Cancelar coletiva em Davos pode ser “sintoma de aversão a princípios constitucionalistas”
23 janeiro 2019 às 17h44

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Para cientista político, decisão de Bolsonaro em não atender jornalistas, de última hora, no Fórum Econômico Global não será bem vista entre participantes do evento

A decisão do presidente Jair Bolsonaro (PSL) em cancelar a coletiva de impressa nesta quarta-feira, 23, em Davos, na Suíça, não deve ser bem vista entre os agentes de mercado ao redor do mundo. Em análise feita para o Jornal Opção, o cientista político Francisco Tavares diz que atitude de Bolsonaro “deslocou o Presidente do rol de práticas próprias ao regime liberal, que é um valor e um consenso entre os participantes do fórum”.
Sobre a participação na abertura do evento ontem, 22, o cientista ressaltou riscos de alguns pontos na fala do presidente brasileiro. Ele diz que o discurso foi “abstrato, sem nenhum detalhamento das medidas que pretende implementar, expressado em tom claudicante e marcado por trechos que insinuam adesão a pautas ideológicas e semeadoras de instabilidade”.
“O Presidente colheu duras críticas junto à imprensa internacional (em veículos como The Guardian e NYT), além de ter ido objeto de falas desfavoráveis emanadas de um prêmio Nobel de economia, Robert Shiller. Neste contexto, o Ibovespa caiu e o dólar subiu. Não foi um ingresso positivo na cena internacional.”
Ainda na análise de Francisco Tavares, “governantes que não falam com jornalistas e que criticam a imprensa desmedidamente são associados a valores antipódicos [contrários] em relação à cultura liberal”, modelo econômico defendido pela nova equipe de governo.
Sobre qual teria sido o motivador real do cancelamento da coletiva, Francisco diz que Jair Bolsonaro tem dificuldades em lidar com a impressa crítica e inquisitiva, mas diz que “o jornalismo contestador e investigativo define-se, desde o final do Século XIX, como um elemento necessário e inseparável das democracias liberais”.