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Na última semana, seis pessoas foram presas suspeitas de raptar para internar à força uma jovem de 26 anos em uma clínica irregular, em Goiânia. Entre os presos, a mãe, Eliane de Paula, de 51 anos, e a irmã da jovem, Isabela de Paula, de 28.

Agora, o caso ganha um novo capítulo: a defesa das duas se manifestou e divulgou vídeos, áudios e documentos que apontam para uma relação já conturbada no âmbito familiar envolvendo denúncias na polícia e até uma medida protetiva pedida pela mãe contra a filha.

Além de Eliane e Isabela, foram presos na ação policial Leonardo Carneiro de Abreu Vieira, dono da clínica; o irmão dele, Christiano Carneiro de Abreu Vieira; a enfermeira Rosane de Fátima Oliveira; e Andiara Silva da Costa, que auxiliava no transporte dos pacientes até o Espaço Terapêutico Jandaia, que se apresentava como centro de recuperação de dependentes químicos, embora não possuísse autorização para funcionar.

De acordo com a Polícia Civil de Goiás, a clínica não tinha alvará de funcionamento e nem psiquiatra responsável, como determina o Conselho Federal de Medicina. Também não havia laudos psiquiátricos ou exames toxicológicos que justificassem as internações.

No entanto, mesmo assim mãe e filha da vítima teriam ordenado aos funcionários da clínica o rapto da jovem para a internação forçada. Um vídeo que já circula, inclusive, mostra o exato momento em que a jovem de 26 anos é raptada pelos funcionários no estacionamento de um condomínio.

Após audiência de custódia, a Justiça decidiu converter a prisão temporária dos seis em preventiva.

Medida protetiva

Em nota divulgada pelo advogado Samuel Aquino, a defesa de Eliane e Isabela alegou que as duas não tinham conhecimento da situação irregular do espaço terapêutico e que Isabela “conversou com os responsáveis pelo local, sempre demonstrando preocupação com o bem-estar da irmã”.

“Dessa forma, Isabela foi convencida de que o tratamento era adequado e representava o melhor para toda a família. Assim, a família também foi vítima da clínica, pois acreditou na promessa feita de que essa era a intervenção correta e que M. I. S. [vítima] ficaria melhor”, argumentou.

Ainda segundo o advogado, a família teria decidido apelar para a internação forçada da jovem devido à sua “conduta violenta e desrespeitosa” em relação aos seus pais e irmã.

Leia também: Justiça mantém prisão de grupo acusado de sequestro e internações ilegais em clínica clandestina de Goiânia

Em uma decisão datada de junho deste ano, ao qual a reportagem teve acesso, a Justiça acatou um pedido de Eliane e concedeu medida protetiva contra a filha. Conforme o RAI registrado na polícia, a mulher afirmou que a jovem se referia a ela com palavrões como “Vadia, puta e desgraçada” e teria ameaçado de morte devido à disputa por uma propriedade rural.

“O pedido encontra-se instruído com o relato da requerente, documentos, fotos, vídeos e relato da testemunha I. de P. S., no qual é descrita a prática da violência doméstica e familiar contra a mulher [Eliane]”, argumentou o juiz Demétrio Mendes Ornelas Júnior ao determinar que a jovem, que posteriormente foi sequestrada para a internação forçada, mantivesse uma distância mínima de 200 metros da mãe.

A decisão também a proibiu de manter contato com a mulher, “seja por telefone, por mensagens de celular, pela internet, ou qualquer outro meio de comunicação”.

A jovem, por sua vez, é autora de três ações na Justiça contra a irmã, Isabela, três contra a mãe, Eliane, e figura como polo passivo de duas ações, uma delas tendo o Ministério Público como autor.

Participação em audiência

De acordo com a Polícia Civil ao deflagrar a operação Anathema, que resultou na prisão das seis pessoas envolvidas no caso da rapto da jovem, o objetivo da mãe e filha da vítima era impedir que ela participasse de uma “audiência judicial relacionada às questões patrimoniais da família”.

A defesa de Eliane e Isabela, por sua vez, chamou a alegação de “falsa e equivocada” e disse que a vinculação dos fatos a questões financeiras “é uma distorção irresponsável e sensacionalista, cujo único objetivo é camuflar a verdade”. “As alegações apresentadas até o momento não refletem a totalidade dos fatos e ignoram o grave e reiterado contexto de violência familiar que motivou os acontecimentos”, disse.

O que diz a clínica

O Jornal Opção tentou contato com o Espaço Terapêutico Jandaia, mas não obteve sucesso.

No entanto, a defesa da clínica, que também representa Leonardo e Cristiano, em comunicado enviado ao g1, afirmou que o local jamais funcionou de forma clandestina, “tanto que possui as autorizações dos órgãos governamentais, como alvará emitido pelo corpo de bombeiros, dispensa de licença ambiental e outros”.

A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Rosane de Fátima e Andiara Silva. O espaço permanece aberto.