As eleições municipais de 2024 em Goiás marcam um capítulo marcante na política do estado, refletindo uma luta acirrada entre a extrema-direita e a direita mais tradicional. A vitória de Sandro Mabel (UB) em Goiânia, com 55,53% dos votos, sobre Fred Rodrigues (PL), candidato da extrema-direita, reafirma a consolidação da direita moderada no cenário político goiano.

Pedro Mundim, cientista político, destaca que, embora a direita esteja firmemente estabelecida em Goiás, com uma trajetória que remonta a 2010, a dinâmica política é suscetível a mudanças. “No curto prazo, não vemos um cenário para grandes mudanças, mas isso não significa que essa configuração seja imutável”, pondera. Ele sugere que, embora a extrema-direita não tenha expandido significativamente sua influência, a polarização continua a ser um tema preponderante.

Ludmila Rosa, cientista política, por sua vez oferece uma perspectiva crítica sobre o desempenho da extrema-direita, destacando que, apesar das expectativas do PL, que esperava conquistar entre 50 e 55 prefeituras, apenas 26 candidaturas conseguiram sucesso. “Não vejo com base em números o crescimento da extrema-direita”, afirma, ressaltando que o fortalecimento da União Brasil e do MDB, aliados do governador Ronaldo Caiado (UB), foi um resultado notável dessas eleições.

O apoio de Caiado a Mabel não apenas quebrou tabus sobre a capacidade de um governador de influenciar a eleição municipal, mas também consolidou sua posição como uma liderança viável dentro da direita para as próximas disputas, especialmente com o objetivo de alcançar a presidência em 2026. Essa vitória representa um “tijolo” adicional em seu projeto político, criando uma base sólida para suas futuras ambições.

As prioridades e políticas públicas que vão crescer dessa nova configuração tendem a ser influenciadas pela necessidade de gestão eficaz e resultados concretos, considera Ludmila. “A agenda das candidaturas vitoriosas foi muito focada na gestão e na responsabilidade fiscal, além de um apelo à segurança pública, que se tornou o tema central nas eleições”, observa. Este enfoque pragmático reflete uma demanda do eleitor por uma política mais moderada, que se afasta dos extremos.

Ambos os cientistas políticos concordam que o espaço para a esquerda e as forças de oposição é um desafio. Mundim diz que a esquerda precisa adotar uma postura crítica e encontrar novas estratégias para ampliar sua presença no estado. Ludmila complementa que é essencial para esse campo político “se reinventar no discurso e nas práticas”, apresentando novas lideranças que possam dialogar de forma mais eficaz com a população.

A análise do cenário político em Goiás, portanto, revela um fortalecimento da direita moderada, com um recuo da extrema-direita em termos de impacto eleitoral. Com um eleitorado que parece favorecer a moderação, os partidos da esquerda enfrentam o imperativo de modernizar suas abordagens e comunicar suas propostas de forma mais conectada com as prioridades da população.

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