químicos localizada no Núcleo Rural Desembargador Colombo Cerqueira, no Paranoá (DF). As chamas, que começaram por volta das 3h, resultaram em cinco mortes e deixaram 11 feridos. A unidade não possuía alvará de funcionamento e outra clínica ligada ao mesmo instituto já havia sido interditada anteriormente.
O fogo se espalhou rapidamente pela sede da clínica, onde estavam cerca de 20 internos. Outros 26 pacientes ocupavam dormitórios em áreas externas. Cinco homens não resistiram e morreram carbonizados: Darley Fernandes de Carvalho, José Augusto, Lindemberg Nunes Pinho, Daniel Antunes e João Pedro Santos.
Enquanto isso, 11 pessoas foram resgatadas com vida, mas apresentavam queimaduras e sinais de intoxicação por fumaça. Elas receberam atendimento no local e, em seguida, foram encaminhadas aos hospitais regionais do Paranoá (HRL), Sobradinho (HRS) e da Asa Norte (HRAN). As idades das vítimas variam entre 21 e 55 anos.
De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), ao chegarem à clínica, os militares encontraram o prédio tomado por fumaça e chamas intensas saindo pelo telhado. O combate ao fogo foi feito com uso de espuma e mangueiras de alta pressão.
Histórico de problemas e interdições
O Instituto Terapêutico Liberte-se já tinha um histórico de problemas com a fiscalização. Em 12 de julho de 2024, uma de suas filiais, localizada em Sobradinho, foi interditada pela Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal) por operar sem licença. A autuação ocorreu após denúncia registrada na Ouvidoria do GDF.
Inicialmente, após o ocorrido no Paranoá, a secretaria chegou a informar que a unidade incendiada havia sido interditada, mas horas depois corrigiu a informação. “A informação anterior, de que a clínica havia sido interditada, decorre de equívoco na pesquisa, pois existe outra clínica de mesmo nome e dono, em Sobradinho, que não possuía licenciamento e, essa sim, foi interditada”, explicou a pasta em nota oficial.
Embora os CNPJs das duas unidades sejam diferentes, ambas têm a mesma sócia-presidente: Kelly Alves Barbosa da Silva.
O proprietário e diretor da clínica, Douglas Costa de Oliveira Ramos, 33 anos, prestou depoimento à Polícia Civil e admitiu que a unidade funcionava há cinco meses sem alvará de funcionamento. Ele afirmou ter solicitado a autorização, mas não obteve retorno. Além disso, o Corpo de Bombeiros nunca realizou vistoria no local.
O Instituto também não possuía o licenciamento necessário para atuar como casa de recuperação. O tratamento oferecido consistia em internação por seis meses, com visitas mensais e direito a ligações semanais. Após prestar esclarecimentos à polícia, Douglas Ramos foi liberado.
A direção do Instituto divulgou uma nota lamentando o ocorrido: “Lamentamos profundamente o trágico incêndio ocorrido em nossas dependências na madrugada deste domingo (31), que resultou em perdas irreparáveis. Manifestamos nossa solidariedade e consternação às famílias e amigos das vítimas, compartilhando a dor deste momento de imensa tristeza.”
O comunicado ainda assegurou que a clínica está colaborando com as autoridades. “Fornecendo todas as informações necessárias para esclarecer as circunstâncias do ocorrido. Reiteramos nosso compromisso com a transparência e com a apuração rigorosa dos fatos”, ressaltou.
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) conduz as apurações para identificar as causas do incêndio. Até o momento, não há informações sobre a origem das chamas. O inquérito deve analisar a responsabilidade da direção da clínica, sobretudo diante da ausência de licenças e da suspeita de que os internos estavam trancados durante o incêndio.
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