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Chamada de Pedro Nascimento, a ocupação que estava em um prédio abandonado há mais de sete anos na rua R-38, no Setor Oeste, questionava a comemoração do feriado de sete de setembro. “Não há independência nem soberania, sem direito à moradia”, diziam. A ação em Goiânia era uma das 18 ocupações por 15 estados diferentes do Brasil, organizada pelo MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas).

Cerca de 20 famílias participaram, grande parte residente da Ocupação São Marcos. Essas famílias “estão sendo frequentemente assediadas, ameaçadas com questão de despejo, com insegurança acerca da sua moradia”, disse uma pessoa ligada ao Unidade Popular (UP), que preferiu não ser identificada. Por isso, essa manifestação pedia pela regularização dessas famílias e denunciava o déficit habitacional nacional.

Por conta do Dia da Independência, a ocupação aconteceu na madrugada do dia 7, até cerca de 11 horas da manhã, quando a polícia interviu. O local é privado, e os donos do imóvel afirmaram que o edifício não está abandonado, mas era alugado para a Universidade Estadual de Goiás (UEG) e atualmente está em fase de preparação para receber uma torre residencial. 

Resposta policial e lideranças presas

Segundo a pessoa ligada ao UP, a ação policial foi desproporcional. Ao Jornal Opção, ele contou que a mesa de negociação foi, ao mesmo tempo, proposta e desrespeitada pela polícia. Ele relatou que compareceram ao local: Tropa de Choque, viaturas do Batalhão Especializado de Policiamento em Eventos (Bepe), Batalhão do Giro, Caminhão de Bombeiro e um helicóptero da Polícia Militar. 

“Um aparato militar assustador […] Aquela ocupação era de pessoas pobres, carentes, que estavam lutando por moradia, por um teto na cabeça. Aquelas pessoas não tinham nenhuma capacidade ou vontade de retribuir com agressividade. Era uma ocupação pacífica, desarmada, não tinha nenhum tipo de material ali dentro que pudesse oferecer um risco para a polícia a ponto de mandar o choque com bala de borracha, spray de pimenta, mandar o giro com armas grandes”, disse ele.

Contou ainda que a desocupação aconteceu durante a reunião de negociação, por isso, as lideranças não estavam no prédio com as famílias. Quando eles retornaram, foram presos: Guilherme Darques, coordenador do MLB, o Gabryel Henrici, presidente da Unidade Popular em Goiás, e Guilherme Martins, militante da UP. Dois assinaram TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência) e outro precisou pagar fiança.

Ainda disse que não havia ordem judicial para o despejo forçado. As famílias foram colocadas em um ônibus e levadas de volta à ocupação São Marcos. Antes, esse ônibus foi conduzido de forma desnecessária, para amedrontar as famílias, para a Central de Flagrantes, sendo que nenhuma das famílias passaria por lá. Eles literalmente só levaram o ônibus para lá para amedrontar as famílias mesmo, para constranger”, disse.

“Graças ao apoio popular, a demonstração de solidariedade das pessoas, a rede de pessoas que a ocupação pelo nascimento mobilizou, as entidades de representação (estudantis e parlamentares) foram um fator fundamental para a gente garantir a soltura de todos esses companheiros que foram presos lutando pelo que há de melhor nesse mundo: a dignidade humana. É o direito à moradia digna, ao teto sobre a sua cabeça, a saber que terá um lugar para dormir, se proteger, criar seus filhos”, disse.

Ocupação Pedro Nascimento

O nome da ocupação homenageia Pedro Nascimento, militante morto a tiros durante a ocupação Sonho Real, que reunia 3 mil famílias que lutavam pelo direito à moradia no Parque Oeste Industrial. “Enquanto elas assinavam bandeiras brancas pedindo paz, Pedro Nascimento foi morto, assassinado com um tiro pelas costas e não foi prestado nenhum tipo de socorro”, disse.

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