Brasileiro que criou Aedes aegypti que não transmite dengue entra na lista das 10 pessoas que mudaram a ciência em 2025
08 dezembro 2025 às 15h52

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O pesquisador Luciano Moreira foi reconhecido como uma das dez pessoas que mudaram a ciência em 2025, de acordo com publicação da revista Nature, considerada uma das mais influentes do mundo na área da ciência nesta segunda-feira, 8. Ele lidera uma iniciativa que já vem reduzindo doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como dengue, zika e chikungunya.
Ao longo de 17 anos de pesquisa, ele descobriu como criar uma versão do mosquito “turbinada” com uma bactéria chamada Wolbachia (que é a mesma que habitada naquela mosquinha da banana, por exemplo). Com ela, o vírus não consegue se proliferar no mosquito, o que o deixa quase inofensivo para os humanos.
A inclusão de Moreira na lista da Nature coloca seu trabalho ao lado de descobertas que marcaram o ano, como o tratamento capaz de reescrever o DNA de um bebê e curá-lo de uma doença genética, liderado pela pesquisadora Sarah Tabrizi, e o desenvolvimento da maior câmera astronômica do mundo, coordenado por Tony Tyson, no Observatório do Chile.
“Eu fiquei muito emocionado, quase não acreditei. Acho muito importante, no Brasil, a gente conseguir fazer pesquisas de ponta. E o que mais me dá satisfação é ver que estamos conseguindo reduzir o sofrimento e as mortes no país. Estamos mostrando como a ciência consegue ajudar tantas pessoas”, afirmou.
Os mosquitos criados por Luciano Moreira já estão em 16 cidades diferentes, e pesquisas recentes apontam uma redução de até 89% dos casos de dengue nessas localidades.
Como tudo começou
Luciano afirma que a paixão por entender os insetos veio de criança. Essa curiosidade fez com que ele fosse ao laboratório de pesquisa para responder o seguinte questionamento: como acabar os mosquitos da dengue sem exterminar a espécie? O objetivo era ajudar as pessoas, mas sem causar impacto ambiental.
Segundo Luciano, a estratégia usa a Wolbachia, encontrada naturalmente em diversas espécies de insetos. No laboratório, a equipe introduz a bactéria nos ovos do Aedes aegypti e ela passa a viver dentro das células do mosquitos. O vírus não consegue se replicar adequadamente, o que para a transmissão de dengue ou zika. Com isso, o mosquito continua vivendo normalmente, mas se torna quase incapaz de transmitir a doença.
Há outro ponto: toda fêmea infectada com a bactéria acaba a repassando aos ovos. Assim, cada nova geração de mosquitos já nasce protegida, reduzindo a circulação do vírus. Hoje, Luciano é responsável pela maior fábrica de mosquitos do mundo, que fica em Curitiba. O complexo produz milhões de mosquitos “turbinados” que são distribuídos em cidades pela país.
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