Na manhã ensolarada de uma sexta-feira em agosto, o som de um forró suave ecoava pelos corredores de uma construção nova na Vila Mutirão I. No pátio, dezenas de idosos dançavam e alguns apenas observavam, sorrindo, com uma xícara de café na mão. Essa cena, acontece dentro da recém-inaugurada Casa da Pessoa Idosa, inaugurada em julho deste, um espaço que combina moradia, lazer, inclusão social e assistência especializada.

A unidade foi criada para acolher pessoas com mais de 60 anos em situação de vulnerabilidade social. Com 24 casas individuais, totalmente mobiliadas, o espaço já está atendendo cerca de 189 idosos, embora a estrutura tenha capacidade para atender cerca de 500 usuários apenas nessa modalidade.

O projeto, financiado pelo Governo de Goiás, recebeu investimento superior a R$ 13 milhões, foi construído pela Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra) sob a coordenação da Secretaria de Desenvolvimento Social (Seds) e hoje é gerido pela Organização das Voluntárias de Goiás (OVG) em parceria com o Goiás Social.

A diretora de Unidades Socioassistenciais, Roberta Wendorf Carvalho, destacou o esforço do Estado para transformar a realidade de quem antes vivia em condições precárias. “A gente inaugurou essa unidade e o investimento feito foi de pouco mais de 13 milhões. Essa unidade, não sei se tem como ter noção, mas no passado ela era totalmente insalubre. Então, esse imóvel foi todo demolido e construído do zero”, afirmou ao Jornal Opção.

Segundo Roberta, a estrutura atual se diferencia por oferecer moradia individual, segurança, serviços de saúde e acompanhamento constante. Cada casa conta com ar-condicionado, cozinha equipada, banheiro adaptado, guarda-roupa, televisão e até botão de pânico para urgências dos moradores. A ideia, segundo ela, é garantir autonomia sem abrir mão de cuidados básicos: “O idoso, a partir do momento que ele entra aqui, ele só sai o dia que ele quiser, ou o dia que, infelizmente, vier a óbito”, explicou.

Segundo Roberta, a maioria dos acolhidos vive em situações precárias, muitas vezes sem vínculos familiares ou condições de arcar com aluguel. 

“É uma casa dos sonhos para um idoso que é vulnerável, um idoso que não tem vínculos familiares, ele está ali batalhando para ter uma moradia, às vezes não tem condição de pagar um aluguel, mora num lugar totalmente insalubre. E aí ele, de repente, consegue vir morar num lugar desse, eu acho que é uma satisfação tanto para a gente ver essa entrega, ver a felicidade do idoso, a segurança do idoso, quanto para ele que vai viver dignamente”, disse.

O processo de admissão, no entanto, exige tempo e paciência. Os novos moradores precisam apresentar exames de saúde, laudos que comprovem condições físicas para as atividades e documentação formalizada por meio de contratos de prestação de serviços. Para participar do Centro de Convivência, o processo é semelhante, com exigência de idade mínima de 60 anos, triagem social e exames médicos.

Segundo ela, quase todas as casas já têm idosos designados, mas alguns ainda aguardam liberação técnica. “Por questão de segurança, por medida de segurança, a gente está fazendo uma revisão, através da Goinfra, na tubulação de gás. A gente identificou uma perda de pressão, mas isso já está sendo solucionado em umas duas casas. Então, para garantir que está tudo perfeito, 100%, a gente vai liberar a entrada desses idosos assim que tiver o parecer técnico”, afirmou.

Mesmo com os ajustes, a expectativa é de que em até três meses todas as unidades estejam ocupadas e as atividades funcionando plenamente.

Histórias que ganham vida

Entre mesas cobertas por quitutes e o movimento de idosos que sorriam enquanto celebravam o Dia dos Pais, duas mulheres ilustravam o impacto do espaço que faz parte da iniciativa do governo estadual em redesenhar a forma como a cidade lida com o envelhecimento. Maria de Lourdes de Jesus, de 63 anos, contou animada: “Cheguei e aproveitei a festa, dancei e tomei café da manhã. Eu participo já da aula de artesanato daqui e participo de muitas coisinhas, tem muita coisa aqui, viu? É muito bom esse lar aqui que chegou para nós”.

Maria de Lourdes de Jesus, de 63 anos | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Já Nair Francisca de Oliveira, de 71 anos, descreveu como a proximidade da nova unidade facilitou sua rotina: “Eu moro perto daqui, mas não tão pertinho. Aqui eu estou fazendo diversas atividades já, faço artesanato, pilates e dança. É maravilhoso, é tudo uma coisa que a gente precisava aqui na redondeza, porque a gente não tinha nenhuma atividade perto.”

