O câncer de pele consolida-se, ano após ano, como o tipo de tumor mais frequente no Brasil, representando aproximadamente um terço de todos os diagnósticos oncológicos no país. Em meio à campanha Dezembro Laranja, que busca alertar a população sobre prevenção e diagnóstico precoce, o Jornal Opção entrevistou o cirurgião oncológico Sormany Cordeiro, chefe do Serviço de Melanoma e Pele do Hospital Araújo Jorge. 

O especialista desmistificou a doença, expôs os perigos da exposição solar desprotegida e detalhou os avanços no tratamento, incluindo um mutirão de cirurgias agendado para este sábado, 13.

Segundo o médico, os números são preocupantes. “É importante a gente ressaltar que o câncer de pele representa 32% de todos os cânceres, então acaba sendo o câncer mais diagnosticado”, afirma. Em outras palavras, de cada 100 pacientes com câncer no Brasil, cerca de 32 têm a doença originada na pele.

Dr. Sormany Cordeiro | Foto: DCM/ Araújo Jorge

Os três tipos da doença: do mais comum ao mais letal

O médico detalhou que, dentro do espectro ‘câncer de pele’, existem três tipos principais. O carcinoma basocelular é o mais comum, respondendo por cerca de 80% a 85% dos casos atendidos no Araújo Jorge. “É o mais frequente, porém é o menos agressivo, tem o melhor prognóstico. A maioria dos pacientes são curados com o tratamento cirúrgico”, explica.

Em segundo lugar vem o carcinoma espinocelular. Já em uma proporção menor, porém crítica, está o melanoma. “Em torno de 5% [são melanoma]. Porém, o melanoma é o que tem um potencial de maior agressividade, que pode, inclusive, ocorrer disseminação no corpo e levar o paciente ao óbito. Então, é importante ressaltar”, alerta o cirurgião.

Como identificar o câncer de pele? 

“Normalmente é um ferimento na pele que não cicatriza. Passa ali 30, 60, 90 dias e aquele ferimento persiste”, destaca o Dr. Sormany Cordeiro. Alternativamente, a lesão pode se apresentar como um nódulo ou “carocinho” que se desenvolve, lenta ou rapidamente.

Além disso, o especialista enfatiza que sintomas como coceira, ardor ou sangramento podem estar presentes, mas há uma armadilha perigosa. “Tem situações que o paciente também não sente nada. Esse é o grande perigo, que, às vezes, a pessoa tem uma lesão que está crescendo e, ela não sentindo nada, acaba não procurando uma orientação médica.”

Sua recomendação é se atentar a mudanças no próprio corpo. “Surgiu algo de novo na pele que não regride, que não desaparece, tem que procurar orientação médica.”

O que causa o câncer de pele?

Ao analisar os fatores que predispõem à doença, o médico lista: pele clara, idade acima dos 40 anos e, sobretudo, a exposição solar. “O principal é a exposição solar, que acontece na infância e adolescência, para a população geral”, afirma.

Consequentemente, profissionais que trabalham ao ar livre, como agricultores, pecuaristas, garis e trabalhadores da construção civil, formam um grupo de risco elevado.

No entanto, ele faz um alerta para quem acredita estar seguro por trabalhar em ambientes fechados atualmente. “Para quem trabalha em ambiente fechado, é o sol do passado… Às vezes, é uma mulher que bronzeou muito, que tinha esse hábito na infância e adolescência. Isso vai aumentar a possibilidade a partir dos 40, 50 anos.”

Portanto, o efeito da radiação ultravioleta é cumulativo ao longo da vida. “E quanto mais se vive nessas condições, de passado de sol ou que continua no sol, maior a possibilidade de ter o câncer de pele.”

Como se proteger? 

Diante do risco, a prevenção é a aliada mais poderosa. Sormany Cordeiro define a estratégia como “fotoproteção”, que é “o conjunto de medidas que a gente utiliza para evitar que os raios solares prejudiquem a nossa pele”.

Primeiramente, o uso do protetor solar é fundamental, com fator de proteção (FPS) mínimo de 30. “Acima de 30 é o ideal”, reforça.

Ademais, a reaplicação é não negociável. “Porque às vezes a pessoa passa de manhã e não reaplica. Então, lembrar que precisa ser reaplicado, duas ou três vezes durante o dia.” A frequência, na verdade, varia conforme a exposição: a cada duas horas para atividades intensas (praia, piscina) e a cada quatro horas para o dia a dia comum.

Igualmente importante é o horário da aplicação. “O protetor solar, para ele agir, ele precisa ser aplicado antes da exposição solar… O recomendado é que seja de 15 a 30 minutos antes de sair.”

