Carnaval de microeventos de samba e blocos de rua deve mobilizar até 150 mil pessoas em Goiânia
20 dezembro 2025 às 11h00

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Sem grandes desfiles ou megapalcos, o Carnaval de Goiânia deve ganhar força em 2026 a partir de uma estratégia baseada em microeventos, blocos de rua e na ocupação cultural de bares, mercados e espaços públicos. A estimativa dos organizadores é que a programação reúna entre 120 mil e 150 mil pessoas ao longo de quatro noites, somando eventos espalhados por diferentes regiões da capital.
À frente do projeto Goiânia Tem Samba, o produtor cultural TH explica que a proposta é fortalecer a cena local de samba e pagode, ampliando oportunidades para artistas da cidade. “Goiânia não tem um grande evento de carnaval, mas tem vários microeventos. E, para a gente, isso é até mais importante, porque fomenta a cultura local. Um grande evento concentra recursos; os microeventos espalham trabalho”, afirma.
Segundo ele, a lógica é simples: mais palcos menores significam mais músicos contratados. “Se a gente tiver 25 ou 30 casas com eventos, são quatro noites de carnaval. Estamos falando de cerca de 80 shows, com mais de 300 músicos trabalhando. Isso movimenta a cadeia cultural de verdade”, diz.
A avaliação é compartilhada pela Liga dos Blocos de Carnaval de Rua de Goiânia, que prevê a atuação de cerca de 30 blocos durante o período carnavalesco. O representante da entidade, Victor Cadillac, destaca o crescimento do carnaval de rua na capital. “A Liga começou com seis blocos. Hoje são cerca de 30. Goiânia tem se destacado nacionalmente nesse movimento, que também cresce em cidades como Belo Horizonte”, afirma.
De acordo com Victor, a programação é majoritariamente gratuita e voltada à ocupação das ruas. “O carnaval de bar e de salão é importante, mas o carnaval de rua é fundamental para uma cidade como Goiânia. Ele resgata a ideia da festa popular, acessível e democrática”, diz.
Entre os exemplos citados está o Bloco do Mancha, que já chegou a reunir cerca de 30 mil pessoas em edições anteriores. Para o representante da Liga, isso demonstra uma mudança no comportamento do público. “Antes, muita gente deixava Goiânia no carnaval. Hoje, percebemos que cada vez mais pessoas ficam na cidade para acompanhar os blocos.”
A organização do carnaval envolve uma série de reuniões técnicas para definir trajetos, horários e logística. A Liga tem dialogado com a Prefeitura de Goiânia em busca de apoio estrutural. “Apresentamos pedidos de logística, segurança, limpeza, banheiros, apoio à saúde e estrutura de palco. A prefeitura tem demonstrado boa vontade”, afirma Victor, citando a secretária Sabrina Garcês como interlocutora do processo.
Além do Executivo municipal, os organizadores também articulam apoio político. “O deputado federal Rubens Otoni se colocou à disposição para destinar recursos via emendas e nos ajudou muito no diálogo com a prefeitura. Também fomos recebidos pelo presidente da Assembleia Legislativa, Bruno Peixoto, junto ao deputado Carlos Cabral”, relata.
Para TH, o reconhecimento institucional marca uma virada. “Esses eventos antes eram vistos como alternativos, fora das prioridades. Hoje, o carnaval entra no radar da política, e isso é um sinal muito positivo.”
Em termos territoriais, a estratégia busca convergir parte dos blocos na região central, facilitando logística e reduzindo impactos para a cidade, sem deixar de contemplar áreas periféricas. “A gente quer otimizar estrutura, limpeza e segurança, mas também temos blocos na região Noroeste, na região Leste. É importante deixar claro que o carnaval não fica restrito ao Centro”, ressalta Victor.
A preocupação com impactos urbanos e sociais também está no centro do planejamento. Os organizadores destacam ações de limpeza, controle de resíduos e campanhas de enfrentamento ao assédio. “O bloco Não É Não é um exemplo importante. Ele cria protocolos de prevenção à violência contra a mulher e incentivo à diversidade, e isso se reflete em toda a Liga”, afirma Victor. Alguns blocos contam, inclusive, com brigadas voluntárias para acolher vítimas de assédio durante os eventos.
Para os articuladores do carnaval goianiense, o legado buscado vai além da festa. “A gente quer um carnaval limpo, sem violência, sem assédio, com diversidade e respeito à comunidade. Mas, sobretudo, queremos mostrar que Goiânia pode ser uma potência do carnaval de rua no Brasil”, resume Victor.
TH reforça que o modelo descentralizado é o caminho. “Talvez Goiânia nunca tenha um carnaval gigantesco como outras capitais. Mas pode ter um carnaval forte, vivo, que gere trabalho, cultura e identidade. E isso começa com os microeventos”, completou.
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