Nair Francisca de Oliveira, de 71 anos | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

As duas reforçam como as aulas, a convivência e a possibilidade de aprender novas habilidades se transformam em fatores de bem-estar. Maria de Lourdes destacou ainda o impacto emocional: “Se tiver um forrozinho, é melhor ainda. Aqui a gente virou uma família. Eu mesma em casa me sinto muito sozinha e vindo pra cá minha saúde até melhorou.”

A Casa da Pessoa Idosa foi pensada como um espaço multifuncional. Além das moradias, abriga um Centro de Convivência com atendimentos médicos, psicológicos, fisioterapêuticos e sociais. As atividades oferecidas já incluem pilates, dança, oficinas de artesanato e aulas de inclusão digital, nas quais idosos aprendem a lidar com aplicativos de transporte, navegação na internet e redes sociais.

“Já começamos uma atividade importante, que é a inclusão digital. O idoso, ele tem um contato com um smartphone, e aí ele aprende o básico, né? Que é mexer em um aplicativo da Uber, que é saber mexer em um browser, enfim, o básico para que ele não sofra tanto com a tecnologia”, explicou Roberta.

As aulas já despertaram entusiasmo. Maria de Lourdes comentou que deseja aprender a mexer no celular para se comunicar melhor. “Eu queria, como que chama aquele negócio de aprender mexer no celular? Da leitura? Eu quero aprender e é uma oportunidade muito boa de facilidade de mexer no celular, que, às vezes, é meio difícil”, disse.

Em breve, o espaço também terá hidroginástica em piscina aquecida e coberta, odontologia e terapias ocupacionais. Para garantir acesso seguro, cada participante passa por triagem médica e social, com exigência de laudos cardiológicos para atividades físicas.

Roberta destacou ainda a preocupação com a saúde preventiva: “A piscina, por exemplo, já foi entregue aquecida, mas vamos colocar cobertura térmica para evitar exposição solar e riscos como câncer de pele. É esse olhar cuidadoso que diferencia a unidade.”

O ingresso às casas-lares é direcionado a idosos em situação de vulnerabilidade que recebem até um salário-mínimo, sejam aposentados ou beneficiários do Benefício de Prestação Continuada (BPC). Além disso, é necessário ter autonomia funcional, não possuir doenças infectocontagiosas ou comprometimentos mentais graves e apresentar documentação completa.

“Cada um dos móveis nas casas do idoso foram escolhidos pessoalmente pela primeira-dama Gracinha Caiado, ela se preocupou com cada detalhe, em colocar os melhores móveis e eletrodomésticos para o conforto dos idosos que irão morar aqui, toda a equipe se envolveu para fazer isso se transformar em um lar de aconchego”, completou Roberta.

Essa seleção busca equilibrar a oferta de serviços com a real demanda da população idosa, cada vez mais crescente em Goiás. De acordo com dados do Goiás Social, somente em Goiânia já existem cinco unidades especializadas: os Centros de Idosos Vila Vida e Sagrada Família, os Espaços Bem Viver I e II e agora a Casa da Pessoa Idosa. Juntas, elas somam mais de 1.500 atendimentos mensais e já ultrapassaram a marca de 125 mil acolhimentos desde 2019.

Reaproximação de famílias e vínculos comunitários

Apesar de muitos acolhidos não contarem com apoio de parentes, a Casa da Pessoa Idosa promove encontros familiares sempre que possível. Datas comemorativas, como Dia das Mães, Dia dos Pais e Dia dos Avós, são aproveitadas para estimular a reaproximação.

Roberta lembra de casos em que esse esforço resultou em retornos inesperados: “A gente teve uns dois casos em que conseguimos retomar laços e o idoso voltou para a casa dos familiares. Não é impossível. Existem finais felizes”. Aproximadamente 70% dos idosos acolhidos contam com algum parente participando das reuniões propostas pela equipe socioassistencial.

Novos projeto no Setor Jaó

Enquanto a Casa da Pessoa Idosa consolida suas primeiras experiências, outro projeto já está em andamento. No bairro Jaó, uma unidade ainda maior começou a ser construída. A diretora Roberta revelou que a nova estrutura terá cerca de 50 casas e abrangerá as quatro modalidades de acolhimento: Casa Lar, ILPI, Centro de Convivência e Centro Dia.

“Vou dar um spoiler, tá? Essa unidade vai ser mais inovadora, mais moderna. A previsão de conclusão é de dois anos, mas já demos o primeiro passo com a limpeza do terreno”, disse.

Em um Estado onde o número de pessoas com mais de 60 anos cresce rapidamente, projetos como esse se tornam o diferencial para garantir qualidade de vida. Enquanto a música do forró ecoava durante o Dia dos Pais, o ambiente traduzia o início de uma experiência coletiva em que a terceira idade é reconhecida, cuidada e valorizada.

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