Complementarmente, outras medidas formam um escudo eficaz: uso de chapéu, roupas com proteção ultravioleta, óculos escuros e, sobretudo, evitar a exposição direta nos horários de pico. “Lembrar que das 10h às 15h é a hora que o sol está mais produzindo esse raio solar prejudicial”, alerta.

Até breves exposições se somam. “Isso vai se repetir ao longo de anos. Soma minutos de hoje com os de amanhã, ao longo da vida, vai acrescentando um valor negativo.”

Um ponto esclarecido pelo especialista diz respeito aos riscos de fontes de luz artificiais. “As telas, as iluminações artificiais não têm a radiação ultravioleta, que é a que está relacionada ao câncer de pele”, afirma.

Ou seja, luzes de computadores e lâmpadas comuns não elevam o risco da doença, podendo, no máximo, causar manchas em peles mais sensíveis. “O grande risco mesmo é a exposição solar.”

Aumento de casos de câncer de pele

O Hospital Araújo Jorge, referência no tratamento oncológico, tem observado de perto a escalada da doença. “Existe, sim, um aumento dos casos, e isso até os dados do Instituto Nacional do Câncer tem constatado. Existe um aumento significativo e mundial, o câncer de pele tem uma incidência bastante significativa”, confirma o médico.

Anualmente, o serviço comandado pelo médico realiza cerca de 10 mil atendimentos relacionados ao câncer de pele, incluindo consultas, acompanhamentos e tratamentos. Desse total, aproximadamente 1.500 pacientes são submetidos a cirurgias pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a cada ano. “É um fluxo muito grande de pacientes aqui”, resume.

A importância do acompanhamento pós-tratamento

Um aspecto destacado por Sormany Cordeiro é a necessidade de vigilância contínua após o tratamento. “Quem já teve um câncer de pele tem chance de ter um segundo”, alerta.

No caso específico do carcinoma basocelular, essa chance pode ser até 30% maior. “Por isso é importante a gente acompanhar, seja, trimestralmente, a cada seis meses ou anualmente.”

Durante esse acompanhamento, os médicos examinam toda a pele do paciente. “A possibilidade de voltar [no mesmo local] é pequena, o mais importante é detectar um novo câncer de pele”, explica. 

Mutirão de Cirurgias

Para enfrentar a demanda reprimida e oferecer tratamento ágil, o Hospital Araújo Jorge realizará, neste sábado, 13, mais uma edição do seu mutirão de cirurgias para câncer de pele. A ação, que integra as atividades do Dezembro Laranja, contará com mais de 70 profissionais de uma equipe multidisciplinar, incluindo médicos, anestesistas, residentes e enfermeiros.

O objetivo é operar 25 pacientes do SUS em um único dia. “O mutirão é para acelerar esse processo desses pacientes que estão aguardando a cirurgia”, explica. Os casos selecionados são de média e pequena complexidade, o que permite um fluxo eficiente no centro cirúrgico e alta hospitalar rápida, geralmente em 24 horas. “Para justamente proporcionar que esses pacientes, no final do ano, antes das festas, sejam operados.”

O perfil predominante dos pacientes é de idosos, faixa etária mais atingida pela doença. “A grande maioria é em torno dos 65 até 85 anos”, comenta o médico. A recuperação pós-cirúrgica costuma ser rápida. “Em torno de 10 a 15 dias para uma pessoa que cuida de casa ou serviços mais tranquilos. Mas na segunda-feira está todo mundo liberado.”

Além disso, o primeiro retorno ao hospital ocorre em um intervalo relativamente curto. “Ele volta para ver o resultado da biópsia em torno de 20 a 30 dias”, detalha. Esse passo é fundamental, pois o laudo anatomopatológico definirá a classificação de risco do tumor e, consequentemente, o cronograma de acompanhamentos futuros, se anual, semestral ou trimestral. 

Paralelamente, a retirada dos pontos é organizada para evitar transtornos. “Os pontos a gente orienta retirar numa unidade pública próxima de casa, porque, como a gente tem muito paciente do interior, ele vir aqui em Goiânia só para retirar os pontos não é necessário”, afirma o cirurgião.

Embora 25 cirurgias possam parecer um número modesto frente à demanda anual, o impacto é significativo na vida de cada paciente e na dinâmica do serviço. “Isso é uma constância”, ressalta o chefe do serviço, lembrando que esta é a quarta edição do mutirão somente neste ano.

“Nós já tivemos uma fila enorme aqui, quilométrica. Hoje em dia, isso acabou, justamente porque constantemente nós fazemos esses mutirões.”

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