Burocracia em passe livre para usuários da rede de saúde psicossocial compromete tratamento de pacientes

02 agosto 2025 às 12h30

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As exigências para obtenção de passe livre cobradas a pacientes e usuários da rede de saúde mental de Goiânia compromete parte do tratamento de pacientes mais vulneráveis. O direito à mobilidade gratuita não é mero detalhe, mas um aspecto fundamental para a melhora na qualidade de vida da população. Segundo relatos colhidos durante a produção de reportagem sobre a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), uma das preocupações é que “muitos não têm renda e dependem da carteirinha”.
Isso ocorre principalmente nas unidades de convivência pois, muitas vezes, os associados e pacientes da rede já não estão em frequência regular de crises. Ao exigir comprovações rígidas, como laudos atualizados, frequência regular nas unidades e até a recorrência de crises, o sistema premia o agravamento da condição psíquica e penaliza quem está em recuperação.
A lógica aplicada ignora que muitas pessoas em sofrimento mental não têm outra fonte de renda, não recebem benefícios previdenciários e dependem da carteirinha para continuar frequentando os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), manter vínculos e romper ciclos de isolamento. Quando o passe expira ou é cortado, o que se perde não é só o deslocamento — perde-se o acesso ao cuidado, à convivência e à dignidade.
A gerente da unidade CAPS III Novo Mundo, Consuelo Guilardi, afirmou em entrevista ao Jornal Opção publicada em 26 de julho, que os Caps contam com residência terapêutica. A residência terapêutica associada ao CAPS permite que alguns usuários morem no local por tempo indeterminado, com supervisão contínua, como parte do processo de transição para a vida autônoma. A proposta só terá sucesso, entretanto, se for garantido o direito à mobilidade. Caso contrário, a residência se torna um local de isolamento. “A residência não é para isolar. Eles precisam vivenciar outros espaços, frequentar clubes, ir ao cinema, ao museu. Isso contribui muito para o tratamento”, afirmou Consuelo Guilardi.