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A Livraria da Vila inaugura sua primeira loja em Goiás nesta terça-feira, 2, no Flamboyant Shopping, em Goiânia. A nova loja oferece 45 mil itens, incluindo livros, jogos, brinquedos e artigos de papelaria, com um espaço especial para a literatura infantil.

Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, a CEO da Livraria da Vila, Eliana Menegucci, fala sobre o mercado editorial no Brasil, fechamento de grandes livrarias, falta de incentivo público à leitura e mostra ascenção do interesse dos mais jovens pelos livros. Confira abaixo na íntegra.

Recentemente, Goiânia sofreu com o fechamento de grandes livrarias. O que motivou a vinda da Livraria da Vila para a Capital de forma física? Como foi o processo de implantação?

A crise não foi uma crise do setor, mas uma crise de duas grandes redes. Tanto é que você vê, não só a Vila, como outras redes de livraria ocupando esses espaços que foram deixados por elas ao longo desses últimos anos. O motivo do fechamento eu não sei qual é exatamente, mas quando um negócio prospera ou fracassa, nunca é uma coisa só. Existem vários fatores que a gente pode analisar dentro desse cenário. Existe sim um custo, como você falou, em grandes redes, um custo alto de metro quadrado. Tanto é que a Vila começou há alguns anos e foi uma das pioneiras em fazer lojas mais compactas para conseguir aproveitar melhor os espaços e conseguir fazer esse processo de expansão. Existe uma guerra de preços hoje na internet que é muito predatória. A internet não tem os mesmos custos de uma livraria física e isso dificulta os negócios em si das livrarias. Mas a nossa ideia de ir justamente para o Flamboyant foi porque nós temos abrimos em Brasília recentemente duas lojas e temos dado uma experiência muito gostosa. E Goiânia, especificamente o Flamboyant, é um shopping de muito fluxo, tradicional, com um público muito diverso e já teve essas duas livrarias ocupando esse espaço. Nós recebemos esse convite do Flamboyant, resolvemos ir e estamos muito felizes com essa parceria. E tanto é que nós estamos recebendo muitas, muitas mensagens no nosso Instagram, mensagens super carinhosas do público de Goiânia, dizendo que estão felizes que vai ter uma livraria física e que vai chegar uma nova livraria.

Pensando em pesquisas de mercado, qual foi o prognóstico para Goiânia? Como vocês avaliam o mercado editorial da Capital?

Goiânia a gente enxerga como sendo um mercado muito promissor, porque é uma cidade que está crescendo. Acho que ela vem crescendo nos últimos anos e tem uma população, não só em Goiânia, mas no Brasil como um todo, carente de livrarias. Segundo último anuário da ANL, que é a Associação Nacional de Livrarias, o Brasil tem 2.972 livrarias em mais de 5.500 municípios. Então nós temos muitas cidades sem livrarias. Falta de livraria física no Brasil.

Um levantamento mostrou que o ideal seria que para cada 10 mil pessoas houvesse uma livraria no Brasil. E aí eu coloco em contraste com o dado que você acaba de trazer. Nesse sentido, seria mais uma falha, uma ausência das livrarias ou talvez uma falha dos leitores?

Eu acho que não é uma falha nem dos leitores e nem das livrarias. Eu acho que é uma falta de incentivo à leitura, políticas públicas ao longo de muitos anos, para que as pessoas tenham mais acesso ao livros. Não só faltam livrarias no Brasil, faltam bibliotecas também. É preciso incentivo à leitura, espaço para as pessoas lerem e espaço para as pessoas comprem. Nós costumamos dizer que o livro acontece na livraria. A livraria física é um lugar de descoberta. Onde você chega, você for lê, folheia, você descobre outros títulos, outros autores, que você consegue trocar com os vendedores. Nosso espaço proporciona muito isso. Nós somos muito fortes em literatura infantil. Nas nossas lojas tem um espaço dedicado para as crianças. A loja do Flamboyant está vindo com um espaço muito lindo e lúdico. Quando você vê os pequenos tendo acesso aos livros percebe que eles gostam e isso faz você ter um gosto pela leitura ao longo da vida. Começa nessa primeira infância. Precisa ter mais políticas públicas para isso, para que o brasileiro leia mais. Essa guerra de preços na internet é um problema que você acaba inibindo principalmente os pequenos a abrirem mais livrarias.

Pensando nessas gerações mais novas, que elas já estão imersas desde o nascimento nesse contexto de redes sociais, de TikTok, de Instagram, é sempre muita informação e é tudo num ritmo muito acelerado. Existe alguma estratégia ou alguma tática para, de fato, cultivar esses leitores?

É curioso você falar isso. Nós estamos vendo ultimamente uma procura maior dos jovens por livros, principalmente os livros que são indicados pelos influencers, o que acontece na internet. Então, eles já chegam na loja procurando o livro que eles viram. Tanto é que, recentemente, nós começamos a ter espaços ali já desses livros, dessas indicações que vêm nas redes. Eles adoram, porque já sabem que tem aquele espaço ali. Nós tivemos recentemente, não sei se você chegou a ver, uma influenciadora americana que fala do Memórias Póstumas de Brás Cubas e depois ela leu Dom Casmurro. Em junho, Memórias Póstumas de Brás Cubas já ficou em quarto lugar nos mais vendidos.

*Com informações de Guilherme Andrade