Após um breve impasse entre Israel e o grupo palestino Hamas, caminhões de ajuda humanitária voltaram a cruzar, nesta quarta-feira, 15, a passagem de Rafah, no sul da Faixa de Gaza. Ao todo, 600 veículos transportando alimentos, combustível, medicamentos e outros insumos essenciais começaram a entrar no enclave, em um esforço para amenizar a grave crise humanitária vivida pela população local.

Uma autoridade israelense confirmou à agência Reuters que “a ajuda humanitária continua a entrar na Faixa de Gaza através da passagem de Kerem Shalom e outras rotas, após inspeção de segurança israelense”.

Na véspera, o governo de Israel havia informado à ONU que manteria a passagem de Rafah fechada, alegando descumprimento do acordo sobre a devolução dos corpos de reféns por parte do Hamas. Tel Aviv acusava o grupo militante de retardar a entrega dos restos mortais de cidadãos israelenses.

Além do bloqueio temporário, o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu havia anunciado que apenas 300 caminhões seriam autorizados a entrar em Gaza — metade do volume previamente acordado. A liberação completa só ocorreu depois que o Hamas entregou mais quatro corpos na noite de terça-feira, 14, embora autoridades israelenses afirmem que um deles não corresponde a nenhum refém identificado.

Segundo a emissora pública israelense Kan, os caminhões que atravessaram nesta quarta transportam alimentos, gás de cozinha, combustível e materiais médicos, além de equipamentos destinados à reconstrução da infraestrutura da região. A passagem também foi aberta para permitir a entrada e saída de palestinos.

A operação de Rafah ficará sob responsabilidade da Autoridade Palestina, que administra a Cisjordânia. A travessia, considerada vital para o abastecimento do enclave, permaneceu fechada por Israel em 2007, quando o Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza. Posteriormente, Tel Aviv firmou um acordo com o Egito para permitir um fluxo limitado de pessoas e mercadorias.

Devastada por anos de guerra, Gaza enfrenta um cenário de colapso humanitário. Milhares de famílias foram deslocadas, e a escassez de alimentos, água e medicamentos agrava a situação. “Nossa realidade é absolutamente trágica. Voltamos para o bairro de al-Tuffah e não há mais casas, nem abrigo, nada”, relatou à Reuters Moemen Hassanein, morador da Cidade de Gaza.

O episódio envolvendo os corpos dos reféns põe em evidência a instabilidade do cessar-fogo articulado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Embora o acordo tenha interrompido dois anos de conflito e garantido o retorno de todos os israelenses vivos ainda sob poder do Hamas, pontos cruciais permanecem indefinidos, como a governabilidade de Gaza e os avanços em direção à criação de um Estado Palestino.

A exigência de que o Hamas se desarme e entregue o controle da região continua sem perspectiva concreta. O grupo, que libertou os últimos 20 reféns israelenses na segunda-feira, 13, executou 33 pessoas no mesmo dia, alegando que pertenciam a uma “gangue” local.

Trump endossou a ação e reforçou que o Hamas, responsável pela administração inicial do território durante a transição, será alvo de ataques caso não cumpra o compromisso de desarmamento previsto no acordo de paz.

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